Aos 17 anos, D. Amélia se tornou imperatriz consorte do Brasil e teve que cuidar de todos os filhos de D. Pedro I
A família imperial brasileira sempre foi tema de diversas discussões, principalmente devido à vida pessoal de seus integrantes. Entre a vida pública e dois casamentos, D. Pedro I passou seus últimos dias de vida com a imperatriz consorte do Brasil, D. Amélia.
Amélia se casou com o imperador para tentar “salvar” o nome da família dela, que não estava consolidado devido à queda de Napoleão Bonaparte, que Apesar da proximidade com o famoso imperador dos franceses, a nobreza da família Leuchtenberg era considerada de segunda linha, o que dificultava a posição deles na corte da Baviera, onde viviam.
Aos 17 anos, então, D. Amélia enfim se tornou a soberana do nosso país, ao lado do marido. Muito bem-educada, com diversas habilidades e também muito bonita, a imperatriz tinha em suas mãos a dura missão de subtituir o lugar anteriormente ocupado por D. Leopoldina, uma soberana muito querida pelos brasileiros.
No livro "D. Amélia: A História Não Contada", que conta com uma pesquisa aprofundada de mais de 20 anos, em diversos países, a pesquisadora e escritora Cláudia Thomé Witte ressalta que, apesar de esse ser um grande desafio, ela também tinha outro obstáculo que era até mais complicado do que ocupar o lugar da imperatriz anterior. Amélia também teria que ser mãe dos filhos de Leopoldina e Pedro I. A escritora explica:
“Dom Pedro I precisava de uma segunda esposa, ele tinha ficado viúvo, só tinha um filho homem (que era do primeiro casamento), então era importante que ele tivesse mais descendentes e, para isso, era necessário que ele se casasse de novo. Era preciso uma pessoa para ser imperatriz, para assumir as funções representativas como imperatriz ao lado dele e também para assumir o papel de mãe dos seus filhos. E é nesse contexto que eles acabam se casando”.
Ela fez o papel de madrasta de todos os filhos de D. Pedro I, cuidando de toda a tutela, educação, e até mesmo alguns trâmites de casamentos de alguns deles. Ao que se sabe, não houve reclamações acerca de seus cuidados aos herdeiros imperiais, nem deles próprios e muito menos da população que assistiu a essas relações
A pesquisadora, entretanto, destaca ao site Aventuras na História, que a relação mais forte que aconteceu entre Amélia e os enteados foi com D. Pedro II, principalmente porque quando ela chegou ao Brasil, Pedro ainda era muito pequeno, o que fez com que os dois passassem mais tempo juntos.
Ela se apegou muito [ao Dom Pedro II]. Ele era muito pequeno quando ela chegou, tinha apenas 4 anos, e de todos os filhos, ele, por ser o caçula, e por não ter nenhuma lembrança da mãe, foi o que mais se afeiçoou rápido a ela”.
Claudia também conta que durante toda a vida de Pedro, os dois mantiveram contato, ainda após a morte de Pedro I. Porém, passaram um tempo separados, se comunicando através de cartas.
“Durante toda a vida, os dois vão manter uma correspondência muito intensa, vão ter um carinho muito grande, embora eles só acabam se reencontrando depois da abdicação, quando ele [Pedro II] já está bem mais velho, e ela, há pouco de falecer, durante uma viagem que Pedro faz para Portugal”, diz Witte. A escritora relembra que esse encontro demorou décadas para ocorrer.
Inclusive, há uma carta de despedidaAmélia para Pedro II — quando ela já não estava mais no Brasil —, em que a imperatriz relata seu amor pelos enteados, mas destaca o papel de Pedro em seu mais puro afeto: “Meu filho do coração e meu imperador, Adeus, menino querido, delícia de minha alma, alegria dos meus olhos, filho que meu coração tinha adotado. Adeus para sempre”.
Em outro trecho, ela chega a dizer que Pedro foi feito para o trono:
És o espetáculo mais tocante que a terra pode oferecer! Quanta grandeza e quanta fraqueza a humanidade encerra, representadas por ti, criança idolatrada: uma coroa, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo, e tu, que comandas exércitos e reges um Império, ainda careces de todos os desvelos e carinhos de mãe. (...) Dorme, criança querida, enquanto nós, teu pai e tua mãe de adoção, partimos para o exílio, sem esperança de nunca mais te vermos... senão em sonhos”.
Entretanto, Claudia contesta a autoria desta tão delicada carta, já que ela defende que, na realidade, teria sido escrita por D. Pedro I e assinada pela imperatriz.