Uma das construções mais emblemáticas da cidade, o Castelinho da Rua Apa foi palco de crime misterioso na década de 1930. Mas o que aconteceu com o local?
Inspirado em edifícios medievais franceses, e projetado por um arquiteto trazido especialmente de Paris, o Castelinho da Rua Apa demorou cinco anos para ser construído, entre 1912 e 1917, em um dos cruzamentos da Avenida São João, na região central de São Paulo.
Propriedade da família Guimarães do Reis, o local foi palco de badalados eventos artísticos da época. Mas o imóvel ganhou ares misteriosos em 12 de maio de 1927, quando Maria Cândida Guimarães dos Reis, de 73 anos, e seus dois filhos, Armando César dos Reis (43) e Álvaro dos Reis (45), foram encontrados mortos no local.
O caso, até hoje, permanece sem solução, e o acontecimento rendeu ao espaço a fama de mal-assombrado. Mas, e atualmente? O que aconteceu com o Castelinho da Rua Apa?
Antes de conhecermos o que aconteceu no Castelinho da Rua Apa, primeiro precisamos saber o enredo do que pode ter causado o episódio. Naquela época, a família Guimarães dos Reis era muito importante e influente entre os paulistanos.
Os eventos culturais que aconteciam no castelinho eram uma extensão dos negócios da família, que administrava a Broadway — um cinema que ficava na própria Avenida São João.
Tudo começou a mudar com a morte do médico Virgílio Guimarães dos Reis, esposo de Maria Cândida, apenas dois meses antes da tragédia. A grande divergência acontecia por conta de Álvaro.
Advogado de formação, ele também dedicava seu tempo à prática da patinação, além de seu apreço pela natureza, por festas, mulheres e viagens. Assim, passou a considerar o fechamento do cinema para instalar um rinque de patinação no local.
Por outro lado, Armando, que cuidava das finanças da família, alegava que isso seria impossível por considerar que o rique não traria o mesmo retorno comercial da Broadway. Assim, naquele fatídico dia, a família teria tido uma discussão e Álvaro teria atirado na mãe e no irmão antes de disparar duas vezes contra seu coração.
Até aí, o crime parecia ter tido um enredo ‘fácil’ de se resolver, afinal, esta foi a versão apresentada pelas autoridades da época sobre o que aconteceu no local. Mas os médicos legistas discordam do cenário.
Conforme aponta matéria da Veja SP, quem teria feito os disparos foi Armando, que teria matado Álvaro e depois sua própria mãe. O que corrobora com isso é o fato de que vestígios de pólvora foram encontrados em suas mãos.
Mas as coisas não são tão simples quanto aparentam. À época, uma pistola automática Parabellum calibre 9 foi encontrada ao lado dos corpos, mas as balas que alvejaram Maria Cândida são de outra arma — que nunca foi encontrada.
Além do mais, os corpos foram achados lado a lado, o que seria um alinhamento atípico em casos assim. A possibilidade de uma quarta pessoa estar envolvida nos crimes nunca foi rechaçada.
“O laudo da polícia foi muito mal feito”, aponta Leda de Castro Kiehl, sobrinha-neta de Maria Cândida e autora do livro 'O Crime do Castelinho: Mitos e Verdades', em entrevista à Veja.
Publicado em 2015, a obra de Leda é baseada nas inconstâncias entre os laudos do Instituto Médico Legal (IML) e do laboratório da polícia técnica. “Minha intenção é limpar o nome da família”, ressalta.
Não sei dizer quem é o assassino, mas tenho certeza de que não foi nem o Álvaro, nem o Armando. Os documentos que reuni para o livro mostram isso”, aponta.
Com a morte de Virgílio e o assassinato dos outros três membros da família Guimarães dos Reis, o Castelinho da Rua Apa ficou sem herdeiros, passando a ser patrimônio do Governo Federal.
Abandonado, o espaço se tornou abrigo para pessoas em situação de rua nos anos seguintes. Mas, em 1996, uma das construções mais emblemáticas da cidade foi cedida para a ONG Clube de Mães do Brasil, que trata de pessoas em vulnerabilidade social. A Instituição Filantrópica sem fins lucrativos administra o local até hoje.
Após o crime, o Castelinho da Rua Apa ganhou fama de mal-assombrado. Segundo relatos, vultos e gritos puderam ser ouvidos da casa. “Nunca percebi nada de anormal por aqui”, afirmou Claudineia Viana, uma das administradoras da ONG.
Em dezembro de 2016, o espaço foi reformado pelo Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos (FID), da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, em obras que custaram cerca de 2,8 milhões de reais. O centro foi reaberto em 6 de abril de 2017.
Segundo o site do Clube de Mães do Brasil, hoje o atendimento na instituição para população em situação de rua contempla capacidade aproximadamente de 476 atendimentos mensais, feito por profissionais de serviço social com objetivo de responder às demandas dos usuários dos serviços prestados, garantindo o acesso aos direitos assegurados na Constituição Federal de 1988 e na legislação complementar.