Estudo publicado recentemente desafia nossas ideias a respeito da dieta de um governante real da Idade Média
Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/04/2022, às 12h46 - Atualizado em 19/06/2022, às 11h00
Na última edição da revista científica Anglo-Saxon England, uma pesquisa colaborativa se debruçou sobre o tópico da alimentação na Inglaterra medieval e a existência ou não de uma relação desta com a classe social de cada cidadão.
De forma surpreendente, após analisar mais de 2 mil esqueletos do período entre o século 5 e o 11, a bioarqueóloga Sam Legget descobriu que a alimentação de um camponês e um nobre britânico não eram muito diferentes, e que mesmo aqueles de maior posição social estavam longe de uma dieta rica em carne de animais e ovos.
Em vez disso, a população como um todo possuía uma alimentação baseada em cereais, uma conclusão que vai contra as crenças anteriores dos historiadores.
Não encontrei evidências de pessoas comendo algo parecido com tanta proteína animal regularmente. Se fosse o caso, encontraríamos evidências isotópicas de excesso de proteína e sinais de doenças, como a gota nos ossos", afirmou a pesquisadora em um comunicado publicado pelo Eureka Alert.
A noção de que a nobreza britânica se esbanjava em carne, contudo, não surgiu do nada: ela era baseada em uma série de documentos históricos que sugeriam a presença de uma dieta altamente proteica nas mesas dos membros da elite.
Para entender essa discrepância entre as evidências químicas e os registros do período, o estudo foi estendido com a ajuda do pesquisador Tom Lambert, que realizou uma análise de listas de comidas do reinado de Ine de Wessex (688 - 726).
Esses documentos citavam carne bovina e de carneiro, assim como aves e peixes. Eram completados por pão e cerveja, e não citavam a presença de vegetais. Essa mesma composição foi encontrada em outras dez listas da realeza medieval, assim delineando um padrão.
A aparente contradição entre esses documentos e as "assinaturas químicas" encontradas por Legget, porém, desaparecem quando os olhamos de uma perspectiva diferente:
“A escala e as proporções dessas listas de alimentos sugerem fortemente que eram provisões para grandes festas ocasionais, e não suprimentos gerais de alimentos que sustentavam as famílias reais diariamente. Estes não eram planos para as dietas diárias da elite, como os historiadores supunham”, explicou Lambert, também de acordo com o Eureka Alert.
Assim, as quantidades absurdas de carne eram reservadas a ocasiões especiais, não sendo representativas da dieta da época como um todo.
"Já fui a muitos churrascos onde amigos cozinharam quantidades absurdas de carne, então não devemos ficar muito surpresos. Os convidados provavelmente comeram os melhores pedaços e então as sobras podem ter sido preparadas para mais tarde", comparou Lambert ainda.
+Para conferir o estudo completo, clique aqui.
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