Nova minissérie mais assistida da Netflix chama a atenção por sua história eletrizante de tragédias naturais; mas o roteiro é plausível? Entenda!
Publicado em 17/12/2024, às 19h00 - Atualizado em 18/12/2024, às 15h40
Na semana passada, a minissérie "Inferno em La Palma" estreou na Netflix e se tornou um dos grandes sucessos dentro da plataforma de streaming. Atualmente, a produção é a mais assistida dentro da categoria 'séries', superando Senna.
A nova produção, dividida em quatro episódios, relata a história de uma família norueguesa que viaja até a ilha de La Palma, no Oceano Atlântico, durante suas férias. Entretanto, durante o descanso, o cenário paradisíaco se torna uma cena de terror depois que uma pesquisadora alerta sobre a possibilidade iminente de erupção vulcânica seguida de tsunami devastador, que tira a ilha do mapa.
+ Inferno em La Palma: Existe uma história real por trás da série da Netflix?
O enredo da série causou uma dúvida entre os espectadores: afinal, uma erupção vulcânica pode mesmo provocar tsunami? Entenda!
Embora não seja baseado em uma história real, "Inferno em La Palma" possui um contexto plausível, visto que não só a Ilha de La Palma existe, como também abriga o Cumbre Vieja — vulcão mais antigo das Ilhas Canárias que entrou em erupção em 2021.
Em 2021, a atividade vulcânica devastou a ilha por quase 100 dias — entre 19 de setembro e chegou ao fim em 13 de dezembro. Foi a primeira vez em 50 anos que o vulcão das Ilhas Canárias despertou. Ao todo, a lava devastou uma área de 1.219 hectares, desabrigando cerca de 7 mil pessoas (mas, vale ressaltar, não houve vítimas).
Durante a erupção, em 2021, voltou a tona o debate sobre a possibilidade de atividades vulcânicas ocasionaram a formação de tsunamis ao redor do mundo. Em 1999, por exemplo, um estudo alertava que uma erupção explosiva no local poderia gerar deslizamentos e causar um tsunami que teria força para chegar até à nossa costa.
Ao UOL, o doutor em Ciências Marinhas pela Universidade de Sydney e professor e pesquisador na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Guilherme Lessa, explicou que os tsunamis são provocados por uma onda de choque, que se propaga na superfície do oceano.
No entanto, o tsunami não é necessariamente um fenômeno que pode causar destruição, dependendo de sua dimensão: que pode ir de centímetros até metros. "Isso depende da intensidade do abalo sísmico, ou do volume de terra que desaba", explicou Lessa ao veículo em 2021, quando a última erupção em La Palma foi registrada, despertando preocupações.
Já no caso de um tsunami formado após uma atividade vulcânica, o fenômeno só seria possível se ocorresse uma forte erupção explosiva — o nível mais alto da atividade — que provocasse abalos sísmicos e um grande desabamento de terra na água.
A lava força a passagem por entre fissuras nas rochas, e isso gera tremores ao longo do processo, mas são muito fracos comparados aos das placas tectônicas. Não são os tremores que geram tsunamis", explicou o especialista.
Para que tal cenário ocorresse em La Palma, o pesquisador explica que os tremores teriam que causar a queda de uma parte da ilha que já está fraturada. No entanto, o volume de terra que poderia cair das Ilhas Canárias é ridiculamente menor do que a previsão feita no estudo de 1999.
"Os maiores deslizamentos que ocorrem geralmente são de 50 ou 80 metros cúbicos", contextualizou o pesquisador do Instituto de Ciências do Mar, da UFC (Universidade Federal do Ceará), Carlos Teixeira ao UOL.
Para se ter uma ideia, a pesquisa citada foi pensada em um deslocamento de terra que movesse cerca de 500 metros cúbicos. "A possibilidade de um tsunami é muito baixa, teria que ter um deslocamento muito grande de terra e em uma velocidade muito alta. Toda essa terra teria que cair de uma vez", continuou Teixeira.
Por fim, George Sand França, doutor em sismologia e professor do Observatório Sismológico da UnB (Universidade de Brasília), disse ao veículo que vulcões que provocam tsunamis são raros. E quando acontecem, a área afetada é muito próxima de onde aconteceu a atividade vulcânica, portanto, não seria capaz de alcançar a costa brasileira.
"Pode ser que possa gerar ondas, mas muito próximas. Não é comparável com os tsunamis como os que aconteceram na Indonésia, em 2004, e no Japão, em 2011", encerra.