Em 2019, vinte e duas pessoas morreram na Nova Zelândia por estarem no lugar errado na hora errada: um vulcão ativo
Nesta semana, um tribunal da Nova Zelândia considerou a empresa Whakaari Management Limited (WML) culpada de uma série de acusações em conexão com a erupção do Whakaari, em 2019.
Criada pelos três irmãos, que administravam o acesso à ilha onde está o vulcão ativo, a companhia se declarava inocente desde o início do julgamento, negando responsabilidade em relação às mortes dos visitantes do local.
A Justiça neozelandesa, no entanto, decidiu que o fato de terem permitido o acesso ao território para a realização de expedições turísticas, durante períodos de risco de erupção, constituiu uma violação de leis de segurança e saúde pública do país. Ou, nas palavras do juiz Evangelos Thomas, "uma grande falha", conforme repercutiu o G1. Confira abaixo como ocorreu o desastre há quatro anos.
Em dezembro de 2019, uma expedição turística ao vulcão Ilha Branca, também conhecido Whakaari, terminou em tragédia quando a formação geológica entrou em erupção, surpreendendo os 47 turistas presentes no local.
Uma nuvem de cinzas e vapor em altas temperaturas foi cuspida pela cratera vulcânica, tomando o céu do vulcão. 22 visitantes morreram em decorrência de queimaduras e inalação de fumaça. Os outros 25 sobreviveram, mas não sem ficarem feridos. Muitos gravemente. Abaixo, é possível ver um vídeo feito por um dos turistas que saiu do local a tempo:
My god, White Island volcano in New Zealand erupted today for first time since 2001. My family and I had gotten off it 20 minutes before, were waiting at our boat about to leave when we saw it. Boat ride home tending to people our boat rescued was indescribable. #whiteislandpic.twitter.com/QJwWi12Tvt
— Michael Schade (@sch) December 9, 2019
Na época, um casal de brasileiros, que reside na Austrália, sobreviveu a tragédia, e compartilhou o terror vivido no momento em que o vulcão entrou em erupção.
"A coisa mais louca da nossa vida acaba de acontecer. A gente passeou no vulcão uma hora e pouco. Dez minutos depois que a gente deixou (o local) e entrou no barco, o vulcão entrou em erupção", escreveu Aline Moura, em 2019, no seu perfil do Instagram.
Aline, que estava acompanhada de Allessandro Kauffmann, se encontrava apenas no primeiro dia da viagem. Após a tragédia, o barco no qual se encontravam rodeou a ilha em busca de sobreviventes. A operação durou quase uma hora.
Todo mundo estava machucado por causa do ar, da água quente. Tava todo mundo com queimaduras, alguns muito graves, outros nem tanto. E não sei ainda se resgataram todas as pessoas", destacou ela na época.
Nos dois meses anteriores ao episódio devastador, é importante mencionar que pesquisadores da GNS Science, um instituto de pesquisa neozelandês, detectaram sinais indicativos de que uma erupção poderia acontecer — como um aumento na quantidade de vapor, lama e dióxido de enxofre que eram expelidos pela cratera do Whakaari.
Como resultado, o vulcão estava em Alerta Nível 2. Apesar disso, as expedições turísticas diárias à Ilha Branca continuaram normalmente. A empresa por trás de sua organização, a White Island Tours, chegou a abordar a situação no site:
"Whakaari está atualmente em Alerta Nível 2. Este nível indica agitação vulcânica moderada a elevada, existe o potencial para riscos de erupção. A White Island Tours opera com vários níveis de alerta, mas os passageiros devem estar cientes de que sempre existe o risco de atividade eruptiva, independentemente do nível de alerta. A White Island Tours segue um plano de segurança abrangente que determina as nossas atividades na ilha aos vários níveis", afirmou a companhia no comunicado, conforme repercutiu o Esquire.
A companhia turística, vale apontar, também foi indiciada por conta do episódio, tal como ocorreu com a sua contratante, Whakaari Management Limited (WML), recentemente condenada.
A WLM, aliás, foi a última das treze partes processadas criminalmente em conexão com a tragédia. Apenas seis dessas se declararam culpadas, enquanto todas as outras alegaram inocência, de forma que o governo da Nova Zelândia precisou dar início a uma série de julgamentos.
Segundo informações do The Guardian, os turistas que visitaram o vulcão Ilha Branca não foram informados pelos guias de que corriam qualquer perigo por estarem ali.
Ao mesmo tempo, não receberam equipamentos de segurança adequados. Apenas a oferta opcional de máquinas de oxigênio, a fim de que pudessem respirar melhor em meio ao dióxido de enxofre liberado nas proximidades da cratera.
As consequências dessa negligência por parte dos responsáveis pela administração do turismo no Whakaari foram, infelizmente, mortais. Agora, a WLM aguarda sua sentença, que pode ser uma multa de até 928 mil dólares, ou o equivalente a 4,6 milhões de reais na cotação atual.
A tragédia foi relembrada no ano passado pela plataforma de streaming Netflix através do documentário 'Vulcão Whakaari: Resgate na Nova Zelândia'. Além de relatos de sobreviventes e familiares de vítimas, o documentário também conta com imagens e vídeos do momento em que o vulcão entrou em erupção.