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Matérias / Arqueologia

Encontrado com múmias: Os segredos do queijo mais antigo do mundo

Em 2003, três múmias de 3.600 anos foram encontradas na China, junto de surpreendentes pedaços de queijo em conserva; confira detalhes!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 04/11/2024, às 11h00

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Múmia de onde a amostra de queijo foi tirada - Yimin Yang et al/Journal of Archaeological Science
Múmia de onde a amostra de queijo foi tirada - Yimin Yang et al/Journal of Archaeological Science

Em 2003, durante escavações no Cemitério Xiaohe, datado da Idade do Bronze e localizado no noroeste da China, foram encontradas três múmias datadas de cerca de 3.600 anos, mas que chamaram atenção por outro aspecto único. Isso porque os restos mortais apresentavam estranhas substâncias em torno do pescoço que, quando analisadas, foram identificadas como pedaços de queijo em conserva.

Desde que foram descobertas, as múmias têm seus restos mortais examinados, e as proteínas do queijo foram testadas. Recentemente, foi publicado um estudo no periódico Cell que detalha o elemento inusitado, e lança luz sobre como se dava a fabricação de queijo na antiga Ásia.

Cientistas descobriram múmias de 3.600 anos acompanhadas de queijo kefir / Crédito: Wenying Li

Queijo mais antigo

Conforme descrito no estudo, o queijo misterioso em questão se trata do kefir, um produto lácteo fermentado que se assemelha ao iogurte. "Itens alimentares como queijo são extremamente difíceis de preservar ao longo de milhares de anos, tornando esta uma oportunidade rara e valiosa", comenta o paleogeneticista Qiaomei Fu, da Academia Chinesa de Ciências, em declaração.

Estudar o queijo antigo em grandes detalhes pode nos ajudar a entender melhor a dieta e a cultura de nossos ancestrais", acrescenta o pesquisador.

No alimento, repercute a Smithsonian Magazine, foram identificadas diferentes espécies bacterianas e fúngicas, como o Lactobacillus kefiranofaciens e o Pichia kudriavzevii, encontrados até hoje no kefir moderno. Curiosamente, as amostras "não cheiravam a nada e eram pulverulentas ao toque, e um pouco quebradiças", segundo relata Fu à New Scientist.

Pedaços de queijo antigo encontrado com múmias chinesas / Crédito: Divulgação/Yimin Yang

Relações no passado

Ao sequenciar os genes das bactéricas encontradas no queijo, os pesquisadores conseguiram "rastrear como as bactéricas probióticas evoluíram nos últimos 3.600 anos" na China, conforme aponta a declaração.

Vale mencionar que os vestígios de L. kefiranofaciens se relacionam de maneira bastante próxima a outros encontrados no Tibete, portanto, o queijo antigo sugere que os habitantes do noroeste da China podem ter interagido com os tibetanos, e até mesmo feito uma série de trocas.

"Nossa observação sugere fortemente as distintas rotas de disseminação de duas subespécies [de micróbios de kefir]", graças aos grupos nômades da Eurásia, acrescenta Fu à Popular Science. Essas subespécies, vale mencionar, provavelmente foram espalhadas graças aos recipientes de armazenamento dos produtos, que se espalhavam pelo comércio de laticínios.

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Coautor do estudo, Yichen Liu, também da Academia Chinesa de Ciências, acrescenta em declaração que "micróbios fermentativos desempenharam um papel tão importante na vida diária desses humanos antigos, e eles propagaram esses micróbios por milhares de anos sem saber da existência deles na maior parte do tempo".