Órfão e filhote, Wojtek foi comprado pelas forças polacas que lhe trataram com leite condensado, cigarros e cerveja
A Polônia foi uma das nações que mais sofreu com os traumas da Segunda Guerra Mundial. O ponto de partida do conflito, justamente, foi quando o país foi invadido pela Alemanha nazista em 1º de setembro de 1939 — apenas algumas décadas depois de sua independência.
Pouco mais de duas semanas depois do ataque nazistas, o país também foi tomado pela União Soviética em uma formal declaração de guerra contra o exército de Adolf Hitler. Importante ressaltar que, semanas antes, Stalin e o Führer concordaram com um pacto de não-agressão — o que efetivamente dividiu a Polônia em duas.
Após Hitler quebrar o acordo, em 22 de junho de 1941, a União Soviética firmou com a Polônia o Tratado Sikorski-Mayski, restabelecendo as relações diplomáticas entre os países — o que permitiu que os polacos criassem seu próprio exército; embora, tecnicamente, estivessem em solo soviético.
Sob esse contexto foi criado o II Corpo do Exército polonês, liderado pelo tenente-general Władysław Anders. Na primavera de 1942, a tropa foi evacuada da União Soviética para o Irã, juntamente com milhares de civis polacos libertados dos gulags soviéticos.
No caminho para o Teerã, os viajantes poloneses se depararam com um menino iraniano na cidade de Hamadã que havia encontrado um filhote de urso órfão. A partir daí, a história do batalhão jamais seria a mesma.
No dia 8 de abril de 1942, os polacos se encontravam em uma estação ferroviária em Hamadã quando avistaram um jovem iraniano. O menino estava na companhia de um filhote de urso órfão — cuja mãe havia sido baleada por caçadores.
Uma das refugiadas civis, Irena Bokiewicz, de 18 anos, sobrinha-neta do general Bolesław Wieniawa-Długoszowski, ficou muito encantada com o filhote e convenceu o tenente Anatol Tarnowiecki a comprá-lo do jovem em troca de algumas latas de comida.
O urso passou os três meses seguintes em um campo de refugiados polacos perto de Teerã, recebendo os cuidados de Irena, aponta o boletim informativo Polonia Włoska, antes de tornar-se parte da 22ª Companhia de Fornecimento de Artilharia, onde recebeu o nome de Wojtek — um apelido na forma diminutiva de Wojciech, que significa "Guerreiro Feliz".
Wojtek viajou com a companhia pelo Oriente Médio, enquanto a unidade seguia para unir forças com a 3ª Divisão dos Cárpatos do Exército Britânico na Palestina. Durante esse período, o urso passou a adotar alguns hábitos um tanto quanto curiosos.
O All That Interesting repercute relatórios que dizem que Wojtek tinha problemas para engolir e que o urso foi alimentado com leite condensado em uma velha garrafa de vodka. Ele também recebia frutas, marmelada, mel e xarope.
A BBC vai além e aponta que, posteriormente, a cerveja se tornou a bebida favorita do urso, que mais tarde também passou a gostar de cigarros: os companheiros de batalhão lhe davam cigarros apagados, que ele comia.
O Edinburgh News ainda repercute que o urso dormia com os outros soldados se eles sentissem frio à noite, que o animal gostava de brincar de luta com seus colegas e que ele também foi ensinado a saudar quando fosse cumprimentado. Logo, se tornou o mascote do grupo.
O destino de Wojtek com o grupo caiu em tempos incertos em meados de 1943, quando a unidade se preparou para embarcar em um navio e juntar-se à campanha Aliada contra a Itália em Nápoles. Oficiais do porto de Alexandria, no Egito, recusaram-se a permitir que ele continuasse, pois ele não fazia oficialmente parte do exército.
Para contornar esta restrição, Wojtek foi oficialmente nomeado para o Exército Polonês como soldado raso e listado entre os soldados da 22ª Companhia de Fornecimento de Artilharia. Henryk Zacharewicz e Dymitr Szawlugo foram designados como seus cuidadores.
Wojtek ganhou não só uma patente, como também um número de serviço e uma carteira de pagamento para legitimar seu status. A estratégia deu certo e ele seguiu com a tropa rumo à Batalha de Monte Cassino.
Quando a unidade chegou à Itália, Wojtek havia crescido significativamente, desde filhote até um urso pardo sírio adulto de 1,80 m de altura e mais de 220 quilos. Fazendo bom uso de seu tamanho e força, o pelotão o ensinou a carregar caixas de morteiros, o que ele teria feito sem falhar durante a sangrenta batalha.
Em Wojtek the Bear – Polish War Hero, Aileen Orr aponta que Wojtek carregava caixas que normalmente exigiam a força de quatro homens. O serviço bem prestado, aliás, lhe rendeu a promoção ao posto de cabo. Em reconhecimento ao seu esforço, a representação de um urso carregando um projétil de artilharia foi adotada como emblema oficial da 22ª Companhia.
O urso não apenas sobreviveu ao conflito como alcançou o status de lenda. Após o fim da Segunda Guerra, Wojtek foi transportado para a Escócia com o restante da 22ª Companhia. A Associação Polaco-Escocesa fez dele um membro honorário.
Após a desmobilização do batalhão, em 15 de novembro de 1947, Wojtek foi entregue ao Zoológico de Edimburgo, onde passou o resto de sua vida, frequentemente visitado por jornalistas e ex-soldados poloneses, alguns dos quais jogavam cigarros para ele comer, como fez durante seu tempo no exército.
Relatos apontam que o urso também se animava toda vez que ouvia algum visitante falando em polonês. Wojtek morreu em dezembro de 1963, aos 21 anos, pesando quase 500 kg e com mais de 1,8 m de altura.