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Notícias / Humanidade

Humanos sobreviveram a supererupção do Monte Toba há 74 mil anos

A grande erupção, uma das maiores da história da Terra, causou enorme problema no clima mundial, mas pode ter sido menos apocalíptica do que se pensa

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 26/03/2024, às 12h14

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Imagem ilustrativa - Gylfi via Pixabay
Imagem ilustrativa - Gylfi via Pixabay

Uma supererupção — uma das maiores de todos os tempos — acometeu o Monte Toba, em Sumatra, há cerca de 74 mil anos. O evento, potencialmente, causou um enorme problema no clima mundial. 

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Acredita-se que o evento tenha ocasionado o extermínio de grande parte dos primeiros humanos, visto que evidências genéticas apontam que houve uma queda brusca na população da época. 

Entretanto, um estudo recente, publicado na revista Nature, analisou um sítio arqueológico no noroeste da Etiópia, que foi ocupado por humanos modernos primitivos. Foi descoberto que a tragédia não teria sido tão apocalíptica quanto se pensa. 

A pesquisa ainda aponta que os humanos que viviam naquele local, que erma conhecidos como Shinfa-Metema 1, teriam se adaptado às condições áridas ocasionadas pela erupção. O evento ainda pode ter favorecido a migração dos humanos para fora da África. 

Ao analisarem as proximidades do rio Shinfa da Etiópia, os pesquisadores constataram que os humanos ocupavam a região antes da erupção que ocorrera a mais de 6 mil quilômetros de distância.

A descoberta se deu mediante fragmentos microscópicos de vidro vulcânico achados com ferramentas de pedras e restos mortais de animais que estavam na mesma camada de sedimento no sítio Shinfa-Metema 1

Esses fragmentos têm menos que o diâmetro de um fio de cabelo humano. Mesmo tão pequenos quanto, ainda são grandes o suficiente para analisar a química e os elementos traço", explica o principal autor do estudo John Kappelman, professor de antropologia e ciência geológica na Universidade do Texas em Austin.

Por meio da análise fóssil e dos artefatos que estavam por lá, assim como estudos geológicos e moleculares, os pesquisadores passaram a compreender como se deu o avanço dos humanos que ocupavam o local — apesar da mudança climática causada pela erupção vulcânica

Alimentação, migração e flechas

Uma análise detalhada na fauna e flora da região evidenciou que os animais que vivam no local se alimentavam de plantas que cresciam em condições mais secas. Outro ponto constatado, é que existia uma abundância de restos de peixes depois do evento climático — um fato raro, visto que não é comum que esses animais sejam encontrados em outros sítios do Paleolítico, aponta o estudo. 

As pessoas começam a aumentar a porcentagem de peixes na dieta quando o vulcão Toba chega. Elas estão capturando e processando quase quatro vezes mais peixes [do que o período anterior à erupção]", diz Kappelman.

"Achamos que a razão para isso é porque se o vulcão Toba está, de fato, criando mais aridez, isso significa que será uma estação chuvosa mais curta, o que significa estação seca mais longa", continua.

Acredita-se que o período de clima mais seco, curiosamente, gerou maior dependência do consumo de peixes, visto que conforme o rio diminuia, eles acabavam presos em buracos de água ou riachos mais rasos; o que facilitava o trabalho dos caçadores. 

Além disso, os buracos de água onde estavam os peixes também podem ter contribuído para o que os pesquisadores chamaram de "corredor azul" — passagem pela qual os primeiros humanos teriam deixado o norte da África para fora do continente após a escassez dos peixes. A teoria vai contra o modelo de migração dos "corredores verdes"; que sugerem que o processo se deu durante os períodos úmidos. 

Por fim, na região, os estudiosos também encontraram restos de pontos triangulares pequenos, que sugerem que os habitantes de lá foram um dos primeiros a fazerem uso de arcos e flechas para caçar não só peixes como outras presas maiores. 

Pontas triangulares encontradas no sítio - Blue Nile Survey Project

"Os autores também destacam indicadores muito claros sugerindo a existência de arco e flecha aqui há 74.000 anos", aponta Ludovic Slimak, pesquisador do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica e da Universidade de Toulouse, que não fez parte da pesquisa, em e-mail enviado à CNN. 

Portanto, há todas as razões para considerar esses antigos Homo sapiens como portadores de tecnologias já altamente avançadas, em grande parte emancipadas de constrangimentos naturais e climáticos, fatores cruciais para entender suas migrações posteriores, em todos os continentes e sob todas as latitudes", concluiu.