A região de Tianducheng, na China, foi construída com o objetivo de atrair visitantes para a cidade
A aproximadamente 9,6 mil km de Paris, conhecida como Cidade Luz da França, a região de Tianducheng, na cidade de Hangzhou, leste da China, possui uma réplica de 107 metros da Torre Eiffel, um dos pontos turísticos mais famosos do mundo.
As construções, originadas em 2007 por um empreendimento imobiliário luxuoso feito pela companhia Zhejiang Guangsha, foram projetadas com o objetivo de remontar a arquitetura europeia clássica na província de Zhejiang. Consequentemente, as construções e jardins no estilo parisiense atraem inúmeros turistas para o local, principalmente os recém-casados, que buscam o cenário perfeito para tirarem fotografias.
Conhecida como a “Paris do Oriente”, a região possui 31 km² de extensão e conta com a recriação de um Arco do Triunfo, praça principal da avenida Champs Elyées — conhecida por seus cinemas, cafés e lojas, uma fonte dos Jardins de Luxemburgo, o paisagismo do Palácio de Versalhes e edifícios franceses de composição neoclássica.
Posteriormente, conforme noticiado pelo portal oficial da National Geographic, Tianducheng passou a ser rotulada de “cidade fantasma” por parte da população, já que o número de residentes caiu de 10 mil para 2 mil habitantes em 2013. Tal fato é explicado devido à falta de estruturação populacional adequada e a vertiginosa urbanização.
Contudo, atualmente, as autoridades chinesas anunciaram projetos de melhorias da região, incluindo reformas na infraestrutura e a construção de uma estação de metrô, que possibilitará o deslocamento até a metrópole de Xangai. Em 2022, dados mostraram que a população subiu para 30 mil moradores.
De acordo com Bianca Bosker, autora da obra Original Copies Architectural Mimicry in Contemporary China (Cópias originais: mimetismo arquitetônico na China Contemporânea, em tradução livre), o fato de muitos países investirem em edificações de réplicas fora de suas áreas geográficas originais, pode ser considerado um fenômeno, o qual ela denomina de “Duplitetura”.
Cidades e vilas inteiras parecem ter sido retiradas de suas fundações históricas e geográficas na Inglaterra, França, Grécia, Estados Unidos e Canadá e colocadas nas margens das cidades chinesas".
Para a National Geographic, a escritora também ressalta que, apesar de sua visão a respeito do assunto, os arquitetos da China consideram que a capacidade de recriar as grandiosas estruturas arquitetônicas do mundo representa o grande potencial dos chineses no quesito desenvolvimento de habilidades e tecnologia.
Por fim, existe um debate entre os especialistas socioculturais acerca da replicação de pontos turísticos ou espaços específicos fora de seus países de origem, uma vez que tal eventualidade pode acarretar uma perda de autenticidade dos ícones culturais. Ademais, o uso de expressões estrangeiras é outro fator que pode interferir culturalmente.
Segundo o New York Times, a China proibiu por lei, sancionada em 1996, a utilização de nomes estrangeiros para designar localidades, a fim de proteger as tradições. Porém, uma pesquisa geográfica realizada no país constatou que nomes chineses tradicionais, tanto de pessoas quanto de regiões, estavam sendo substituídos por nomes estrangeiros, incluindo 400 mil mudanças em pequenas vilas.
Em declaração repercutida em 2018, Li Liguo, então ministro de Assuntos Civis da China, afirmou ser preciso valorizar o patrimônio cultural para não deixar que a tradição desapareça e evitar que os turistas consigam visitar, exemplificando, a Grande Muralha da China e Paris em um mesmo espaço:
(A China) deve conter as irregularidades na nomeação de estradas, pontes, edifícios e complexos residenciais do país, visando usos arbitrários de nomes estrangeiros. Certos tipos de nomes serão direcionados, incluindo nomes que prejudicam a soberania e a dignidade nacional, nomes que violam os valores centrais socialistas e a moralidade convencional".