No país que mandava gays e travestis para campos de concentração, o hábito era comum. Entenda
Após anos colecionando fotos registradas por pessoas comuns na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, o artista Martin Dammann começou a reparar que havia uma quantidade enorme de registros de homens, geralmente soldados nazistas, vestidos como mulheres. "Se as imagens não existissem, você não acreditaria", ele declarou à revista alemã Der Spiegel. Dammann reuniu essas fotos num livro chamado Soldier Studies (em inglês mesmo).
O catálogo reúne, principalmente, imagens de soldados realizando apresentações teatrais, dentro de quarteis ou mesmo ao ar livre, no front. Para suprir a falta de mulheres, os papeis femininos eram interpretados por homens vestidos a caráter. Isso tudo num país que mandava gays e travestis para campos de concentração.
Uma das vítimas mais famosas foi Ernst Röhmum, um dos mais importantes aliados de Hitler, gay assumido, assassinado durante o episódio da Noite das Facas Longas, em 1934. O regime nazista também silenciou os bares e cabarés de Berlim, que na década de 1930 era uma das cidades mais liberais do mundo em termos de costumes sexuais.
A produção das roupas e da maquiagem era cuidadosa: os homens aparecem usando calcinhas, sutiãs, saias, sapatos, perucas e maquiagem. Em geral, eles tomavam as peças das casas das cidades que invadiam. Historiadores afirmam que isso era consideravelmente comum nos exércitos, não só alemão, como no inglês e no estadunidense também.
Em uma das imagens disponíveis no livro, um soldado usando um vestido na frente de um tanque de guerra. "Suponho que esses atores poderiam ser tanto homossexuais quanto heterossexuais", declarou o artista.
O cross-dressing (hábito masculino de usar roupas de mulheres) era comum dos dois lados do front. Na Alemanha, em especial, ele é muito comum no Carnaval: por séculos, durantas as festas, homens se vestem como mulheres.
Na região de Colônia, por exemplo, um dos principais mascotes da parada carnavalesca é a virgem, um papel feminino exercido por homens desde a década de 1820. O livro comprova que o hábito foi mantido, mesmo sob um regime abertamente homofóbico.