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Matérias / Brasil

O Cemitério dos Mortos-Vivos: Conheça os quadrinhos que "enterravam" figuras durante a ditadura

A série foi publicada pelo jornal alternativo O Pasquim, e usava humor ácido para provocar reflexões sobre o regime militar brasileiro

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 24/03/2021, às 17h41

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Fotografia de Henfil, cartunista por trás do "Cemitério dos Mortos-Vivos" (esq) e de uma capa do Pasquim (dir) - Divulgação / Editora Boitempo
Fotografia de Henfil, cartunista por trás do "Cemitério dos Mortos-Vivos" (esq) e de uma capa do Pasquim (dir) - Divulgação / Editora Boitempo

O Pasquim foi um jornal que ficou marcado por sua linguagem criativa e irreverente em meio ao cenário opressor da ditadura militar brasileira. Entre as muitas mentes sem rédeas do veículo estava o cartunista Henrique de Sousa Filho, que era mais conhecido pelo seu apelido de Henfil

O artista frequentemente usava a comédia como uma ferramenta política, usando por exemplo, o embate entre pensamentos conservadores e liberais como tema por trás dos personagens Cumprido e Baixinho, que personificavam essas ideias divergentes. 

Outra icônica criação de Henfil foi o famoso “Cemitério dos Mortos-Vivos”, em que ele enterrava alegoricamente as figuras brasileiras que considerava estarem do lado errado da história: isto é, aqueles que defendiam o regime ativamente, aqueles que simpatizavam, e também aqueles que até podiam discordar mas preferiam manter-se calados frente aos crimes dos militares

Um dos cartuns de Henfil em que ele faz uma crítica à justiça, representando através de imagens que era preferível que ela usasse "mais a balança e menos a espada", segundo explicado pela página oficial em homenagem a Henfil no Facebook / Crédito: Divulgação/ Facebook 

Sem medo de condenar nomes grandes ao seu cemitério de tinta e papel, o cartunista usou sua arte para falar contra muitos. Alguns exemplos são a apresentadora Hebe Camargo, a atriz Bibi Ferreira, o sociólogo Gilberto Freyre, o escritor Nelson Rodrigues, o técnico de futebol Zagalo e até uma das maiores lendas do aclamado esporte, Pelé

Contudo, um dos casos mais famosos envolve a icônica Elis Regina. Isso porque em 1972 a cantora, pressionada por militares, acabou fazendo um show para militares durante as Olimpíadas do Exército. Foi suficiente para a artista ser alvo de criticas e parar no famoso cemitério de Henfil.

“Enterro” polêmico

Nem sempre os leitores do Pasquim concordaram com as decisões de Henfil, todavia. Certa vez, por exemplo, o cartunista decidiu enterrar a talentosa escritora Clarice Lispector, o que gerou uma repercussão negativa. Em resposta às críticas, o artista contou para “O Jornal” em 1973 o que estava por trás de sua sentença: 

“Eu a coloquei no Cemitério dos Mortos-Vivos porque ela se coloca dentro de uma redoma de Pequeno Príncipe, para ficar num mundo de flores e de passarinhos, enquanto Cristo está sendo pregado na cruz. Num momento como o de hoje, só tenho uma palavra a dizer de uma pessoa que continua falando de flores: é alienada. Não quero com isso tomar uma atitude fascista de dizer que ela não pode escrever o que quiser, exercer a arte pela arte. Mas apenas me reservo o direito de criticar uma pessoa que, com o recurso que tem, a sensibilidade enorme que tem, se coloca dentro de uma redoma”, explicou Henfil no trecho que foi repercutido pelo site da Biblioteca Nacional. 

Fotografia de Clarice Lispector / Crédito: Wikimedia Commons

As razões por trás da arte 

Conforme documentado no site da Biblioteca Nacional, através da biografia O rebelde do traço: A vida de Henfil, de Dênis de Morais, o jornalista Zuenir Ventura comentou que: “Henfil tinha razão ao achar que vivíamos um período em que não dava para você ficar em cima ou atrás do muro. Era importante, no processo de reconquista da democracia, a mobilização da sociedade civil e da intelectualidade. Henfil sabia que era indispensável ter todo mundo que se opunha à ditadura dentro de um mesmo saudável saco-de-gatos”.

Henfil morreu em 1988, levado pela AIDS, que teria contraído após uma transfusão de sangue com agulhas infectadas. O Pasquim acabou pouco depois, em 1991.


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