Antes vista como uma revolucionária que prometia mudar a medicina com coletas de sangue sem agulha, Holmes foi revelada como uma fraude
Wallacy Ferrari, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/09/2021, às 11h00 - Atualizado em 19/11/2022, às 15h00
Após três meses de julgamento, um tribunal do estado norte-americano da Califórnia anunciou na última sexta-feira, 18, seu veredito em relação às acusações contra Elizabeth Holmes, ex-empresária do Vale do Silício responsável pela Theranos, uma companhia que prometia revolucionar a medicina.
A norte-americana foi considerada culpada de três acusações de fraude eletrônica, e ainda de conspiração devido às mentiras que contou para os investidores de sua companhia.
A mulher alcançou seu auge em 2014, chegando a ser chamada de "a nova Steve Jobs" devido ao valor que sua startup havia alcançado no mercado — na época, a Theranos valia 9 bilhões de dólares, ainda que não tivesse entregue o produto vanguardista que prometia.
Logo, porém, a teia de ilusões criada por Holmes começou a se despedaçar. Hoje aos 38, a ex-bilionária vive seu ponto mais baixo, tendo sido sentenciada a mais de 11 anos de prisão. Seu time de advogados, vale mencionar, afirma que irá recorrer à decisão.
Relembre abaixo a trajetória da mulher, que já foi considerada um prodígio do Vale do Silício.
Em 2014, a jovem Elizabeth Holmes chamou a atenção do mundo após acumular US$ 9 bilhões com uma empresa fundada e administrada por ela, na época com 30 anos de idade.
A Theranos oferecia soluções para empresas de saúde, cativando a classe científica com o inovador teste Edison, que prometia detectar doenças como diabetes e câncer sem a necessidade de uma agulha para retirar o sangue.
Tal promessa resultou em grandes investimentos da elite norte-americana, além de estampar a capa da revista Forbes como "A mais jovem bilionária self-made ('por conta própria', em tradução livre) do mundo", chegando a ser comparada a Steve Jobs, fundador da Apple, no enredo da publicação. Porém, os anos seguintes foram capazes de mudar as expectativas da loira no mercado.
Entre os investimentos, Elizabeth foi apoiada pelo ex-secretário de estado dos EUA, Henry Kissinger, e Rupert Murdoch, que controla o The Wall Street Journal e a Fox News. Juntos, deixaram milhões de seus patrimônios na tal empresa, sendo os principais vitimados em um prejuízo histórico.
No ano seguinte, a ascensão midiática da jovem empresária começou a ruir com a descoberta de que sua tecnologia de diagnósticos não havia progredido positivamente conforme prometido aos investidores. Em 2016, eles decidiram tirar a limpo as possibilidades de tal ocorrência, descobrindo que a viabilidade do produto era impossível e a ideia de Elizabeth era falsa.
Dois anos depois, a queda no valor de mercado e prejuízo nos investidores resultou em um capital quase nulo, vendo a promissora empresa ter de declarar falência em 2018. Aqueles que aplicaram suas fortunas no projeto, mobilizaram as autoridades americanas para processá-la criminalmente em 12 acusações de fraude, podendo totalizar 20 anos de prisão.
Contudo, o rumo tomado pela empresária chamou atenção após a descoberta do jornal britânico BBC de que, ainda quando cursava Engenharia Química na renomada Universidade de Stanford, teria sido avisada por uma professora que o projeto não funcionaria, uma década antes da aplicação.
O relato da inviabilidade foi revelado pela doutora Phyllis Gardner, que explicou para a loira, mas foi ignorada: "Elizabeth parecia absolutamente certa de seu próprio brilho. Ela não estava interessada em minha experiência e foi uma situação desconcertante".
Poucos meses depois, com apenas 19 anos de idade, Holmes decidiu largar a faculdade para fundar a startup de saúde. Ainda se aliou com Ramesh Balwani, com quem namorou e cuidou do negócio — e hoje o acusa de abusos sexuais e psicológicos durante a administração.
Mesmo assim, uma investigação social relacionou a criação da jovem, proveniente de família rica. Seus pais fizeram carreira no Capitólio e ligados em status social, estimulando a um bom posicionamento de carreira. Hoje, suas origens servem de embasamento psicológico para a suposta pressão sofrida em convencer os familiares, como argumentam seus advogados de defesa.
A forma fraudulenta, no entanto, já foi reconhecida pela empresaria em um acordo feito em março de 2018, onde acabou sendo presa por fraude eletrônica e conspiração, mentindo sobre os ganhos e efeitos do item. Libertada sob fiança, agora aguarda a decisão final sobre como deve compensar os lesados nos investimentos.