Marcus Opellius Macrinus, interpretado por Denzel Washington, nasceu por volta de 164 d.C. na Mauritânia Cesariense (atualmente na Argélia)
“Gladiador 2”, sequência do clássico do diretor Ridley Scott, chegou aos cinemas brasileiros no dia 14 de novembro. Fictício, o filme é ambientado na Dinastia Severa, que governou o Império Romano de 193 a 235 d.C., e se inspira numa série de personagens da época.
Uma das principais figuras é Macrinus (Denzel Washington). Ele é um traficante de armas que abastece o exército e organiza as apresentações de batalhas de gladiadores. Com seu envolvimento no Senado e na corte imperial, acumula uma grande fortuna e poder, mas ainda assim busca mais.
O Marcus Opellius Macrinus da vida real nasceu por volta de 164 d.C. na Mauritânia Cesariense (atualmente na Argélia), de origem berbere. O historiador e senador Cassius Dio o descreveu como "mouro de nascimento".
Sabe-se que ele provavelmente recebeu uma boa educação, pois, se formou advogado e se mudou para Roma, onde prosperou. Dio destacou não seu conhecimento jurídico, mas a "fidelidade" com que observava as leis e precedentes.
O Macrinus histórico não tinha envolvimento com gladiadores. Ele ocupava um alto cargo no círculo íntimo do imperador, gerenciando os assuntos civis em Roma antes de aproveitar a morte de Caracalla para tomar o trono imperial.
Além disso, segundo o History Extra, não há evidências de que Macrinus tenha tido qualquer relação com o imperador Marcus Aurelius, muito menos que tenha sido escravizado por ele, como sugere "Gladiador 2".
No filme, Macrinus afirma ter o "confiança dos imperadores" Caracalla e Geta, o que de fato ocorreu devido à Guarda Pretoriana, a guarda imperial de elite. Ele chamou a atenção de Plautianus, chefe da guarda, durante o reinado de Septímio Severo.
Embora Plautianus tenha caído em desgraça e sido executado em 205 d.C., Macrinus manteve-se em boa posição graças aos aliados no Senado. Ele continuou sua carreira jurídica enquanto lidava com responsabilidades burocráticas.
Com a morte de Severo em 211 d.C., seus filhos, Caracalla e Geta, assumiram o trono, embora por pouco tempo, já que Caracallamatou o irmão e estabeleceu seu próprio reinado, nomeando Macrinus como prefeito pretoriano e promovendo-o a um dos mais altos cargos do império.
Além de suas funções jurídicas e administrativas, Macrinus era comandante da Guarda Pretoriana e da Legio II Parthica, uma das legiões romanas. Ele acompanhou Caracalla em sua campanha contra o Império Parta, mas a invasão falhou.
Três dias após o assassinato, o exército proclamou Macrinus imperador. Quando a notícia chegou a Roma, o Senado não viu razão para contestar a escolha, já que muitos senadores odiavam Caracalla.
Ele fez história por ser o primeiro imperador que não provinha da aristocracia romana ou da classe senatorial. Após sua ascensão ao trono, permaneceu no campo militar em Antioquia, com a prioridade de resolver a guerra contra os partas.
Porém, em vez de continuar a campanha, ele optou por negociar a paz, aceitando termos desfavoráveis e pagando enormes somas aos partas. Isso marcou o início de sua queda.
Macrinus também se afastou de outras questões militares, como o confronto com a Armênia e a Dácia, preferindo evitar mais confrontos. A popularidade de seu governo caiu com a diminuição dos salários dos soldados e a revalorização da moeda.
Segundo Cassius Dio, Julia Domna, mãe de Caracalla e figura política importante, começou a conspirar contra Macrinus, o que levou à sua prisão. Após a morte da mulher, sua irmã, Julia Maesa, continuou a conspiração, espalhando o boato de que seu neto, Heliogábalo, era filho ilegítimo de Caracalla.
O exército, movido por esse rumor, proclamou Heliogábalo imperador, levando Macrinus a nomear seu filho, Diadumênio, como co-imperador para garantir uma linha dinástica estável. No entanto, o exército desertou, e o próprio Ulpius Julianus, o chefe da Guarda Pretoriana, foi morto pelas tropas que se uniram ao jovem Heliogábalo.
Em junho de 218, as forças de Macrinus enfrentaram as legiões leais a Heliogábalo na batalha de Antioquia e sofreram uma derrota decisiva. Após 14 meses no poder, Macrinus fugiu para Roma, mas foi reconhecido e capturado no caminho.
Ele foi executado logo depois, e seu filho também encontrou a morte. O Senado reconheceu imediatamente Heliogábalo como imperador e declarou Macrinus e seu filhos inimigos do Estado. Ambos foram sujeitos ao damnatio memoriae, uma condenação que apagou seus nomes da história.
Conforme conta o History Extra poucas fontes restaram sobre a vida de Macrinus, sendo as palavras de Cassius Dio uma das mais conhecidas. Como senador, ele não poupou críticas ao ascendente político:
“Esse homem poderia ter sido elogiado acima de todos, se não tivesse ambicionado o império para si, escolhendo alguém do Senado para tomar o trono. Mas ao invés disso, ele trouxe desonra e destruição sobre si mesmo, tornando-se alvo de reprovações e caindo em um desastre merecido", escreveu.