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Colunas / Paulo Rezzutti / Independência do Brasil

Independência do Brasil: O quadro de Pedro Américo é fiel aos fatos?

Uma das obras mais conhecidas por brasileiros, "Independência ou Morte", de Pedro Américo, chama atenção quando falamos da Independência do Brasil

por Thiago Lincolins
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Publicado em 07/09/2024, às 07h00

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Independência ou Morte, por Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888 - Google Arts & Culture
Independência ou Morte, por Pedro Américo, óleo sobre tela, 1888 - Google Arts & Culture

Uma das mais fascinantes atrações do Museu do Ipiranga, em São Paulo, é a imponente tela "Independência ou Morte", pintada pelo paraibano Pedro Américo.

A obra retrata um dos momentos mais importantes da história do Brasil: o dia em que D. Pedro I, filho do rei D. João VI, declarou a independência do Brasil às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. 

Pressões internas e externas

"Tudo começou com a Revolução Liberal do Porto, em 1820, que acaba, basicamente, com o sistema absolutista de D. João VI. É instalada uma corte constitucional em Lisboa e ocorrem eleições, inclusive no Brasil, para mandar deputados para essa constituinte que será escrita. O problema é que eles queriam de volta o rei, mas ele deixa D. Pedro como príncipe regente, o que as cortes constitucionais não queriam", explica Paulo Rezzutti, escritor e pesquisador, em entrevista ao site Aventuras na História. 

D. João VI - Domínio Público

Ele explica que as cortes queriam o total controle total, governando através de Portugal, sem que houvesse alguém exercendo o poder no Brasil separadamente.

Quando os deputados brasileiros chegam na constituinte de Lisboa, eles percebem que muitas coisas foram decididas para o Brasil sem ouvir o país antes. Uma das principais pressões para a independência vem dessa tentativa de Portugal de retomar o controle total sobre o Brasil, que já havia se transformado em reino", relembra Rezzutti.

As consequências da Independência 

Paulo também resgata as consequências imediatas do episódio histórico. "Ocorreu uma espécie de aglutinação nacional em volta do imperador, D. Pedro. O Brasil herdou logo de cara uma guerra, pois, o país já estava em guerra contra os portugueses na Bahia e, em outras regiões do Nordeste e Norte do Brasil. Uma das principais consequências imediatas do processo foi a guerra da independência, que é se livrar dos portugueses, o que só vai ser efetivamente finalizado em 1823. (...) É um processo que contou com a participação de muitas pessoas, inclusive, a própria imperatriz Leopoldina, antes disso ela já deu várias amostras de que queria ficar no Brasil independente do que acontecesse. Ela é importante para o Dia do Fico, ocorrido em janeiro de 1822, durante todo o processo de independência, ela que chefiou o conselho de estado em 2 de setembro de 1822, que aconselha D. Pedro a romper definitivamente com Portugal. Ela é importante como José Bonifácio, Joaquim Gonçalves Ledo e Clemente Pereira". 

Sessão do Conselho de Estado de 1822 - Domínio público

Para marcar o episódio histórico, Pedro Américo criou o quadro, que hoje é alvo de análises que revelam sua discrepância com a realidade dos fatos.

Paulo explica que existe uma confusão quando as pessoas discutem o trabalho de Pedro Américo e o que, de fato, aconteceu no dia que entrou para os livros de História.

"Falam muito que 'o grito não aconteceu', na verdade, o que não aconteceu foi o grito retratado por Pedro Américo no quadro, aquilo, realmente, não aconteceu", explica o autor de "Independência: a história não contada".

Diferenças

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Capa do livro "Independência: a história não contada" - Divulgação

Rezzuti evidencia elementos do quadro que não se encaixam com os eventos ocorridos em 1822. "Você vê D. Pedro I em cima do cavalo, na verdade, ele estava montado num burro. [Naquela época] a subida da serra era feita com mulas, e não com um cavalo bonito como aquele". 

Paulo também explica que as vestimentas utilizadas por cavaleiros da guarda de honra do imperador não se encaixam com o que foi pintado por Pedro Américo.

"Ele usava uma fardeta de oficial de polícia azul, até aí tudo bem. Mas, as vestimentas de todos aqueles cavaleiros da guarda de honra do imperador, que estão em volta de D. Pedro I à beira do Ipiranga, com os dragões da independência, não existia em 1822. (...) Aquilo é uma cena inventada", analisa o pesquisador.

Rezzutti, no entanto, enfatiza que as modificações feitas pelo artista não anulam o que aconteceu naquele 7 de setembro de 1822. 

"Existiu o grito, houve, realmente, a cena onde ele fala 'independência ou morte'. Isso foi registrado por pessoas que estavam com ele, assim que ele recebe as cartas, os despachos enviados da corte do Rio de Janeiro", relembra o escritor. "Ele rompe com as cortes constitucionais portuguesas, por isso o 'Laços fora, soldado!', que era o laço branco e azul da constituinte de Lisboa, das cortes portuguesas". 

O autor também resgata outro fato curioso sobre o dia da independência: D. Pedro I estava com problemas intestinais naquele dia e, como resultado, precisou interromper o trajeto de Santos até São Paulo em diferentes momentos para se aliviar. 

"Houve o grito, mas não daquela forma como a gente conhece através do que foi pintado por Pedro Américo", finaliza o estudioso.