No mais recente da série do historiador Rodrigo Trespach, partes menos faladas do confronto que mudou o mundo
A Primeira Guerra é uma espécie de patinho feio da cultura popular. Só para se ter uma ideia, existem poucos filmes sobre o conflito, enquanto a Segunda Guerra tem inúmeros. Mas é fácil entender por que não rende muito entretenimento.
Soldados atolados por meses em trincheiras para morrerem de gangrena nos pés ou serem forçados a avançar inutilmente contra metralhadoras dificilmente são material para blockbuster. As máquinas eram poucas e desengonçadas. E, se a Alemanha faz as vezes de vilão, o kaiser Guilherme parece um monge tibetano se comparado a Adolf Hitler.
Essa ausência talvez seja inevitável, mas é também completamente injusta com a importância da Primeira Guerra. O mundo de hoje foi parido pelo massacre. Agora, Histórias Não (ou mal) Contadas: Primeira Guerra Mundial, 1914 -1918, do historiador Rodrigo Trespach, apresenta curiosidades e fatos não muito conhecidos sobre o conflito.
Com uma linguagem simples, o autor desconstrói a imagem popular de que o conflito se resumiu a uma guerra de trincheiras. “O que eu tentei fazer, uma vez mais, foi dar visibilidade a histórias que deveriam ser bem contadas em salas de aula.”
Trespach apresenta, por exemplo, um dos episódios mais curiosos sobre o embate, quando a russa Maria Bochkareva, em 1917, se alistou na guerra e chegou à patente de sargento. Em seguida, ela seria responsável por formar o “Batalhão Feminino da Morte”, um grupo de 300 mulheres que lutaram pelo país no lugar dos homens. Além disso, a obra também detalha como se deu a participação do Brasil no conflito, um fato pouco conhecido em solo brasileiro.
O livro permite que o leitor tenha acesso a fatos que não estão presentes em livros escolares ou nas grandes produções de Hollywood. Confira um trecho:
“(...) A prostituição não era o único problema ligado ao sexo durante a Grande Guerra. Na França, houve um intenso debate sobre os estupros perpetrados por soldados alemães ou a chamada ‘prostituição de guerra’. Algumas mulheres exigiram o direito de abortar o feto, apoiadas por um médico, alergistas e eugenistas que argumentavam que o ‘filho de um Boche’, como eram chamados os soldados alemães, seria um ‘inimigo interno’. Os filhos nascidos dos estupros foram chamados também de ‘filhos de bárbaros.”
Histórias Não (ou mal) Contadas: Primeira Guerra Mundial, 1914 -1918, Rodrigo Trespach, HarperCollins Brasil, 240 páginas, R$ 39,90.