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Matérias / O Terminal

O refugiado por trás da história real que inspirou sucesso com Tom Hanks

Por quase duas décadas, Mehran Karimi Nasseri viveu no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, inspirando o filme 'O Terminal'

Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Éric Moreira Publicado em 12/01/2025, às 13h00

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História de refugiado inspirou 'O Terminal' - Reprodução
História de refugiado inspirou 'O Terminal' - Reprodução

Por quase duas décadas, Mehran Karimi Nasseri viveu no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Um refugiado iraniano sem documentação adequada, Nasseri foi preso em um limbo jurídico após afirmar que seus documentos foram roubados na capital francesa.

Sem alternativas, ele transformou o terminal em sua casa a partir de 1988, permanecendo ali por 18 anos.

Apelidado de "Lord Alfred" ou "Sir Alfred" pela equipe do aeroporto, devido a um erro de imigração por oficiais britânicos, Nasseri tornou-se uma figura conhecida no local. Sua história chamou a atenção mundial e culminou no filme O Terminal (2004), dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Tom Hanks.

Tom Hanks em 'O Terminal'

No entanto, a situação real de Nasseri foi bem mais complexa e prolongada do que a de Viktor Navorski, protagonista do longa.

A vida antes do aeroporto

Nascido em 1945, em Masjid-i-Sulaiman, Irã, os detalhes sobre a infância de Nasseri permanecem confusos, devido às diversas versões que ele contou. Em uma dessas versões, ele afirmou que sua mãe era inglesa ou sueca, mas investigações jornalísticas descobriram que ele teve uma infância tranquila em Teerã.

Nasseri lendo jornal em terminal do aeroporto - reprodução

Nos anos 1970, após estudar economia na Inglaterra, Nasserivoltou ao Irã. Ele alegou que foi exilado por participar de protestos contra o Xá, mas não há provas de prisão ou tortura. Em 1981, ele recebeu status de refugiado na Bélgica, o que lhe permitiu viajar por vários países da Europa até o final daquela década.

Preso no Charles de Gaulle

Em 1988, Nasseri alegou que teve seus documentos de refugiado e passaportes roubados em Paris. Sem a documentação, foi impedido de entrar no Reino Unido e deportado de volta para a França. Assim começou sua vida no Terminal Um do Aeroporto Charles de Gaulle.

Embora estivesse em situação irregular na França, ele não poderia ser deportado, pois nenhum país o reconhecia. Assim, Nasseri adaptou-se ao local: limpou-se no banheiro do aeroporto, lavou roupas, leu jornais e escreveu um diário que chegou a 1.000 páginas. Ele fazia refeições no McDonald's e recebia doações de funcionários do aeroporto, que também ajudavam com itens de higiene e comida.

Celebridade involuntária

Com o passar dos anos, Nasseri tornou-se famoso. Três documentários foram feitos sobre sua vida, e em 2003, Steven Spielberg comprou os direitos de sua história. Apesar da atenção, Nasseri parecia relutante em deixar o aeroporto, mesmo quando teve a oportunidade.

Em 1999, os franceses ofereceram-lhe documentos que lhe permitiriam partir, mas ele recusou a oferta, alegando que não queria ser identificado como iraniano ou perder o nome "Sir Alfred".

Banco de Nasseri no Terminal Um - Wikimedia Commons

Um médico do aeroporto observou que Nasseri parecia ter se "fossilizado" em sua rotina no terminal, temendo deixar o que definiu como seu "mundo bolha".

Em 2006, Nasseri foi hospitalizado por motivos de saúde e, posteriormente, aproveitou os ganhos da venda de sua história para viver em um albergue. Contudo, ele nunca esqueceu o tempo que passou no aeroporto.

Nos seus últimos anos, Nasseri retornou ao Charles de Gaulle. Em 12 de novembro de 2022, ele faleceu de um ataque cardíaco no Terminal 2F, encerrando a trajetória de um homem cuja vida desafiou fronteiras e convenções.

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