Em 19 de abril de 2011, líder da Revolução cubana deixava seu último alto cargo político no país
Uma das figuras políticas mais importantes da história de Cuba, Fidel Castro sempre foi visto como grande exemplo de um líder revolucionário por seus apoiadores. Na mesma medida que era idolatrado por uns, o cubano era malquisto por outros, apresentado como um ditador implacável.
Com um ideal marxisista-lenista e uma visão anti-imperialista, Fidel teve, ao lado de seu irmão Raúl Castro e de Ernesto Che Guevara, papel fundamental na Revolução Cubana que derrubou o presidente Fulgêncio Batista em 1959.
Naquele mesmo ano, tornou-se primeiro-ministro de Cuba, cargo que ocupou até 1976. Posteriormente, foi o 15º Presidente da Ilha, entre 1976 a 2008. Mas um dos dias que ficará marcado para sempre em sua trajetória certamente será o 19 de abril de 2011, afinal, há exatos 11 anos, Fidel Castro renunciou à direção do Partido Comunista de Cuba, colocando um ponto final, de certa maneira, em sua trajetória como político cubano, embora jamais deixasse de ser uma figura representativa da Revolução.
O anúncio sobre a renúncia de Castro à direção do Partido Comunista — seu último alto cargo político no país — aconteceu durante o 6º Congresso do PC cubano. Com 86 anos à época, Fidel, que exercia o cargo de primeiro-secretário do partido desde sua criação, em 1965, já havia dado indícios de sua decisão em sua coluna Reflexiones, publicada no portal Cubadebate.
No texto, afirmou que seu irmão, o presidente Raúl Castro, sabia que ele não aceitaria mais nenhum cargo no partido. "Funções que, como se sabe, eu deleguei quando fiquei gravemente doente. Nunca tentei e nem podia exercê-las fisicamente, mesmo quando havia recuperado consideravelmente a capacidade de analisar e escrever'', declarou.
Fidel ainda alegou que há ''companheiros que, por seus anos ou por sua saúde, não poderiam prestar muitos serviços ao partido, mas Raúl pensava que seria muito duro excluí-los da lista de candidatos. Não hesitei em sugerir que não se exclua esses companheiros de tal honraria, e acrescentei que o mais importante era que eu não aparecesse nessa lista''.
A decisão, conforme recorda matéria da BBC, aconteceu durante um momento de “atualizações” dentro do modelo socialista vivido por Cuba. Pouco antes da decisão de Fidel, o Partido Comunista já havia manifestado seu desejo de que a Ilha passasse por uma série de reformas econômicas — como a desburocratização da administração pública e a ampliação de direitos cedidos à iniciativa privada, exemplo do direito ao autoemprego —, além de ampliar a presença de mulheres e negros na cúpula do partido
À época, Raúl Castro também havia prometido o "sistemático rejuvenescimento" do governo, limitando que altos cargos políticos no país tivessem apenas dois mandatos de cinco anos. O movimento de renovação, vista como uma severa autocrítica, foi encarado como algo sem precedentes para o comunismo cubano.
Embora a decisão possa ter pego muitos de surpresa, ela já era algo esperado, afinal, há anos especulações sobre o estado de saúde de Fidel Castro já movimentavam os noticiários de todo o mundo. Tanto é que, em 2008, ele já havia passado a presidência do país para seu irmão.
Meses depois, segundo repercutiu o The Telegraph, o revolucionário usou suas redes de comunicação para pedir que os cubanos não se preocupassem com a falta das publicações de sua coluna no portal do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba; além das notícias que apontavam para seus recentes de problemas de saúde, e que eles não se incomodassem com sua futura morte.
Em julho de 2010, Fidel fez sua primeira aparição em público desde que adoeceu e, em 7 de agosto, fez seu primeiro discurso na Assembleia Nacional em quatro anos. Entretanto, mesmo após a decisão de sua renúncia à direção do Partido Comunista, continuou sendo uma grande influência dentro do país, onde chegou a se encontrar com o papa Bento XVI, um opositor vocal do governo cubano, quando o pontífice visitou a ilha em março de 2012.
Segundo o londrino The Observer, ainda naquele ano, ao lado de Hugo Chávez, Castro teve um papel fundamental nos bastidores das negociações de paz entre o governo colombiano e o movimento guerrilheiro de extrema esquerda FARC.
Quando a crise da Coreia do Norte estourou, em 2013, Fidel Castro pediu para que os governos norte-coreano e dos Estados Unidos tratassem a situação com moderação, sustentando que a guerra não beneficiaria nenhum dos lados, além de representar "um dos riscos mais graves de uma guerra nuclear" desde a crise dos mísseis cubanos, apontou o The Guardian.
Fidel ainda recebeu o Prêmio Confúcio da Paz na China em dezembro de 2014, por buscar soluções pacíficas para o conflito de Cuba com os EUA e por seus esforços, pós-aposentadoria, para evitar uma guerra nuclear, informou o Associated Press.
Em 2016, seu último ano de vida, além de fazer sua mais extensa aparição pública em muitos anos ao se dirigir ao Partido Comunista; Castro não se encontrou com o então presidente norte-americano Barack Obama durante sua passagem em Cuba, embora tenha feito uma série de comentários sobre como seria positivo um movimento de normalização entre a relação Cuba-EUA.
Em um de seus últimos discursos, quando estava prestes a completar 90 anos, observou que morreria num futuro próximo, entretanto, exortou os cubanos a manterem seus ideais comunistas.
Fidel Castro morreu na noite de 25 de novembro de 2016, por causas naturais. "Com profunda dor compareço para informar ao nosso povo, aos amigos da nossa América e do mundo que hoje, 25 de novembro do 2016, às 22h29, faleceu o comandante da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz", informou Raúl, conforme repercutido pelo G1.
Fidel foi cremado no dia seguinte e um cortejo fúnebre percorreu os 900 quilômetros da longa estrada central entre a ilha de Havana e Santiago de Cuba, traçando em sentido inverso a rota da "Caravana da Liberdade" feita por ele em janeiro de 1959. Após nove dias de luto público, suas cinzas foram sepultadas no Cemitério Santa Ifigênia.