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Matérias / Czarismo

Czar de Cuiabá: O homem que dizia ser o filho perdido da monarquia russa

Misterioso imigrante russo, Aléxis Nicolau Romanov chegou ao Brasil seis anos após a queda dos Romanov, afirmando ser o filho perdido da monarquia russa

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 06/04/2025, às 13h00 - Atualizado em 07/04/2025, às 18h04

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Alexei Romanov e Aléxis Nicolau Romanov - Domínio Público e Arquivo/O Cruzeiro/Arquivo Francisco Chagas
Alexei Romanov e Aléxis Nicolau Romanov - Domínio Público e Arquivo/O Cruzeiro/Arquivo Francisco Chagas

A Revolução Russa de 1917 derrubou a monarquia do país e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladimir Lênin. Com isso, o último czar da Rússia, Nicolau II, bem como sua família, foram presos na Sibéria

No ano seguinte, em 17 de junho, porém, diante do temor de que opositores tramassem a volta dos Romanov ao poder, a guarda revolucionária fuzilou os membros da dinastia que ocupara o trono russo há três séculos.

Família imperial russa - Domínio Público

Não só Nicolau II e a czarina Alexandra Feodorovna foram mortos, assim como também seus filhos. No entanto, os restos mortais de Alexei Nikolaevich Romanov, um dos descendentes do casal, não foram encontrados. Seria ele um sobrevivente da Família Imperial Russa?

Czar de Cuiabá

Avançamos seis anos no tempo. Em meados de 1925, um misterioso imigrante russo desembarcou no Rio de Janeiro. Sua certidão de registro (que pode ser vista logo abaixo!), porém, chamava a atenção. 

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Certidão de Alexis Romanov - Fundo Serviço de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras/MS

Afinal, o documento aponta: "Sr. Aléxis Nicolau Romanov, de nacionalidade russa, natural de Petrogrado, nascido aos 12/08/1904, filho de Nicolau Alesandrovich Romanov e de Alesandra F. Romanov".

Ou seja, o sujeito tinha praticamente o mesmo nome, parentesco e data de nascimento com o falecido príncipe

Em um primeiro momento, Aléxis passou pelo Uruguai, antes de desembarcar no Rio de Janeiro e, posteriormente, se estabelecer em Cuiabá, no Mato Grosso, onde trabalhou como mecânico.

Durante toda sua vida, ele passou a alegar ser o filho perdido da família imperial russa. E até mesmo seus parentes acreditavam na história. 

Minha avó, meu pai, todos acreditavam, não tinha como ser mentira, ele falava detalhes da história, detalhes do palácio onde morava", disse seu bisneto, Manoelito Pires da Cunha Júnior, em entrevista ao portal O Livre. 

Segundo Manoelito, Aléxis fugiu da Rússia como marinheiro e desembarcou em terras tupiniquins a bordo do navio Oriente. Ele chegou em Cuiabá nos anos 1930, e no Mato Grosso montou seu negócio, se casou e estabeleceu uma família. Apesar disso, sempre sonhara em retornar à Rússia e ocupar novamente o trono. 

Uma visita inesperada

A história pode até parecer meio absurda, e se a família de Aléxis acreditava ou não nele, isso deixou de ser uma questão quando o sujeito recebeu uma visita inesperada para muitos: Eugene Voronin, vice-cônsul da Rússia no Brasil.

"Ele era vice-cônsul da Rússia no Brasil. O nome dele era Eugene Voronin, é quase como se fosse Eugênio em português", explica o bisneto de Aléxis, ainda ao O Livre. Ele afirma que diplomata chegou a confirmar a identidade de seu bisavô.

"Em uma dessas conversas meu bisavô falava que queria ir para a Rússia. E eu perguntei 'Ele pode ir para Rússia?' e o vice-cônsul respondeu: 'Ele pode, mas não pode falar nada, ele tem que ir e voltar depois'. Foi aí que eu perguntei: 'É uma curiosidade de família: ele é o príncipe?', e o vice-cônsul respondeu: 'Ele é'." 

Apesar da confirmação, Manoelito explica que a família optou por não deixar Aléxis viajar para a Rússia. "Ele era muito falante, poderia acabar contando a história".

Aléxis Nicolau - Arquivo Pessoal/ José Carlos Moreira

Mas não era desse jeito que os veículos de mídia enxergavam a história. Em matéria publicada pela revista O Cruzeiro, o repórter João Martins classificou os relatos do russo como "enrolados".

Quem quiser que acredite. Eu, porém, não acredito", declarou o jornalista. 

Aléxis, até mesmo, chegou a ser entrevistado pelo lendário apresentador Jô Soares, que tratou o personagem com um tom de brincadeira, fazendo com que o deboche predominasse o bate-papo entre eles. "Se eu estivesse lá eu teria arrancado ele na hora, ao vivo, porque o Jô é gozador", disse seu bisneto.

A teoria da conspiração e a verdade

Aléxis carregou consigo a versão até o fim de sua vida, em 1996, quando morreu após sofrer três atropelamentos. Ele chegou a ser levado para o Pronto Socorro de Cuiabá, mas faleceu numa sala a mais de 14 mil quilômetros do local onde os Romanov foram assassinados. 

Pouco antes de sua morte, aponta Manoelito, foi realizado um teste de DNA para confirmar a veracidade — ou não — da história. O resultado foi surpreendente para Aléxis: ele não tinha nenhuma ligação com a monarquia russa

O idoso, porém, acreditava ser vítima de uma conspiração para que não recebesse a herança que fosse devida. O bisneto do sujeito conta que um segundo exame foi feito, apontando que Aléxis era descendente apenas de Alexandra.

Depois que acharam as ossadas da família encontraram um baú da rainha e naquela época o povo trocava muitas cartas e em uma dessas cartas descobriram que ela tinha um amante que era general. O marido descobriu o caso, mandou matar o general e ficou quieto esperando ela ter o filho homem, que era meu bisavô", aponta.

Para colocar fim a qualquer dúvida, em 27 de agosto de 2007, pesquisadores anunciaram a descoberta dos restos mortais de Alexei e de Maria — sua irmã que também estava 'desaparecida'. As provas foram localizadas numa área próxima do local onde foram descobertos os restos dos Romanov.