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Testeira

Somos menos inteligentes desde 1970

Apesar da grande disponibilidade de informações nos dias atuais, a Internet tem suas consequências

Coluna - Fabiano de Abreu, neurocientista Publicado em 28/03/2021, às 10h00

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Imagem meramente ilustrativa - Image by Edar from Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - Image by Edar from Pixabay

Durante o século passado, no contexto da Guerra Fria, o mundo se depara com o que seriam as primeiras bases da internet. Como é sabido, o conflito envolvia duas grandes potências que tinham visões sociais e econômicas muito diferentes, mas muito fortes. Falamos obviamente dos Estados Unidos e da União Soviética. 

Neste contexto e com o objetivo de compartilhar informações importantes em pessoas que estavam geograficamente distantes, os Estados Unidos criaram um sistema incipiente que mais tarde se tornaria a plataforma que conhecemos. ARPANET (advanced research projects agency network) foi a primeira designação desta rede. Em 1969 foi trocado o primeiro e-mail e, a partir dessa data foram feitos avanços incríveis em poucas décadas.

Tudo em um click

Neste momento a Internet está presente globalmente e é bastante acessível. Contudo, há um lado perverso em todo este desenvolvimento. A internet é uma montra do mundo, tudo é acessível em um click.

A evolução tecnológica proporcionada é única e as barreiras que nos permitiu ultrapassar também. No entanto, a partir desse momento, o ser humano começou a modificar a sua relação com o conhecimento, com a sua busca, com o pensamento e argumentação sobre o mesmo.

Crédito: Image by Gerd Altmann from Pixabay

O fato de tudo estar acessível de forma tão fácil e imediata fez com que as pessoas busquem cada vez mais a essa ferramenta, inclusive estimulando um vício e uma dependência por este mundo virtual. 

Deixamos de praticar e exercer outras atividades importantes para a nossa plasticidade cerebral, como ler, ver arte ou praticar exercícios e dar passeios ao ar livre. Ao mesmo tempo em que nos aproximamos virtualmente, há uma desconexão na vida real.

Nunca tão próximos e tão distantes ao mesmo tempo. A nossa própria inteligência é desenvolvida no confronto com o mundo real, com a necessidade de resolver conflitos e obter resultados e soluções. O mundo virtual retira um pouco essa carga, deixa-nos com a sensação de uma falsa proteção. As nossas ações são camufladas por uma tela. 

Mundo de oportunidades

As crianças nascem com um mundo de oportunidades mas, por outro lado, podem não ser estimuladas da forma necessária para que atinjam as suas plenas capacidades.

Muitas vezes temos que ter a capacidade de saber como utilizar recursos de forma a tirar proveito deles e não que nos sejam tiradas capacidades mesmo que inconscientemente.

A internet aciona ainda a liberação dopamina, criando um vício na sensação de bem-estar que daí advém. As plataformas online criam vícios sérios que geram ansiedade e fadiga. Há quem viva para o próximo like, para o próximo jogo. Metas fáceis de alcançar que nos fazem sentir frustrados com o mundo real e com a maior dificuldade em alcançar os objetivos.

O mundo online gera dependência, preguiça e disfunções executivas, assim como distúrbios na concentração. Podemos ainda citar algumas dessas dependências:

Dependência Cibersexual – vício em utilizar salas de chat para adultos ou ciberpornografia. 

Dependência de Ciberrelacionamento – amizades online, feitas em salas de chat ou newsgroups que substituem a vida real da família e amigos. 

As compulsões por jogos em rede – uso compulsivo de jogos online, dependência de leilões online, e comércio online obsessivo. 

Sobrecarga de informação – navegação compulsiva pela rede Web ou banco de dados de pesquisas. 

Dependência de computador – uso obsessivo do computador, jogos ou programação de informática.

A internet oferece o mundo e ao mesmo tempo encurta os nossos horizontes. A falta da plasticidade cerebral prejudica o desenvolvimento da inteligência que pode ser irreversível. A leitura foi um importante fator que ajudou no desenvolvimento da inteligência e, hoje, não conseguimos ler.

Muitos sofrem da falta de capacidade de conseguir ler uma página. Falta concentração pois o mundo online é mais apelativo e, por outro lado, há sempre a possibilidade da pesquisa quando assim for necessário. 

O questionamento, o desejo natural por aprender e conhecer está a perder-se. Somos movidos por interrogações, no entanto, estamos cada vez mais dispostos a fazer perguntas, por desinteresse, por inércia.

Solução? Use a internet de maneira inteligente, leia as notícias que proporcionam conhecimento, mas não leia apenas o título e subtítulo, leia o texto por inteiro, viaje no conhecimento que o conteúdo deste site fornece e prática a plasticidade cerebral formando engramas com memórias de conhecimento pleno e leve isso adiante.


Sobre o autor

Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista com Mestrado e Doutorado em Ciências da Saúde nas áreas de Neurociências e Psicologia pela universidade EBWU nos Estados Unidos e na Université Libre des Sciences de l'Homme de Paris. Ainda na área da neurociência, pós-graduação na Universidade Faveni do Brasil em neurociência da aprendizagem cognitiva e neurolinguística e Especialização em propriedade elétricas dos neurônios e regiões cerebrais na Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal, Mestre em Psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio, membro da Unesco e Neuropsicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise Clínica. Especialização em Nutrição Clínica e Riscos Psicossociais pela TrainingHouse de Portugal e Filosofia na Universidade de Madrid e Carlos III na Espanha. 

Integrante da SPN - Sociedade Portuguesa de Neurociências – 814, da SBNEC - Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento – 6028488 e da FENS - Federation of European Neuroscience Societies - PT30079 e membro da Mensa, sociedade de pessoas de alto QI com sede na Inglaterra.


**A seção 'coluna' não representa, necessariamente, a opinião do site Aventuras na História