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Notícias / Civilizações

Estudo revela que famílias europeias antigas viviam sob grande complexidade social

A pesquisa desafia visões tradicionais da antiga estratificação social

Fabio Previdelli Publicado em 15/10/2019, às 18h13

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Reprodução
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Os primeiros indícios de desigualdade social na Europa surgiram durante a Idade do Bronze, com a revelação de túmulos repletos de artigos de luxo que pertenciam a pessoas da elite. Porém, uma ordem social hierárquica composta por ricos e pobres que viviam na mesma família era comum nesse período, pelo menos é o que sugere um recente estudo publicado na revista Science.

A afirmação se dá depois de uma equipe de pesquisadores analisarem mais de 100 enterros em cemitérios pré-históricos no vale de Lech, na Baviera. Usando dados de DNA antigos, eles reconstruíram árvores genealógicas das famílias. E com a análise isotópica dos esqueletos, foi possível entender onde os indivíduos foram criados e o quanto viajaram durante a vida.

“Alguns padrões intrigantes surgiram a partir dos resultados”, diz Alissa Mittnik , geneticista da Harvard Medical School e coautora do estudo. Cada cemitério tendia a ser ocupado por uma família central que permaneceu por quatro ou cinco gerações. Os membros da família tendiam a serem enterrados uns ao lado dos outros e a ter mais sinais de riqueza, como ornamentos e armas, em seus túmulos.

Cerca de 60% das mulheres enterradas nas fazendas do vale de Lech foram classificadas como "não locais", pois não possuíam vínculos genéticos com todos os outros indivíduos da amostra, e suas assinaturas isotópicas sugeriam que elas vinham de regiões que ficavam a centenas de quilômetros de distância.

Homens eram enterrados com objetos que sinalizavam sua riqueza e status, como esta adaga / Crédito: Reprodução


Apesar de não pertencerem genuinamente a aquela comunidade, elas eram enterradas no mesmo tipo de túmulo que as mulheres locais de alto status. "Ainda estamos nos perguntando sobre a identidade e o papel dessas mulheres nessas comunidades", diz Mittnik.

 "Uma das teorias que temos é de que podem ser mulheres de alto status de comunidades mais distantes, que podem ter se casado com essas famílias". Nenhuma filha adulta dos homens da família principal foi encontrada nos locais, sugerindo que elas também podem ter migrado para se casarem em outras comunidades.

Enquanto isso, indivíduos enterrados sem bens funerários foram apontadas como pessoas locais que não eram geneticamente relacionadas às famílias centrais. "Nós interpretamos esses indivíduos como possivelmente servos ou talvez até escravos", explica a geneticista.

"Isso dá a primeira visão de um tipo de família socialmente complexa na pré-história. Vemos um tipo de desigualdade social acontecendo aqui que antes não era realmente visível". Eles imaginam que a estrutura social dentro dessas casas poderia ter sido semelhante às famílias de 1.500 anos depois, como as que viveram na Grécia e Roma antigas, quando empregados domésticos e escravos eram comuns.

Uma mulher enterrada com joias elaboradas veio de centenas de quilômetros / Crédito: Reprodução


Porém, Michael Smith, um arqueólogo da Universidade Estadual do Arizona que estudou a desigualdade histórica em outras partes do mundo, diz que não é necessariamente surpreendente que pessoas além da família imediata vivam em uma única casa e alertaram contra a suposição de que esses forasteiros eram escravos ou servos.

No entanto, ele ficou empolgado com os resultados. "A ideia de usar as evidências do DNA para analisar as relações de parentesco e a desigualdade em escala local, acho que tem muitas promessas, e seria ótimo se tivéssemos mais casos em que você pudesse fazer esse tipo de análise".

Apesar do estudo ainda gerar alguns questionamentos, como o que aconteceu com os filhos das mulheres não locais, Mittnik e seus colegas ainda busca indícios que possam solucionar essa questão, embora eles especulem que essas crianças possam ter sido usadas em algum tipo de troca.

"Essas crianças podem ter sido enviadas de volta às comunidades originais das mães, possivelmente como uma forma de fortalecer conexões comerciais ou redes conjugais ou redes culturais a grandes distâncias".