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Matérias / Maria e o Cangaço

Maria e o Cangaço: A brutal realidade das mulheres que se tornavam mães no cangaço

'Maria e o Cangaço' estreou no catálogo do Disney+ na última sexta-feira, 4, e aborda a bruta realidade de Maria Bonita no sertão nordestino

Beatriz Cyrino (bcyrino@perfilbr.com.br) Publicado em 06/04/2025, às 12h00

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Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria de Déa ou Maria Bonita - Domínio Público
Maria Gomes de Oliveira, mais conhecida como Maria de Déa ou Maria Bonita - Domínio Público

Baseada no livro da jornalista Adriana Negreiros, a nova série 'Maria e o Cangaço' já está disponível no catálogo do Disney+. Sob uma nova perspectiva, a produção explora os últimos anos de vida de um dos maiores símbolos da história do cangaço: Maria Gomes de Oliveira ou Maria de Déa, que ficaria conhecida após sua morte como Maria Bonita.

Diferente de outras narrativas, a obra retrata, a partir de uma visão feminina, a realidade de Maria no cangaço, com foco especial na sua jornada como mãe e mulher. Segundo a autora de 'Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço', a série trata de temas sensíveis que passaram anos ignorados, como a maternidade — um dos pontos principais de 'Maria e o Cangaço'.

A maternidade no cangaço

Quando a cangaceira descobre que está grávida, sua vida junto de Lampião muda de maneira significativa, e ela precisa escolher entre seguir no cangaço e ter uma família.

Quando os filhos nasciam, e quando elas [as cangaceiras] tinham a sorte do filho nascer vivo e não morrerem no parto, elas precisavam dar essa criança para adoção", conta Adriana em entrevista exclusiva à Aventuras na História.

Ela explica que, logo após o nascimento, as crianças eram levadas para pessoas que tivessem condições melhores de criá-las, como fazendeiros e padres, porque "uma criança não combinava com o ambiente do cangaço".

Sílvio Hermano Bulhões teve esse destino: filho dos cangaceiros Corisco e Dadá, ele foi doado com nove dias de vida a José de Melo Bulhões, conhecido como padre Bulhões, de Santana do Ipanema (AL).

"O cangaço era aquilo: eles andavam, não tinha pouso certo, dormiam cada noite em um lugar, enfrentavam tiros, tinham que ser muito discretos nas passagens, e criança não é exatamente algo muito discreto", comenta a escritora cearense, que se inspirou nas histórias que a avó, de Mossoró (a única cidade que conseguiu expulsar Lampião), no Rio Grande do Norte, contava.

Capa do livro 'Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço' e fotografia de Isis Valverde como Maria Bonita - Divulgação

Adriana passou muito tempo pensando no sofrimento das mulheres que eram obrigadas a entregar os próprios filhos. "Não deve haver dor maior para uma mulher", comenta. Foi uma entrevista de Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, que a mais chocou, na qual ela descreve o momento em que deu seu filho como "a maior dor do mundo".

[Fiquei em choque] Com isso, e com o fato de que muitas cangaceiras eram roubadas ainda crianças de suas casas, violentadas sexualmente pelos cangaceiros", diz.

Esse também foi o caso de Sérgia, a única mulher a portar um fuzil no bando, que foi sequestrada, aos 12 anos de idade, e abusada por Corisco, braço direito de Lampião.

A jornalista explica que a história do cangaço sempre despertou muito o interesse de escritores e historiadores homens e, por isso, os "dramas femininos" nunca haviam sido abordados de maneira oficial. Ela cita algumas autoras mulheres que chegaram a trabalhar o tema, como a socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz ('Os Cangaceiros'), mas ressalta que o número é bastante reduzido.

"Foram os homens basicamente que escreveram sobre o cangaço e, quando o fizeram, foi olhando muito para os personagens masculinos, que eram aqueles tidos como os mais importantes", destaca.

Para ela, "isso mostra como faz diferença contar histórias tendo essa lente de que é preciso privilegiar pessoas cujo os dramas sempre foram considerados menores." 

Lampião e Maria Bonita, respectivamente / Crédito: Domínio Público

Enquanto as questões dos homens no cangaço sempre foram públicas — e Adriana cita grandes combates, fugir da perseguição do governo e envolvimento na política —, os dramas das mulheres eram da vida privada delas, relacionados à maternidade, vida sexual e à vida com a família.

O olhar masculino foi muito para esse espaço da visibilidade, e eu procurei o espaço da invisibilidade para contar as histórias das cangaceiras", finaliza.

Com direção de Sérgio Machado, ao lado de Thalita Rubio e Adrian Teijido, a série tem destaque especial no elenco para Julio Andrade e Isis Valverde como Lampião e Maria Bonita. Ao todo, 'Maria e o Cangaço' conta com seis episódios que já estão disponíveis no streaming.