Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Nazismo

Paixão por Hitler: os membros da realeza que se aproximaram do nazismo

Durante as décadas de 1930 e 1940, muitos membros da realeza enxergaram no nazismo uma forma de reconquistar sua relevância

Redação Publicado em 12/01/2025, às 20h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
O duque e a duquesa de Windsor encontram Adolf Hitler - Wikimedia Commons/Bundesarchiv
O duque e a duquesa de Windsor encontram Adolf Hitler - Wikimedia Commons/Bundesarchiv

Em 22 de outubro de 1937, o mundo observou um encontro inesperado. O duque de Windsor, outrora rei Edward VIII do Reino Unido, que havia abdicado do trono menos de um ano antes, reuniu-se com Adolf Hitler em seu refúgio nos Alpes da Baviera.

Durante a visita, descrita como "franca e amigável", o duque demonstrou um charme que fascinava muitos, inclusive o líder nazista. Após a reunião, Hitler, Edward e a esposa do britânico, Wallis Simpson, tomaram chá e se despediram em clima amigável, com direito a saudações nazistas mútuas.

O duque deixou a Alemanha profundamente impressionado. Ele chegou a exaltar o que via como um "milagre" liderado por Hitler, evidenciando a admiração que nutria pelo regime nazista.

Para Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, a visita foi lamentável apenas porque Edward não era mais rei; ele acreditava que, com o duque no poder, uma aliança entre Reino Unido e Alemanha seria possível.

Edward e Wallis, no entanto, não estavam sozinhos nessa admiração pelo ditador. De acordo com a Vanity Fair, durante as décadas de 1930 e 1940, várias casas reais e aristocráticas, desorientadas após as mudanças sociais trazidas pela Primeira Guerra Mundial, buscaram nos nazistas uma forma de reconquistar relevância.

A realeza e o nazismo

Entre as casas reais envolvidas, destacam-se os Hohenzollern, outrora imperadores da Alemanha. Alguns de seus membros, como o príncipe Augusto Guilherme, aderiram ao Partido Nazista e alcançaram posições de destaque, mesmo contra a vontade de seu pai, o ex-imperador Guilherme II. Apesar disso, o ex-imperador também aceitou recompensas financeiras do estado alemão e não moveu esforços para impedir a ascensão de Hitler.

O ex-príncipe herdeiro Wilhelm com Hitler / Crédito: Divulgação/Bundesarchiv

Outros nobres menores, como o príncipe herdeiro Ernst de Lippe, se tornaram figuras influentes dentro do movimento, atraídos por promessas de ordem e restauração de valores tradicionais. Jonathan Petropoulos estima em "Royals and the Reich: The Princes von Hessen in Nazi Germany" que cerca de 270 membros das casas principescas alemãs tenham se juntado ao Partido Nazista.

Mas a relação entre a aristocracia e o nazismo não se limitava à Alemanha. Em toda a Europa, famílias reais e nobres viam no fascismo uma barreira ao comunismo e uma forma de preservar privilégios. Até os bisnetos da rainha Vitória, os irmãos Filipe, Christoph, Wolfgang e Richard Hesse fizeram parte.

Outros casos notórios incluem o duque Carl Eduard de Saxe-Coburgo-Gota, um eugenista a serviço ao Reich que desfrutava de uma estreita amizade com Hitler e Mussolini.

"[A] importância que Carl Eduard teve para o regime de Hitler era evidente no luxo de apartamentos condizentes com sua posição e nas comodidades de uma grande frota de veículos, ajudantes, administradores e servos diligentes, bem como moeda estrangeira abundante", escreveu o historiador Hubertus Büschel, segundo a Vanity Fair.

Como observa Petropoulos, "os príncipes foram cooptados pelos líderes nazistas e se juntaram a essa nova 'alta sociedade': uma amálgama da elite tradicional e dos novos homens". Ele destaca que essa cena glamourosa ajudou a fornecer a "bela face do Terceiro Reich".

Edward VIII inspecionando as tropas da SS em Ordensburg Krössinsee / Crédito: Wikimedia Commons / Bundesarchiv

Também é importante destacar as mulheres aristocráticas que se tornaram defensoras do regime. Elsa Bruckmann (nascida princesa Cantacuzène da Romênia), assim como outras aristocratas, viam Hitler como seu "protegido", encorajando-o a investir em roupas caras e a cuidar de sua aparência.

Petropoulos aponta que esse foco no superficial criado pelos nazistas significava que muitos membros da realeza que apoiavam Hitler na verdade sabiam muito pouco sobre suas crenças ou fechavam os olhos para as atrocidades do regime. O historiador inclusive observa que, durante seu julgamento após a guerra, o príncipe Filipe de Hesse declarou nunca ter lido o manifesto de Hitler, Mein Kampf.

Em meados da década de 1930, o fascismo já estava tão normalizado na Inglaterra que era celebrado abertamente e fazia parte da cultura popular. No ano de 2015, o portal The Sun publicou um vídeo do então príncipe de Gales, Edward VIII, incentivando suas sobrinhas, a princesa Elizabeth e a princesa Margaret, a fazerem uma saudação nazista.

Consequências

A colaboração real com o nazismo teve consequências. Alguns, como o príncipe Christoph de Hesse, membro da SS, e sua esposa, a princesa Sofia, reconheceram tarde demais os crimes do regime. Após o fracasso do atentado contra Hitler em julho de 1944, muitos nobres, suspeitos de terem participado do complô, foram presos ou enviados a campos de concentração, incluindo a princesa antinazista Antonia de Luxemburgo e seus filhos.

Filipe de Hesse acabou sendo levado para o campo de concentração de Flossenbürg depois de ser preso, em suas palavras, "por causa da suspeita da cooperação da família real italiana com a derrubada de Mussolini". Sua esposa, a princesa Mafalda, filha do rei Victor Emmanuel III da Itália, morreu após ser gravemente ferida em Buchenwald.

Com o fim da guerra, muitos membros da realeza que se aliaram a Hitler foram presos e julgados pelos Aliados.

+ Leia também:Pato Donald nazista? Como Walt Disney ridicularizou Hitler e ganhou Oscar