Donald Trump prometeu a deportação em massa de migrantes após reeleição; mas ministro da imigração do Canadá diz que "nem todos são bem-vindos" no país
Publicado em 13/11/2024, às 11h30
Recentemente, o ministro da imigração do Canadá chamou atenção ao dizer que "nem todos são bem-vindos" no país. O comentário se faz relevante, pois agora autoridades do Canadá se preparam para um aumento de migrantes no país, especialmente quando Donald Trump retornar à Casa Branca como presidente, em 20 de janeiro de 2025.
Isso se deve ao fato de o recém-eleito presidente ter prometido promulgar a maior deportação em massa do país, quando assumir o cargo. Segundo Tom Homan, funcionário que ajuda a supervisionar a política, a nova administração terá como principais alvos os que vivem ilegalmente nos Estados Unidos, considerando-os uma ameaça à segurança pública.
Porém, o que muitas autoridades hoje esperam é que o efeito dessas medidas acabe levando muitas pessoas que habitam os Estados Unidos sem documentação a fugir em direção ao norte — cruzando, assim, áreas não patrulhadas da fronteira, a partir de meios ilegais.
Ao Globe and Mail, o ministro da imigração do Canadá, Marc Miller, disse que seu governo "sempre agiria de acordo com o interesse nacional [...] para garantir que nossas fronteiras sejam seguras, que as pessoas que vêm ao Canadá o façam de forma regular e a realidade de que nem todos são bem-vindos aqui".
Vale mencionar que, no primeiro mandato de Trump, dezenas de milhares de haitianos que viviam nos EUA fugiram para o Canadá, após o presidente encerrar o status de proteção temporária para estas pessoas no país. Nessa época, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, prometeu que sua população acolheria os requerentes de asilo, o que denota uma grande mudança no posicionamento do Canadá, segundo especialistas em migração.
Para aqueles que fogem da perseguição, do terror e da guerra, os canadenses os receberão, independentemente de sua fé. A diversidade é nossa força #WelcomeToCanada", publicou Trudeau em suas redes sociais na época.
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Além do posicionamento de Miller, a polícia federal do Canadá pontuou que planeja lidar com um novo aumento de travessias há "vários meses". Chrystia Freeland, vice-primeira-ministra, disse anteriormente que seu governo "reconheceu a importância da segurança da fronteira e [...] de controlar quem entra e quem não entra no Canadá".
Porém, especialistas em migração atestam que esse posicionamento duro do governo sobre a segurança da fronteira pode ser um precedente de uma crise humanitária. Isso, por sua vez, vai em oposição às responsabilidades morais e da convenção sobre refugiados, que antes eram destacadas.
A primeira e única resposta do Canadá ao que pode ser perseguição em um país vizinho é: 'Como evitamos que as pessoas escapem para o nosso país?' É certamente familiar, nada surpreendente e decepcionante", explica Audrey Macklin, professora de direito da Universidade de Toronto, ao The Guardian.
Vale destacar que convenção sobre refugiados determina que um país não pode rejeitar um requerente de asilo, contanto que ele possua um medo bem fundamentado de perseguição em seu país de origem. Até 2005, era possível reivindicar asilo logo nos portos de entrada, mas um acordo entre os Estados Unidos e o Canadá, o Safe Third Country Agreement, mudou isso. Desde então, o Canadá podia enviar requerentes de volta para os EUA, e vice-versa.
"A ideia era que você não os está enviando de volta para o país onde eles temem perseguição. Você está apenas enviando-os para os Estados Unidos", continuaMacklin. "Incorporada ao acordo está a ideia de que os Estados Unidos são um país seguro para as pessoas buscarem e obterem proteção de refugiados".
Com mudanças recentes no acordo, tornou-se ainda mais difícil pedir asilo no Canadá, partindo dos EUA. Logo, as famílias que desejarem migrar para o Canadá com a reeleição de Trump podem acabar tomando rotas cada vez mais perigosas; o que, conforme explica Macklin, se torna um "imenso programa de estímulo ao emprego para contrabandistas".
A regra atual de asilo no Canadá consiste em que uma pessoa pode fazer o pedido, contanto que permaneça no país por 14 dias sem ser detectada. "O Canadá e os Estados Unidos criaram um mercado para contrabandistas ao tornar impossível pedir proteção de refugiados em um porto de entrada, porque se pudessem, se as pessoas pudessem fazer isso, elas não precisariam, não usariam contrabandistas. E agora as pessoas vão ter que pagar o contrabandista para escondê-las por 14 dias".
Caso o Canadá realmente quisesse impedir que pessoas façam viagens perigosas partindo dos Estados Unidos, o país deveria rever o acordo atual, na opinião de Macklin.
"Se alguém realmente se importasse com os danos causados aos requerentes de asilo, se alguém estivesse absolutamente preocupado com seu bem-estar, não os forçaria a entrar em um sistema onde eles são obrigados a usar os serviços de contrabandistas ou traficantes, tomar rotas arriscadas que os colocam em risco de ferimentos, congelamento de membros e outras formas de perigo", conclui.