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Notícias / Arte

Cornelius Gurlitt, o herdeiro do espólio nazista que mantinha obras escondidas

Coleção permaneceu oculta durante décadas, até que, em 2011, foram encontradas as primeiras obras de arte em um apartamento em Munique

por Giovanna Gomes
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Publicado em 19/08/2024, às 19h00

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Fachada da residência onde quadros foram encontrados; à direita, obra de - Getty Images
Fachada da residência onde quadros foram encontrados; à direita, obra de - Getty Images

Cornelius Gurlitt, filho de Hildebrand Gurlitt — um negociante de arte a quem o regime nazista recorreu para vender obras saqueadas — herdou, após a morte do pai, uma valiosa coleção.

No fim da Segunda Guerra Mundial, Hildebrand conseguiu convencer os interrogadores de que as pinturas haviam sido destruídas nos bombardeios de Dresden em 1945, o que permitiu que a primeira parte da coleção só fosse descoberta em 2011.

A descoberta

O segredo de Cornelius, que levava uma vida bastante reservada, ficou a um passo de ser revelado quando, em setembro de 2010, fiscais alfandegários alemães abordaram um homem de cabelo branco em um trem de Zurique para Munique, suspeitando que ele estivesse utilizando bancos suíços para evasão fiscal.

Obras de Conrad Felixmueller e Wilhelm Lachnit / Crédito: Getty Images

Ao pedirem seus documentos, ele apresentou um passaporte austríaco em nome de Rolf Nikolaus Cornelius Gurlitt, nascido em Hamburgo em 1933 e residente em Salzburg, na Áustria. Na época, Gurlitt afirmou que havia feito uma transação na galeria Kornfeld, em Berna, e mostrou um envelope com nove mil euros — mil euros abaixo do limite que exigiria declaração na fronteira.

De acordo com o portal de notícias Público, ao investigá-lo, as autoridades descobriram que ele não vivia em Salzburg. Além disso, o homem não estava registrado na polícia, não tinha número de contribuinte, não recebia pensão e não possuía seguro.

Com um mandado de busca, revistaram seu apartamento em Munique, onde encontraram mais de 1.400 telas escondidas atrás de velhas latas de comida vencida. Entre as obras, estavam pinturas de Picasso, Matisse, Chagall, Gauguin, Otto Dix, além de um Dürer e telas de Canaletto, Courbet e Renoir.

Obras de Hans Christoph e Otto Griebel / Crédito: Getty Images

Caso silenciado

Embora a apreensão tenha ocorrido em 2011, o achado foi mantido em segredo até que a revista alemã Focus revelasse que as autoridades haviam silenciado a descoberta de um vasto lote de arte moderna, grande parte presumivelmente saqueada durante o regime nazista.

Anos mais tarde, em fevereiro de 2014 — poucos meses antes da morte do alemão — as autoridades austríacas encontrariam outras 60 obras escondidas em uma segunda residência do colecionador, em Salzburg.

Segundo o portal de notícias, a suspeita de que o apartamento não era o único esconderijo de suas obras surgiu quando se revelou que ele havia vendido secretamente uma tela de Max Beckmann, mesmo depois que o espólio em Munique já havia sido confiscado e guardado em um depósito alfandegário pelas autoridades alemãs.

Pintura de autoria de Bernhard Kretschmar / Crédito: Getty Images

Obras roubadas

Em abril de 2014, as autoridades alemãs chegaram a um acordo com Gurlitt, concordando em devolver parte das obras caso ele cooperasse com uma equipe nomeada pelo governo para identificar as telas roubadas e garantir a devolução aos legítimos herdeiros.

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Até agora, 380 obras foram identificadas como saqueadas pelos nazistas, enquanto os especialistas estimam que mais 590 obras também possam ter sido roubadas, exigindo investigações mais aprofundadas.

Cornelius Gurlitt, nascido em Hamburgo, estudou em Dresden após a guerra, concluiu o ensino médio em Düsseldorf e posteriormente estudou História da Arte na Universidade de Colônia. Segundo seu porta-voz, ele morreu em Munique, acompanhado apenas por seu médico e uma enfermeira.