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Matérias / Olimpíadas

Homem elástico: Alfredo Gomes, o primeiro negro brasileiro nas Olimpíadas

Nas Olimpíadas de Paris, em 1924, Alfredo Gomes se tornou o primeiro negro brasileiro a disputar os jogos e carregar a nossa bandeira na cerimônia de abertura

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 28/07/2024, às 07h00

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Alfredo Gomes - Divulgação/Clube Esperia
Alfredo Gomes - Divulgação/Clube Esperia

Paris 2024 é especial para os brasileiros também pela participação centenária do atleta Alfredo Gomes. Afinal, foi na cidade francesa, mas nas Olimpíadas de 1924, que o neto de escravizados se tornou o primeiro negro a representar o Brasil nos Jogos. Gomes também foi escolhido para carregar a nossa bandeira na cerimônia de abertura, no Estádio Olímpico Yves-du-Manoir. 

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Sua história começa no dia 16 de janeiro de 1899, quando nasceu no Vale do Paraíba, na cidade de Areias — um importante centro de produção cafeeira da época, na rota do tráfico de escravizados do século 19. 

Em 1914, Alfredo se muda com a família para São Paulo, onde dividia seu tempo entre seu trabalho na Companhia Telefônica Brasileira (CTB), estudo e tempo livre jogando futebol na várzea.

A modalidade criada para os ricos começava a se popularizar, mas, dos gramados e da chuteira, o jovem conheceu uma nova paixão: o atletismo. Em 1919, enquanto participava de um piquenique na Represa do Guarapiranga, Alfredo viu que o tradicional Colégio São Luiz organizava uma prova de atletismo — e ele não só participou como ganhou. 

A partir dessa vitória, o fundista se descobriu um craque na modalidade, na qual praticava com equipamentos inadequados, com roupas e calçados pesados (ou chuteiras de futebol). Isso não o impediu, porém, de entrar em 1921 no grupo de atletas do Clube Esperia, criado por imigrantes italianos.

Alfredo logo se destacou entre os principais nomes do atletismo do país, com conquistas e pódios em diferentes provas de longa distância, como os 1.500, 5 mil e 10 mil metros, além dos 10 mil cross-country. Nessa época, o atleta ficou conhecido como 'O Homem Elástico'.

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Paris 1924

Quando os Jogos Olímpicos de 1924 chegaram, o Brasil ainda não tinha certeza se enviaria atletas para Paris, visto que o então presidente Arthur Bernardes decidiu não custear a viagem e estadia dos atletas.

Isso dependeu de uma campanha de arrecadação pública encabeçada pelo jornal O Estado de São Paulo. Assim, em 27 de maio, um grupo de dez atletas (oito do atletismo e dois do remo) partiu do Porto de Santos em uma viagem transatlântica de 30 dias até o Canal da Mancha.

Pelo bom desempenho, Alfredo foi escolhido para carregar a bandeira brasileira na abertura e, apesar das expectativas e inscrição em cinco provas, participou apenas de duas, conseguindo a nona colocação na semifinal classificatória para os 5 mil metros. Nos cross-country, ele não terminou, sendo afetado pelo rigoroso calor de 40ºC.

De volta ao Brasil, Alfredo manteve seu status como um dos melhores fundistas do país ao ser o primeiro campeão da tradicional prova da Corrida de São Silvestre, disputada em 31 de dezembro de 1924. Ele se manteve como atleta amador por toda a vida, dividindo-se entre o esporte e o trabalho na CTB, onde ficou por 51 anos.

Alfredo faleceu em 17 de março de 1964, à sombra de uma árvore, após correr 2 km numa manhã de domingo na pista do Esperia. O atleta foi sepultado no Mausoléu dos Esportistas, que ele mesmo ajudou a viabilizar.