Neste 4 de maio, dia de Star Wars, conheça como o caso Watergate e o Terceiro Reich influenciaram na narrativa política da franquia de George Lucas
"Que a força esteja com você". Dita pela primeira vez pelo mestre jedi Obi-Wan Kenobi para Luke Skywalker, em 'Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança' (1977), a frase usada para desejar sorte se tornou praticamente um mantra. Sendo a mais famosa de toda a franquia.
Em inglês, por conta da fonética semelhante, a expressão "May the force be with you" se tornou um trocadilho e acabou virando "May the 4th be with you" ('Que o 4 de maio esteja com você', em tradução livre). Assim, o 4 de maio passou a ser conhecido como 'Star Wars Day' ('O dia de Star Wars').
Outro fato curioso sobre a franquia de George Lucas, que se tornou uma das maiores da história do cinema, é que a política norte-americana teve uma enorme influência na narrativa dos primeiros filmes.
Quando George Lucas começou a escrever o roteiro de um longa de ficção científica sobre um grupo de rebeldes que lutavam contra um governo corrupto, o julgamento do caso Watergate estava apenas começando — tudo isso aconteceu em 1973, um ano antes de Nixon renunciar ao cargo de presidente americano e quatro anos antes da estreia do primeiro filme da série: Uma Nova Esperança.
O enredo da trilogia original refletia a política árdua daquele momento. O conflito entre o Império — um regime autoritário, supremacista e militarizado por um ditador — e a aliança rebelde — que era composta por aqueles que lutavam contra todas as imposições — carregava o pensamento ideológico que Lucas tinha a respeito de uma autoridade opressora.
O próprio diretor chegou a admitir isso em alguns momentos. Em entrevista ao Chicago Tribute, em 2005, ele declarou: "Foi realmente sobre a Guerra do Vietnã, e esse foi o período em que Nixon estava tentando concorrer a um [segundo] mandato, o que me levou a pensar historicamente sobre como as democracias se transformam em ditaduras. Porque as democracias não são derrubadas; elas são entregues".
A história original foi escrita há 30 anos. Eu não queria fazer um filme sobre como pessoas assumem o controle de uma democracia, queria entender como democracias podem se entregar a tiranos", disse à BBC.
Mas as inspirações políticas não pararam na trilogia original, George Lucas também usa inúmeras referências nas prequels. O imperador Palpatine, também conhecido como Darth Sidious, também foi inspirado em Nixon.
O diretor deixou isso claro quando foi questionado se o tirano dos filmes foi um Jedi em algum momento de sua existência. "Não, ele era um político. Richard M. Nixon era o nome dele. Ele subverteu o Senado e finalmente assumiu o cargo e se tornou um cara imperial e ele era realmente mau. Mas ele fingiu ser um cara muito legal".
Mas as alusões políticas de Lucas não se resumiram somente a década de 1970. O diretor também aproveitou a franquia para comentar e prever o governo de George W. Bush — que começou em 2001, paralelamente com as estreias de 'A Ameaça Fantasma', 'O Ataque dos Clones' e 'A Vingança dos Sith', foram lançados, respectivamente, em 1999, 2002 e 2005.
Nesse ponto, a história cinematográfica permitiu que Lucas explorasse completamente como uma república popular pode se transformar em um império. Diferentemente dos originais, que eram amplamente relacionados à política da época, os novos estavam ocorrendo simultaneamente à Guerra ao Terror.
Em uma entrevista ao The New York Times, ao explicar a história de Anakin Skywlaker — um jovem promissor que é desviado para o lado sombrio por um político mais velho, se tornando o temível torna Darth Vader —, o diretor relaciona o personagem com o presidente americano da época. George Bush é Darth Vader. [Dick] Cheney é o imperador".
Essa afirmação fica bem clara na semelhança entre os discursos dos dois: enquanto Anakin dizia que "se você não está conosco, você é meu inimigo", Bush pregava que "você está conosco ou contra nós".
Assim como Bush, o chanceler Palpatine explorava os medos da guerra para transformar a República em um Império governado por ele. Em 'A Vingança dos Sith', enquanto a senadora Padmé observa o tirano consolidar seu poder, em meio a um extenso senado, ela comenta com desgosto: "É assim que a liberdade morre, com um estrondoso aplauso".
Como se entrega a democracia a um tirano com aplausos? Não com um golpe, mas com aplausos? Essa é a história de César, Napoleão e Hitler", declarou o diretor ao site Starwars.com.
Além de todo o contexto político americano, a ascensão do nazismo também foi uma grande referência para Lucas. Afinal, Hitler assumiu o poder por meios legais e o povo glorificou o tirano "com aplausos".
"Desde sua primeira aparição, o Império era claramente uma alegoria para o fascismo. 'Stormtrooper' [aqueles soldados de armadura branca que são extremamente fiéis ao Império] é um termo que vem das tropas alemãs na Primeira Guerra Mundial e reaparece na Alemanha nazista como a ala paramilitar do Partido Nazista", explica a repórter do GizmodoKatharine Trendacosta.
A política sempre esteve e sempre estará presente em Star Wars, seja na franquia original ou no arco mais recente. Um dos últimos episódios envolvendo esse viés em Star Wars aconteceu em 2016.
Na ocasião em que acontecia a estreia de 'Rogue One: Uma história Star Wars', o roteirista Chris Weitz associou, em sua conta do Twitter, o Império do filme a grupos supremacistas brancos, publicando uma imagem com os dizeres "Star Wars contra o ódio".
A ideia não foi bem vista por espectadores de direita, que, revoltados, organizaram um boicote contra as conotações políticas da série, se manifestando pela mesma rede social com a hashtag #DumpStarWars.
Ao pensar em tudo que George Lucas já produziu ou disse, é difícil não concordar com ele de que "não importa para quem você olhe na história, a história é sempre a mesma". Afinal, assim como os mitos seculares que permeiam Star Wars, a política nunca muda de verdade.