Em 1995, Diana quebrou o silêncio sobre tudo que viveu na corte da rainha Elizabeth II
Além do aguardado 'vestido da vingança', outro ponto que instigava os fãs de 'The Crown' na espera pela quinta temporada, lançada na última semana, era a polêmica entrevista que Diana Spencer, princesa de Gales, cedeu ao programa Panaroma, da BBC, em 1995.
Já separada do príncipe Charles, então herdeiro do trono, Diana quebrou seu silêncio a respeito de muitos assuntos turbulentos que marcaram sua passagem na corte da rainha Elizabeth II. Em um dos mais notáveis trechos da entrevista, a princesa de Gales falou abertamente sobre a traição do marido com Camilla Parker Bowles.
Bem, havia três de nós neste casamento, então estava um pouco lotado", disse Diana. "Assumo alguma responsabilidade por nosso casamento ter sido como foi. Vou assumir a metade, mas eu não vou assumir mais do que isso, porque são necessários dois para entrar nesta situação".
Todavia, a série reproduz breves frases ditas por Lady Di durante a conversa. Com isso, o site Aventuras na História mostra os principais pontos abordados pela princesa de Gales durante a conversa.
Se tornando sensação ao redor do mundo pelo seu carisma e estilo, Diana encontrou outro obstáculo: o assédio dos paparazzi. Durante a entrevista, ela destacou que "o aspecto mais assustador foi a atenção da mídia".
Durante a conversa, Diana disse que havia recebido uma outra visão a respeito da maneira como a mídia abordaria o casal. "(...) Meu marido e eu, quando ficamos noivos, fomos informados que a mídia iria trabalhar em silêncio, e não foi assim; e então quando nos casamos, eles disseram que ia ser tranquilo e não foi; e então começou a se concentrar muito em mim, e eu parecia estar na capa de um jornal todos os dias, o que é uma experiência de isolamento, e o quanto mais alto a mídia te coloca, maior será a queda. E eu estava muito ciente disso".
Outro ponto abordado pela princesa - que foi reproduzido na quarta temporada do seriado - é a famosa turnê realizada por ela e o marido no ano de 1983 na Austrália e Nova Zelândia. Foi o momento em que Diana percebeu o 'papel exigente' em que se encontrava.
"Fomos para Alice Springs, na Austrália, e fizemos uma caminhada, e eu disse ao meu marido: 'O que eu faço agora?'", destacou Lady Di. "E ele disse: 'Vá para o outro lado e fale com [a imprensa].' Eu disse: 'Não posso, simplesmente não posso'. Ele disse: 'Bem, você tem que fazer isso.' E ele saiu e fez a sua parte, e eu saí e fiz a minha parte. Isso praticamente acabou comigo naquele momento, e de repente eu percebi—Eu voltei para o nosso quarto de hotel e percebi o impacto, sabe, eu tive que me resolver". Depois da viagem, "eu era uma pessoa diferente. Percebi o senso de dever, o nível de intensidade de interesse e o papel exigente em que me encontrava agora".
Ainda sobre a atenção que passou a receber do público, Diana fora questionada se chegou a se sentir honrada com isso. Todavia, a resposta é bem diferente do que muitos imaginaram na época, afinal, Charles não gostava de se sentir em segundo plano.
"Não, não particularmente porque com a atenção da mídia veio muito ciúmes. Muitas situações complicadas surgiram por causa disso", disse a princesa.
A princesa também falou sobre o seu papel na realeza, que ficou marcado por dar atenção as pessoas que geralmente são esquecidas pela sociedade. Foi com isso, inclusive, que Diana foi apelidada de 'princesa do povo'.
"Eu me vi cada vez mais envolvida com pessoas que foram rejeitadas pela sociedade—eu diria, viciados em drogas, alcoolismo, feridos por isso e por aquilo—e eu encontrei uma afinidade ali", explicou ela. "E eu respeitei muito a honestidade que encontrei nesse nível com as pessoas que conheci, porque nos hospícios, por exemplo, quando as pessoas estão morrendo, elas são muito mais abertas e mais vulneráveis, e muito mais reais do que as outras pessoas. E eu apreciei isso".
A entrevista também foi marcada por outro ponto delicado revelado por Diana: a sua depressão pós-parto após o nascimento do príncipe William. "Isso por si só foi um pouco difícil. Você acordava de manhã sentindo que não queria sair da cama, se sentia incompreendida e muito, muito deprimida".
Diana também respondeu se recebeu ajuda: "Recebi muito tratamento, mas sabia por mim mesma que, na verdade, o que precisava era de espaço e tempo para me adaptar a todos os diferentes papéis que surgiram em meu caminho. Eu sabia que poderia fazer isso, mas eu precisava que as pessoas fossem pacientes e me dessem espaço para fazer isso".
A princesa também falou sobre ser taxada de 'instável' e 'desequilibrada'. "Bem, talvez eu tenha sido a primeira pessoa nesta família que teve uma depressão ou chorou abertamente", relembrou ela. "E obviamente isso foi assustador, porque se você nunca viu isso antes, como você presta apoio?" Então, "isso deu a todos um novo rótulo maravilhoso: Diana é instável e Diana é mentalmente desequilibrada. E, infelizmente, isso parece ter permanecido intermitente ao longo dos anos".
Diana também falou sobre a automutilação, um assunto que era comentado, mas nunca confirmado.
"Por exemplo, você tem tanta dor dentro de si que tenta se machucar externamente porque quer ajuda, mas é a ajuda errada que você está pedindo", disse Diana. "As pessoas veem isso como um lobo chorando ou em busca de atenção, e acham que porque você está na mídia o tempo todo, você tem atenção suficiente. Mas eu estava realmente chorando porque queria melhorar para seguir em frente e continuar meu dever e meu papel como esposa, mãe, princesa de Gales".
Em seguida, Diana confessa: "Então, sim, eu infligi a mim mesma. Não gostava de mim mesma, tinha vergonha porque não conseguia suportar as pressões". Diana também disse que chegou a machucar as pernas e os braços.
A nora da rainha Elizabeth II não deixou de abordar o seu grave problema com a bulimia, que também era alvo de comentários. "Você inflige isso a si mesma porque sua autoestima está baixa e você não se acha digna ou de valor", explicou Diana ao comparar o ato com "ter um par de braços em volta de você, mas é... temporário. Então você fica enojado com o inchaço do seu estômago, e então você traz tudo à tona novamente".
A comida passou a ser o consolo de Diana, contudo "era um sintoma do que estava acontecendo em meu casamento. Eu estava gritando por ajuda, mas dando os sinais errados, e as pessoas estavam usando minha bulimia como um casaco em um cabide: eles decidiram que esse era o problema—Diana era instável".
Diana também falou sobre a intimidade com o príncipe Charles. Antes mesmo da separação, eles não viviam juntos. Ela relembrou que "íamos para o exterior tínhamos apartamentos separados, embora estivéssemos no mesmo andar, então, é claro que isso foi vazado e isso causava complicações", destacou. "Mas Charles e eu tínhamos nosso dever a cumprir, e isso era fundamental". Ela também destacou que ela e o marido "éramos uma equipe muito boa em público".
A conversa também foi marcada por outro tópico polêmico: a biografia 'Diana: Her True Story'. Escrita por Andrew Morton e lançada em 1992, Diana ajudou o escritor através de fitas, mas nunca 'pessoalmente', como especulado na época. Ela também permitiu que pessoas próximas falassem sobre a sua vida turbulenta para o livro.
"Muitas pessoas viram a angústia na qual minha vida estava e sentiram que era uma coisa favorável ajudar da maneira que fizeram", destacou Diana. Em sua visão, a obra acabaria resultando numa "uma melhor compreensão" dela para as pessoas. "Talvez haja muitas mulheres por aí que sofrem no mesmo nível, mas em um ambiente diferente, que são incapazes de se defender porque sua autoestima está dividida em duas".
Diana não deixou de falar sobre a entrevista em que Charles admitiu que viveu um caso extraconjugal. "Eu mesma fiquei muito arrasada. Mas admirei a honestidade, porque é preciso muita para fazer isso", disse. "Para ser honesto sobre um relacionamento com outra pessoa, na posição dele—isso é algo incrível".
A princesa também quebrou o silêncio sobre o caso com James Hewitt, ex-oficial do exército. Ele fora instrutor de equitação de Diana e dos filhos. Com o caso, ele foi responsável pela obra 'Princess In Love', na qual descrevia o caso iniciado em 1987.
Todavia, Lady Di se decepcionou pelo affair ter obtido lucros com a sua intimidade. "Eu o adorava", explicou. "Sim, eu estava apaixonada por ele. Mas fiquei muito decepcionada".
Outro ponto que pode ter enfurecido o príncipe Charles se deu quando Diana foi questionada se ele conseguiria assumir o trono após a morte de Elizabeth II.
"Quem sabe o que o destino produzirá, quem sabe quais circunstâncias o provocarão?", explicou. "Sempre houve conflito com ele quando discutimos sobre esse assunto, e eu entendi esse conflito, porque é um papel muito exigente, ser Príncipe de Gales, mas é igualmente mais exigente o papel de ser Rei. E ser Príncipe de Gales produz mais liberdade agora, e ser Rei seria um pouco mais sufocante. E porque eu conheço o personagem, eu pensaria que o cargo principal, como eu o chamo, traria enormes limitações para ele, e eu não sei se ele poderia se adaptar a isso".
Diana também falou se acreditava que Charles deveria abdicar o trono para William. "Bem, então você tem que ver que William é muito jovem no momento, então você quer que um fardo como esse seja colocado em seus ombros com essa idade? Portanto, não posso responder a essa pergunta". Todavia, quando o mesmo atingir a idade adulta "Meu desejo é que meu marido encontre paz de espírito, e daí decorrem outras coisas, sim".