Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras registrou número elevado de mortes de transgêneros em 2021
O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans pelo 13º ano consecutivo, apontaram dados do Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras, realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Segundo o relatório, 140 pessoas transgênero foram assassinadas no país em 2021, número composto pelas mortes de 135 travestis e mulheres transexuais e cinco homens trans e pessoas transmasculinas.
Comparado a 2020, os casos diminuíram, quando foram registradas 175 assassinatos de pessoas trans. Ainda assim, o número permanece superior ao de 2019, anterior à pandemia de covid-19, ano em 124 pessoas trans foram mortas.
Ainda de acordo com o dossiê da Antra, é importante ressaltar que os assassinatos computados em 2021 permanecem superiores à média 123,8 homicídios desse tipo desde 2008, como reportou a Agência Brasil.
O perfil das vítimas mostra que a maioria se considerava preta ou parda e estava entre os 18 e 39 anos. Além disso, 78% das pessoas trans mortas também atuavam como profissionais do sexo.
Segundo a autora da pesquisa, Bruna Benevides, muitas foram “empurradas para a prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, onde muitas se encontram em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, a toda a sorte de agressões físicas e psicológicas.”
O estado de São Paulo ocupa o primeiro lugar na relação de distribuição geográfica dos homicídios, com 25 assassinatos, seguido por Bahia, com 13, Rio de Janeiro, 12, Ceará e Pernambuco, contando com 11 mortes de pessoas trans em 2021. Também foram registrados dois casos de brasileiras na França e em Portugal.
O dossiê ressaltou que a pandemia de covid-19 tornou agravou a situação difícil da comunidade trans no Brasil, dificultando o acesso a auxílios governamentais e empregos, por exemplo, em decorrência da crise sanitária, econômica e social.
O contexto também se reflete na dificuldade de acesso a dados sobre pessoas LGBTQ+ e informações sobre violações de seus direitos, o que aconteceu durante a pesquisa, em que foram encontradas dificuldades de obtenção de dados com recortes incluindo essas pessoas.
“Nos casos de assassinatos, muitas vezes esses dados se perdem nos próprios registros de ocorrência. Da mesma forma, nos laudos dos Institutos Médicos Legais, ignora-se a identidade de gênero da pessoa, se destoante do padrão sexual binário”, explicou Benevides.