Os julgamentos Demjanjuk chamaram a atenção da mídia global por cerca de três décadas
André Nogueira e Fabio Previdelli Publicado em 04/03/2020, às 14h00 - Atualizado em 26/11/2022, às 00h00
Imagine descobrir que um trabalhador autônomo discreto, oficialmente cidadão dos Estados Unidos, na verdade, escondia uma identidade secreta dos tempos de guerra, quando era um colaborador ativo do nazismo e, portanto, do Holocausto.
Este é o caso de John Demjanjuk, um ucraniano nascido na URSS durante a guerra travada entre o território alemão e o Império Vermelho, entre 1919 e 1921. Mas tudo mudou durante a Segunda Guerra.
Segundo matéria do portal Sol, de Portugal, em 1942, Demjanjuk acabou sendo capturado pelos nazistas. Foi então que se tornou guarda de dois campos de concentração: Treblinka e Sobibor — onde teria cometido inúmeros assassinatos e tortura contra prisioneiros.
Após a derrocada do Terceiro Reich, Jonh ainda teria se juntado à guerrilha anti-soviética. Em 1952, porém, ele se conseguiu fugir para os Estados Unidos. Seis anos depois, conseguiu a cidadania do país.
Até então, John Demjanjuk parecia viver uma nova vida, longe de seu passado horrendo. Mas, conforme aponta a Enciclopédia do Holocausto, do Holocaust Memorial Museu, tudo passou a mudar em 1975, quando investigações sobre o período se iniciaram.
Com isso, posteriormente, Demjanjuk teve sua cidadania americana retirada, recebeu uma ordem de deportação e, em duas ocasiões, sua extradição foi solicitada para que fosse julgado pelos seus crimes: em Israel e na Alemanha.
O primeiro desses processos começou em 16 de fevereiro de 1987, em Jerusalém. À época, diversas vítimas do Holocausto reconheceram o ucraniano como ‘Ivan, o Terrível’. Demjanjuk teria sido o responsável pela manutenção do motor a diesel que bombeava monóxido de carbono para as câmeras de gás em Treblinka.
Por esse motivo, em 1988, foi condenado à morte por crimes de guerra, sentença anulada em 1993, quando a Suprema Corte de Israel concluiu que ele não era ‘Ivan, o Terrível’. Essa anulação tornou o processo uma confusão, e outros tribunais voltaram a analisar o caso.
Em 2001, ele recebeu uma nova denúncia e, quatro anos depois, voltou receber uma ordem de deportação, mas não saiu dos EUA. Somente em 2009, foi anunciado o envio de John Demjanjuk para a Alemanha.
Naquele mesmo ano, Demjanjuk chegou a ser levado por agentes da imigração, em cadeira de rodas, mas pouco tempo depois que saíram de sua casa, a ordem foi anulada. Um mês depois, voltou a ser intimado após a Suprema Corte dos EUA negar seu apelo jurídico.
Então, foi levado de Cleveland ao aeroporto numa ambulância e pegou um voo para a Alemanha. Lá, foi oficialmente acusado de participar da morte de mais de 25 mil prisioneiros em Sobibor.
No processo todo, John indagou que aquele processo era uma tentativa alemã de absolver a própria culpa, “encontrando culpados em outras nações”. Após 16 meses de julgamento, o processo enfim foi encerrado em março de 2011.
No dia 12 de maio, Demjanjuk recebeu sua sentença: cinco anos de prisão. Porém, a pena jamais foi cumprida, visto que ele acabou solto devido a um recurso obtido contra a ordem de condenação.
Jonh Demjanjuk morreu tranquilamente em uma casa de repouso alemã no dia 17 de março de 2012, aos 91 anos. Conforme recorda matéria a Enciclopédia do Holocausto, o caso John Demjanjuk chamou a atenção da mídia de todo o mundo por cerca de três décadas.
Entretanto, Demjanjuk não foi o último caso de um envolvido no Holocausto a ser julgado. Em maio desse ano, conforme repercutido pela equipe do site do Aventuras na História, Josef Schütz, de 101 anos, foi condenado por abusos cometidos durante a Segunda Guerra.