O desespero para sobreviver era tanto, que as pessoas foram submetidas a tratamentos insólitos
O primeiro surto de Peste Negra que afetou a Europa durante a Idade Média chegou ao continente em 1347. A doença surgiu antes na região da China, em 1333. Mas relatos bíblicos mostram que, desde a antiguidade, o Oriente Médio já sofria com essa perturbação mortal.
O mal é causado pela bactéria ersinia pestis e transmitido pelas pulgas dos ratos. Alguns historiadores apontam que o microorganismo tenha se difundido devido a soldados turcos, que usaram catapultas para lançar cadáveres mortos pela peste dentro de um entreposto comercial genovês na Criméia (atual Ucrânia).
Já outra versão para explicar a manifestação da Peste Negra diz que a doença desembarcou por acaso, com ratos vindos em navios procedentes da Turquia. Então a enfermidade logo se expandiu, a partir dos portos do Mar Mediterrâneo, matando em apenas quatro anos cerca de 25 milhões de pessoas. Confira abaixo alguns fatos bizarros sobre essa terrível pandemia:
1. Nada de tomar banho
Pode não fazer nenhum sentido hoje, agora que já sabemos que a Peste Negra tem origem bacteriana. Mas, é preciso considerar que na Idade Média as noções de higiene eram outras.
Isso porque a população acreditava que a doença era transmitida através do ar — algo que constava na antiga, e hoje inutilizada, teoria miasmática. Na época, os médicos acreditavam que se você entrasse em contato com um miasma (um odor transmissor da doença), você poderia ser infectado.
Um dos modos de ficar doente seria o banho, pois ele abriria os poros da pele para o ar contaminado. Então, através dessa lógica, uma boa camada de podridão, sujeira e poeira na pele era visto como algo excelente.
Nem trocar de roupa era aconselhável, então as pessoas tinham que se virar com o uso de perfumes artesanais para não ficarem fedendo. Claro: aquelas medidas só pioraram as coisas, pois a falta de higiene era ótimo para os germes se espalharem, além de que atraía os roedores cujas pulgas estavam ligadas à peste.
2. Médicos usavam urina e estrume como remédios
Muitas lendas estavam ligadas à Peste Negra e os profisisonais da saúde e curandeiros se viam perdidos, tentando investigar de onde vinha aquele mal. Alguns deles até acreditavam que cheiros ruins podiam afujentar a praga.
Logo, muitos tratamentos consistiam em envolver o indivíduo em urina e em fezes de animais. Enquanto que a água podia abrir os poros, dizia a lenda que tomar banho com um copo ou dois de urina poderia proteger alguém da peste. O desespero certamente fazia as pessoas tentarem de tudo.
3. Foi difícil o acúmulo de corpos, mas a morte mudou o modelo de servidão
Um surto de Peste Negra que afetou Londres na era medieval, de 1348 a 1350, dificultou o enterro de tantos corpos. Eles simplesmente não cabiam nos cemitérios disponíveis na cidade.
Segundo o livro History Of London, de 1756, de William Maitland, o Bispo de Londres teve que comprar uma propriedade conhecida como "a terra de nenhum homem", especialmente para enterrar as vítimas.
Mas, logo o novo terreno lotou. Um dono de terras teve então que comprar uma outra propriedade de pouco mais que 50 mil metros quadrados para enterrar ainda mais vítimas.
A situação foi bem feia, mas em seu livro In The Wake Of Plague, o autor Norman Cantor diz que, por outro lado, a Peste Negra melhorou a vida dos plebeus no século 15, pois os proprietários de terras mais empreendedores ficaram mais dispostos a atender as demandas dos serviçais."Devido à menor taxa de nascimentos, os plebleus podiam pedir mais salários e depois uma eliminação das restrições e tarefas da servidão", afirmou o escritor.
4. Orgias entre os mortos
A Peste Negra era considerada um castigo de Deus, que teria origem não apenas nos miasmas, mas também no mundo espiritual. As crenças também que a tragédia estaria sendo causada por bruxaria foi vitalizada. Houve pânico.
Acreditando que o fim do mundo estava próximo, algumas pessoas jogaram tudo para o ar e investiram em atitudes pecaminosas — entre elas bacanais e orgias. O objetivo era investir e celebrar a vida antes que ela acabasse.
Mas a vida carnal muitas vezes trombava com a morte e as duas se misturavam. Orgias ocorriam em cemitérios, como nas lápides do Champfeur, em Avignon, na França. Por lá, as atividades sexuais grupais se estabeleceram e continuaram até o fim do século 14, forçando a Igreja a proibir a prática.
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