Textos japoneses recém-traduzidos descrevem detalhes impressionantes do Seppuku, antigo ritual de morte dos samurais
Quatro textos históricos que detalham o Seppuku, antigo ritual de morte dos samurais, foram traduzidos para o inglês. Embora o imaginário popular costume imaginar os samurais tirando a própria vida ao perfurar seus próprios estômagos, tal prática era raramente observada durante o Período Edo (1603-1868).
O mais antigo dos textos traduzidos, intitulado "Os Segredos Internos do Seppuku", remonta ao século XVII, explica a Live Science.
"Este documento contém ensinamentos secretos que são tradicionalmente ensinados apenas verbalmente, no entanto, eles foram registrados aqui para que essas lições não sejam esquecidas e os samurais possam ser preparados", escreveu Mizushima Yukinari, um samurai que viveu entre 1607 e 1697, época em que o xogum detinha o controle político efetivo do Japão.
Apesar do imperador ser oficialmente o governante do país, o xogum era quem realmente detinha o poder político, uma linhagem descendente de Tokugawa Ieyasu, que se tornou xogum em 1603.
A tradução em questão foi feita por Eric Shahan, especializado em textos de artes marciais japonesas, e publicada no livro "Kaishaku: O Papel do Segundo".
Os quatro textos foram escritos para instruir os kaishaku sobre seus deveres. No passado, eram eles auxiliavam os guerreiros no ritual, realizando frequentemente a decapitação, explica o autor.
Os textos descrevem minuciosamente o ritual, variando conforme a posição social do samurai e os crimes pelos quais ele poderia ser culpado. É enfatizado que a execução da decapitação deve ser impecável, pois qualquer erro pode resultar em grande desonra.
"É essencial que você não deixe de notar primeiro os olhos e depois os pés da pessoa que está cometendo Seppuku", explica o texto "Tradições Secretas do Seppuku", elaborado em 1840 pelo samurai Kudo Yukihiro. "Se você deixar de fazer isso devido a uma conexão pessoal com o condenado, será prova de que você perdeu seu porte marcial e trará uma vergonha eterna sobre si".
Embora o ritual variasse, muitas versões envolviam oferecer saquê ao condenado antes de levar uma faca em um prato. O condenado poderia cravar a faca em si, mas era frequentemente poupado desse ato; em vez disso, os textos indicam que o kaishaku realizava a decapitação logo após a faca ser apresentada, explicou o autor à Live Science.
Durante o Período Edo, época em que dois dos textos foram escritos, o Japão vivia um período de relativa paz e os samurais não eram tão habilidosos com facas e adagas como no passado.
Nas eras anteriores, quando os samurais realizavam Seppuku perfurando seus próprios estômagos, era seguido um procedimento que envolvia cortar transversalmente o abdômen e depois verticalmente para formar uma cruz.
A posição social do condenado também influenciava a condução da cerimônia. Samurais de alta patente ou aqueles que optavam pelo Seppuku após a morte de seus senhores recebiam tratamento especial. Para esses indivíduos, havia certa liberdade na escolha de como queriam realizar o ritual e aqueles encarregados eram geralmente de alta patente e vestiam trajes formais.
As cabeças decapitadas dos samurais de alto escalão podem ter recebido tratamento especial após a morte. O texto escrito por Yukihiro descreve, por exemplo, que as cabeças deveriam ser perfumadas e envolvidas em um pano branco antes de serem inseridas em uma caixa.
Já os samurais de baixa patente, considerados culpados dos crimes mais graves, podiam receber "yondan" - tratamento de quarto nível - sendo amarrados e decapitados antes de terem suas cabeças jogadas em uma cova.
Entretanto, nem sempre samurais de alta patente recebiam tal consideração. Um exemplo é Oda Nobunaga, provavelmente a pessoa mais importante a passar pelo ritual de Seppuku.
Em 1582, após ser traído por Akechi Mitsuhide no Templo Honnoji em Kyoto, Nobunaga escolheu Seppuku sob circunstâncias extremas, possivelmente não teve tempo para organizar uma cerimônia regrada.
