Março é dedicado às mulheres, nunca foi fácil para nós, e é preciso lembrar das lutas. Somos sufragistas das nossas próprias causas
“Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã”. As Amélias não existem mais, a não ser que elas queiram. Hoje, nós nos sacodimos.
Foram anos de batalhas, e nem nos meus piores pesadelos vivenciei todas as exclusões impostas às mulheres, mas isso não me faz menos marginalizada. Quer saber como? Quando pego o metro, sou assediada com direito a ficar calada. Ganho menos, e uma das injustificáveis razões é porque posso entrar no INSS para gerar uma vida, essa que significa o nascimento de quem vomitou tais regras.
Eles nos marginalizam do direito ao próprio corpo, ao trabalho, ao merecimento... Nem acredito em meritocracia, mas de qualquer forma, ela nunca coube a nós. “Sabemos muito bem como ela subiu de cargo...”
“Mas vemos mulheres em todos os setores do mercado!” é o que dizem, mas segundo dados do Fórum Econômico Mundial de 2018, nós mulheres, vamos enfrentar mais de duas décadas, ainda, para conseguir equidade no mundo dos negócios. Está bom para você? Para mim, não.
A luta do feminino é eterna. Por todos os minutos do dia, uma mulher trava uma batalha por sua vida, em todos os aspectos. O tempo todo recolhemos sufragistas em prol das nossas causas, pois em qualquer lugar do mundo, a mulher sofre.
Neste mês, março do feminino, quero lembrar a todas nós de cada passo, pequeno, ou grande, de nossas antepassadas que invocaram as bruxas atuais, afinal, não queimaram todas. Claro que ainda temos muito pelo que lutar. E como fatos históricos são marcados por mulheres fortes, eu pergunto:
Vocês estão prontas? Eu mesma respondo, nascemos prontas para o combate e vou provar.
Em maio de 1908, nos Estados Unidos, cerca de 1.500 mulheres protestavam pela primeira vez em busca de igualdade econômica e política, foi assim que o primeiro Dia das Mulheres nasceu. No ano seguinte, dia 28 de fevereiro, o Partido Socialista oficializou a data com um protesto que levou mais de 3 mil pessoas no centro de Nova Iorque.
Já na II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, conseguiram os votos de mulheres de 17 países para marcar a data. Porém, apenas em 1945 a Organização das Nações Unidas bateu o martelo e o Dia Internacional das Mulheres foi instituído para o dia 8 de março.
Foi em 25 de março de 1911 que 129 operárias eram trancadas em uma fábrica têxtil, a Triangle Shirtwaist, localizada em Nova York, isso, para não fazerem pausas durante a jornada de trabalho. Este cenário só piorou quando o prédio pegou fogo, e ninguém, absolutamente ninguém, lembrou delas. Por muitos anos, o Dia Internacional das Mulheres foi atribuído a este fato, mas os registros provaram o contrário. Porém, esse episódio foi um grande propulsor para condições melhores de trabalho para as mulheres.
Dado o contexto, vamos falar um pouco do Brasil.
As leis que nos regiam eram as de Portugal, lá a mulher era considerada imbecilitus sexus, ou seja, sexo imbecil, uma categoria à qual pertenciam crianças e doentes mentais. Portanto, não podiam estudar. E a luta começou com uma indígena, nos tempos dos Jesuitas, que reivindicou seus direitos, contou com o seu marido como porta-voz do pedido, e estudou.
Mas com o passar do tempo, a exclusão bateu à porta novamente. Depois disso, a educação feminina passeou entre permissões para escolas que as ensinassem a serem donas de casa, depois pro magistério, e assim as mulheres foram ganhando mercado, se aventurando em uma luta solitária, que as levou aos outros cursos e cargos.
Um pequeno passo dado por uma mulher considerada a primeira feminista nacional, em 1832. Nísia Floresta traduz a obra de Wollstonecraft, a qual intitulou ‘Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens’. Grande incentivadora da emancipação as mulheres, chegou a abrir, ainda durante o Império, uma escola para elas.
Após incansáveis movimentos feministas pleitearem o direito das mulheres pelo voto, foi quase 50 anos depois da Proclamação da República que elas conseguiram essa vitória. Desde a data do grito até 1932, as mulheres foram sinônimo de luta para escolherem seus próprios governantes.
O ano era de 1962, sim, não errei a data. Foi apenas nesta volta da terra em torno do sol, que as mulheres casadas puderam trabalhar sem autorização do marido. Mais um ponto para o movimento feminista, que as levaram à luta pelos seus direitos.
Foi necessário que uma guerreira se expusesse após longas violências domésticas, tomar um tiro e perder seu direito de andar, para que o feminicídio virasse pauta. Essa é a história da Lei Maria da Penha, que leva o nome da mulher que lutou por 20 anos para que seu algoz, o marido, fosse penalizado pelas torturas dentro de casa. Acabou as pequenas causas, desde 2006 é Maria da Penha neles. A lei ainda culminou, em 2015, na transformação do feminicídio em crime hediondo.
Essas são algumas das lutas, mas ainda há a greve das costureiras, manifestações para o parlamento feminino, movimentos em prol da lei do divórcio, busca de saúde preventiva e métodos contraceptivos, entre tantas outras. Não queremos rosas, queremos luta, queremos direitos iguais, queremos honrar estas histórias.
Caroline Arnold – Relações Públicas, sócia-fundadora da Enxame de Comunicação e feminista.