O japonês Iwao Hakamada passou décadas no corredor da morte após ser condenado injustamente por quatro assassinatos em 1968
Iwao Hakamada, um japonês condenado injustamente por assassinato e que foi o prisioneiro no corredor da morte há mais tempo no mundo, recebeu uma indenização de 1,4 milhão de dólares (8 milhões de reais), informou um porta-voz do Judiciário nesta terça-feira, 25, à AFP.
O valor equivale a 12.500 ienes (R$ 476) por cada dia das mais de quatro décadas em que ele esteve preso, grande parte desse período aguardando a execução. O ex-boxeador, hoje com 89 anos, foi exonerado no ano passado das acusações de quatro homicídios cometidos em 1966. Seu caso se tornou um símbolo para os defensores da abolição da pena capital no Japão, uma minoria no país, segundo diversas pesquisas.
Em setembro do ano passado, o tribunal distrital de Shizuoka havia decidido que Hakamada era inocente e que a polícia havia adulterado provas contra ele. Inicialmente, ele havia confessado os crimes, mas depois retratou sua declaração, alegando que foi coagido por meio de interrogatórios violentos. A defesa também sustentou que evidências, como roupas ensanguentadas, foram forjadas pelos investigadores.
A decisão desta terça-feira reconheceu que Hakamada foi submetido a "interrogatórios desumanos para forçar uma confissão", que posteriormente foi retirada. Em 2014, um tribunal já havia levantado dúvidas sobre a condenação, ao constatar que o DNA encontrado nas roupas não correspondia ao dele, repercute o The Guardian.
O montante concedido é considerado um recorde mundial para indenizações desse tipo, segundo a mídia local. No entanto, os apoiadores de Hakamada destacam que o valor não pode compensar os danos psicológicos que ele sofreu. De acordo com seus advogados, as décadas de encarceramento sob a ameaça constante de execução afetaram profundamente sua saúde mental, e hoje ele "vive em um mundo de fantasia".
No Japão, as execuções ocorrem sob sigilo, com os condenados sendo avisados apenas poucas horas antes da execução, que é realizada exclusivamente por enforcamento. Familiares e advogados geralmente só são informados após a execução.
Hakamada foi o quinto prisioneiro no corredor da morte a conseguir um novo julgamento na história do país pós-guerra. Todos os quatro casos anteriores também terminaram com exoneração.