As receitas do show de horrores das fábricas de Chicago contavam com ratos, dedos dos trabalhadores, carne estragada e papel
Foi com diversas denúncias de jornalistas e especialistas na área que os Estados Unidos finalmente colocaram regras para a sua produção frigorífica. Antes da criação da FDA - Food and Drug Administration (Administração de Alimentos e Drogas), em 1906, a situação dentro das fábricas era a pior imaginável.
Uma das publicações que mais chocou o público estadunidense foi o livro A Selva (1906), do jornalista Upton Sinclair. Ele estava escrevendo folhetins para o jornal socialista Appeal to Reason que narravam sua experiência como um trabalhador disfarçado na indústria da carne de Chicago. O que ele narrou causa náuseas e foi a partir disso que as linhas de montagem passaram a ter sistemas de inspeção mais duros.
Listamos 5 fatos que foram revelados pela investigação de Sinclair na repulsiva indústria da carne no começo do século 20.
1. Falta de higiene
Como estavam fabricando alimentos, que seriam comidos por pessoas de verdade, imagina-se que eles tomassem o mínimo de cuidado dentro das linhas de produção, mas não era nada assim. Segundo relatado pelo repórter socialista, a higiene provavelmente era a última coisa a ser pensada dentro das fábricas que produziam carne.
Se os trabalhadores precisassem lavar as mãos antes de deixarem o local, eles deveriam usar os tanque de água da salmoura para os embutidos. Além disso, existiam ainda ratos e rejeitos por todo o ambiente de produção, que geralmente não eram retirados para deixar a instalação minimamente limpa. Era um horror total.
2. Misturas com outras substâncias
Para tentar aumentar o volume na produção, sem ter que gastar mais dinheiro com isso, os trabalhadores eram orientados a dar uma “incrementada” em inúmeras receitas, principalmente às de carnes enlatadas. Afinal, quem repararia algo diferente no meio de um alimento que não tinha sequer cara de carne?
Bórax e glicerina eram adicionadas na comida para que ela parecesse mais nova, banha colocada em muitos dos alimentos, papéis, também, e qualquer coisa que caísse dentro das máquinas eram mantidas. Os químicos se tornaram uma característica comum nas carnes produzidas pela indústria de Chicago.
3. Nada é desperdiçado
Como é possível prever, o desperdício não era permitido dentro das fábricas, mesmo que o que se pretendesse jogar fora fosse carne estragada. Se alguma parte da produção caísse no chão, onde já estavam ratos e expectorações de trabalhadores com tuberculose, ela seria colocada de volta no produto que iria para o prato do consumidor. Caso restos de roedores mortos por veneno ficassem na carne, era tudo muito escuro para que eles fossem retirados.
O show de horrores estava presente até mesmo na própria receita de presunto em lata, desperdício-free. Conforme descrito por Sinclair, o produto continha: 1 - pontas de carne defumada que máquina não podia cortar por serem muito pequenas; 2 - tripas com químicos que a deixavam menos branca; 3 - restos de presunto e carne encontrados no chão da fábrica; 4 - pelanca de bife e, por fim, 5- tempero, qualquer um, só para dar algum gosto.
4. Gente em lata
A situação já era terrível para os animais, que seriam transformados em alimentos super-processados, mas para as pessoas que trabalhavam nas fábricas o contexto também era precário. Acidentes de trabalho aconteciam a todo instante, como já sabemos sobre linhas de produção do século 20, porém, aqui, esses incidentes ficavam na comida.
Literalmente. Alguém perdeu um dedo numa serra e ele caiu dentro dos recipientes de carne que será colocada em uma cortadeira, a duas mil rotações por minuto. Quem iria reparar, já que o membro será misturado com todo o resto.
"Às vezes, os funcionários caíam nos tachos; e, quando eram pescados dali, nunca havia o suficiente deles que pudesse ser exibido — por vezes, isso era ignorado por dias, até que tudo menos os ossos era lançado no mundo como Banha Pura Durham!”, escreveu o jornalista em A Selva.
5. Trabalho abusivo
O trabalho do investigador começou com uma encomenda de uma denúncia de um jornal socialista. A ideia era expor a situação na qual esses trabalhadores eram colocados, e, também, como era produzida a comida que ia para os pratos dos americanos. Porém, com toda essa nojeira, a exploração dessas pessoas ficou em segundo plano para o público.
A obra contava a história de uma família de imigrantes lituanos que trabalhavam nas condições precárias das fábricas. Homens, mulheres, idosos e crianças produzindo carne em ambientes sujos, com jornadas de trabalho longas e exaustivas. Na época, o autor lamentou: "Eu apontei para o coração do público e acidentalmente atingi o estômago”.
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