Novas discussões sobre a morte do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Al Hariri
A prisão da libanesa Rana Abdel Rahim Koleilat, na primeira quinzena de março, em São Paulo, reacendeu as discussões sobre as investigações da morte do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Al Hariri. Rana estava foragida desde abril de 2005, após ter saído de uma prisão por fraude bancária, e é acusada de ter financiado os serviços de informação sírios e libaneses que estariam por trás do ataque terrorista que matou, além de Hariri, cerca de 20 civis.
Rana, uma economista de 39 anos, era procurada pela Interpol em 184 países. Ela havia sido condenada no Líbano pelo desvio de 1 bilhão de dólares do banco Al-Madina, onde era diretora-executiva e passou pouco mais de um ano na cadeia. Em março de 2005, pagou fiança e conseguiu liberdade condicional. Aproveitou para fugir para o Brasil e se instalou em um apart-hotel em São Paulo. Levava uma vida discreta e confortável, até que uma denúncia anônima a levou de volta à prisão. A libanesa continua presa em São Paulo, enquanto espera o Supremo Tribunal Federal julgar o pedido de sua extradição.
Rana diz ter medo de voltar para o Líbano por ser suspeita de ter participado do atentado. A explosão do carro-bomba ocorreu em uma praça no centro da capital libanesa, Beirute, em 14 de fevereiro de 2005, e poderia ter sido apenas mais um caso de violência entre as diversas frentes religiosas existentes no país. Porém, seria apenas coincidência a presença do ex-primeiro-ministro libanês entre as vítimas?
O crime ainda não foi solucionado. Um vídeo de um grupo ativista islâmico, divulgado por uma rede de TV árabe, assumiu a responsabilidade pelo ataque, dizendo que Hariri foi morto por causa de suas ligações com a Arábia Saudita. Porém, o governo sírio foi acusado por políticos de oposição libaneses de ser responsável pelo atentado. Em 2005, a Síria mantinha cerca de 20 mil soldados no Líbano. Inicialmente, a presença das tropas sírias no Líbano tinha a função de ajudar a diminuir a tensão entre os cristãos e muçulmanos no país e evitar o alastramento da guerra civil. Apesar do fim do conflito, em 1990, a Síria manteve seus soldados no Líbano e ampliou sua influência no país. Hariri era um crítico dessa situação.
A relação entre Hariri e o governo do próprio país também andava abalada. Há quem afirme que o presidente da Síria, Bachar al Assad, teria ameaçado Hariri de morte caso não aprovasse a prorrogação do mandato do presidente libanês, Emil Lahoud. A permanência de Lahoud no cargo recebeu o apoio da bancada pró-Síria no Parlamento libanês, desagradando a Hariri, que renunciou ao posto de primeiro-ministro. Pouco depois, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma proposta até então defendida por Hariri, que visava diminuir a interferência da Síria no Líbano.