Quando o Pan Am 73 foi sequestrado, em 1986, Neerja Bhanot fez de tudo para salvar os passageiros, mesmo que isso custasse sua vida
Neerja Bhanot foi contratada como comissária de bordo pela Pan American World Airways (Pan Am) em 1985 — ano em que a companhia aérea decidiu ter uma tripulação formada apenas por indianos em suas rotas de Frankfurt para a Índia.
Cerca de um ano depois, Neerja Bhanot já era vista como uma funcionária modelo, não só por sua dedicação, mas pela forma de tratar os passageiros e também por sua capacidade de manter a calma sob momentos de pressão. Em 5 de setembro de 1986, Neerja também se tornou heroína.
Na data em questão, ocorreu uma das mais célebres tentativas de sequestros de uma aeronave da história: o Pan Am 73 (que era um Boeing 747). O voo partiu de Mumbai, na Índia, e tinha como destino a cidade norte-americana de Nova York. A aeronave transportava 361 passageiros e 19 tripulantes.
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Por volta das 6 horas da manhã, o voo fez uma escala em Carachi, no Paquistão; de lá ainda faria outra em Frankfurt antes de seguir para seu destino. Foi justamente neste momento que quatro terroristas — Wadoud Muhammad Hafiz al-Turki, Jamal Saeed Abdul Rahim, Muhammad Abdullah Khalil Hussain arRahayyal e Muhammad Ahmed al-Munawar — assumiram o controle da aeronave após se disfarçarem de seguranças. Eles anunciaram o sequestro do voo ainda antes da decolagem.
Os terroristas faziam parte da Organização Abu Nidal, grupo que defendia a causa palestina e fora apoiado pela Líbia; o mesmo que um ano antes havia sequestrado o voo 648 da EgyptAir — que resultou na morte de 60 pessoas.
A intenção dos extremistas era de que a aeronave fosse até o Chipre e depois voasse para Israel. Nos dois países, membros da facção que estavam presos seriam recolhidos. O principal pedido deles era a libertação de seus aliados.
Conforme relembra a rede indiana de televisão RDTV, é justamente neste cenário que Neerja Bhanot se tornou uma heroína. Diante do perigo que aumentava gradualmente, ela conseguiu ter coragem e manter todos em calma.
Enquanto os terroristas se espalharam pela aeronave e começavam a render os passageiros, Bhanot conseguiu enviar uma mensagem para a cabine do voo; o que permitiu que o piloto, copiloto e engenheiro de voo deixassem a aeronave pela janela do avião e avisassem as autoridades.
Como resultado, agentes de segurança cercaram o Boeing e uma longa negociação se iniciou. O grupo tinha a intenção de identificar e executar todos os passageiros norte-americanos que faziam parte do voo (43 pessoas ao todo).
Para isso, ordenaram que Neerja recolhesse os documentos de todos. No entanto, eles não contavam que a comissária fosse esconder os passaportes dos principais alvos sob o assento de um banco e na rampa de lixo.
Incapazes de identificarem as nacionalidades dos passageiros, os terroristas passaram a pressioná-los. Foi então que Rajesh Kumar, de 29 anos, se identificou. Ele era um indiano que, recentemente, havia se naturalizado americano. Rajesh foi arrastado até a porta da aeronave e baleado na cabeça. Seu corpo foi jogado para o pátio do aeroporto como sinal do que o grupo era capaz.
Passado quatro horas do início do sequestro, os terroristas decidiram usar uma mesma tática que o grupo realizou no sequestro do voo 648: a cada 15 minutos um passageiro aleatório seria morto, da mesma maneira que fizeram com Kumar. Para acalmá-los, Neerja Bhanot ofereceu água e sanduíches. O ato postergou o início de um massacre.
O sequestro durou 17 horas e a tensão dentro da aeronave ficou ainda maior quando o fornecimento de energia do avião foi cortado. No meio da escuridão, os terroristas passaram a atirar para assustar os passageiros. Durante a confusão, uma granada acabou explodindo e abrindo um buraco na fuselagem da aeronave.
Diante do caos, Bhanot aproveitou para abrir uma saída de emergência e começou a ajudar os passageiros e tripulantes a fugirem. Mas, enquanto ajudava na fuga de três crianças, Neerja acabou sendo alvejada pelos terroristas. Apesar de ser socorrida, ela morreu no hospital, apenas dois dias antes de completar 23 anos.
O ato terrorista culminou com a morte de 20 pessoas. Os sequestradores, porém, saíram com vida, mas acabaram presos enquanto tentavam fugir. Os quatro foram condenados à morte no Paquistão, entretanto, uma reportagem do The Quint aponta que os homens receberam a liberdade e acabaram deportados para o território palestino. Em 2001, a inteligência paquistanesa anunciou a morte de Jamal Saeed Abdul Rahim. Mas, a falta de confirmação o mantém na lista de mais procurados do FBI.
A coragem de Neerja Bhanot foi reconhecida com homenagens póstumas. Ela se tornou a mais jovem vencedora do Prêmio Ashok Chakra, alta condecoração indiana por atos de bravura. O Paquistão também a logrou com o Tamgha-e-Insaniyat pelo seu gesto de bondade humana.
Segundo o One India, uma das crianças que Neerja ajudou, que tinha apenas sete anos na época, se tornou capitão de uma grande companhia aérea. Ele afirmou que a comissária foi sua grande inspiração e que deve sua vida aos seus atos.