Alvo de polêmica após transporte ao Brasil, o escritor Paulo Rezzutti explicou a trajetória do órgão histórico
O traslado do coração do imperador Dom Pedro I, vindo diretamente da cidade do Porto em Portugal para Brasília, levanta polêmica pelos motivos questionáveis que motivaram a vinda do objeto, além do alto custo de transporte, manutenção e seguro.
Contudo, a megaoperação que mobiliza a vinda do órgão contrasta com os motivos originais de sua conservação em uma urna, como revelou o escritor brasileiroPaulo Rezzuttiem entrevista exclusiva ao portal aventuras na história.
Autor de diversos best-sellers relacionados a história do Brasil Império, incluindo "Dom Pedro, a história não contada”, vencedor do Prêmio Jabuti de Literatura de 2016, na categoria biografia, o escritor enfatizou a origem e trajetória do item, conforme listamos abaixo.
Confira cinco curiosidades sobre a origem do coração de Dom Pedro I:
O motivo pelo qual o órgão foi conservado partiu de um interesse do próprio imperador pouco antes de falecer. Quando adoeceu de tuberculose, Dom Pedro I pediu aos familiares que o órgão fosse separado e conservado em um local diferente de onde seu corpo passaria por um funeral e seria enterrado.
Dom Pedro morrer no palácio que nasceu, o fato de doar o coração, isso faz parte dessa construção dele de como ele será visto no futuro, como um herói romântico que a gente vê até hoje, ele mesmo constrói isso”, enaltece Paulo, como uma forma de construção de sua imagem heroica.
A cidade do Porto estava diretamente relacionada a reconquista do imperador a Portugal pouco após a tomada do seu irmão, Dom Miguel. Por tal fato, era planejado que o coração fosse destinado a cidade de Porto, onde ficaria na Câmara Municipal. Contudo, a desejo da viúva Amélia de Leuchtenbergfoi de realocar para a igreja municipal que o marido frequentava.
“Ele deixa, por vontade própria, o coração dele em Porto, onde ele sofreu o cerco. [...] Quando ele doa o coração para o Porto, ele doa para a cidade. Quem recebe é a municipalidade, que leva para a câmara. [...] Então selecionam a Igreja da Lapa, porque era onde Dom Pedro assistia as missas durante o cerco”, acrescenta Rezzutti.
A conservação, realizada pelo doutor João Fernandes Tavares, utilizou de métodos disponíveis na época para realizar o melhor trabalho possível. Contudo, os líquidos escolhidos para a conserva causaram uma espécie de inchaço nos tecidos do órgão quando estão em contato com a luz, impossibilitando a exposição contínua.
Paulo acrescentou que, no começo da exposição, ainda era possível observar o órgão, mas que os efeitos do tempo o fizeram ser fechado em ambiente escuro: “Por lá permaneceu, foi bem bonito, permaneceu exposto, mas não podia ficar abrindo, por que o coração tem um problema sobre o modo como foi conservado”.
Como não pode receber luz, o órgão se torna uma incógnita em relação a como será aproveitado para as comemorações do bicentenário do Brasil, devido ao fato de que não poderá ser aberto ou retirado da urna, completamente opaca, onde foi depositado.
Tal fato é levantado pela comunidade acadêmica como um dos pontos negativos da vinda do órgão a terras tupiniquins, incluindo Paulo, que deixa claro sua opinião: “Eu não sou a favor disso”.
Outro fator levantado por contrários a medida é o interesse do próprio Dom Pedro I,que será desrespeitado: “A única coisa que ele pediu foi para que o coração ficasse no Porto!”, disse Paulo Rezzutti.
Para o bicentenário da Independência do Brasil, Rezzutti lançou um box comemorativo com as edições ampliadas e em capa dura, das biografias que relembram a saga da imperatriz Leopoldina (D Leopoldina - A mulher que arquitetou a Independência do Brasil) e d. Pedro I (D Pedro I - O homem revelado por cartas e documentos inéditos).
Além disso, o escritor também lançou um novo volume da rica série “A história não contada”. Em 'Independência: a história não contada: A construção do Brasil: 1500-1825', Rezzutti explica o longo processo que resultou no Grito do Ipiranga e um pouco do que veio em seguida: o nascimento e a construção – ainda em curso – de um país.