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Náufrago da Utopia ¿ Vencer ou Morrer na Guerrilha. Aos 18 Anos: Caso Lamarca ganha nova versão

Náufrago da Utopia ¿ Vencer ou Morrer na Guerrilha. Aos 18 Anos: Caso Lamarca ganha nova versão

Maria Dolores Duarte Publicado em 01/02/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Em 1969, o então secundarista Celso Lungaretti tinha 18 anos quando se infiltrou na guerrilha de esquerda. Seguiu o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca, líder do movimento VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), até o Vale do Ribeira, em São Paulo. Era lá que Lamarca pretendia treinar seus militantes para a luta armada e conseguir adesão da população rural. Só que, um ano depois, Lungaretti foi preso e torturado. Parte da guerrilha foi encontrada pelas tropas do governo três dias mais tarde. E o estudante passou a ser visto como delator.

A fama de dedo-duro o acompanhou por 34 anos. No fim de 2005, um ano depois da liberação dos arquivos sobre o episódio, escreveu Náufrago da Utopia – Vencer ou Morrer na Guerrilha. Aos 18 Anos, em que conta sua versão da história. Segundo o livro, Lungaretti não foi o culpado pelas prisões. O erro teria sido do próprio Lamarca.

A VPR foi criada após o Ato Institucional número 5, em 1969, que ampliou o poder de repressão da ditadura militar. O começo do fim do movimento foi em 16 de abril de 1970, após a prisão de Lungaretti. Sob tortura com choque elétrico, o militante entregou a localização do campo de treinamento da VPR, na cidade de Jacupiranga. Segundo Lungaretti, Lamarca já tinha abandonado esse campo e teria dado a entender que o novo local de treinamento seria no sul do país. O Exército, porém, achou a nova área da VPR bem perto do local anterior. Na operação, quatro militantes foram presos. O ex-capitão conseguiu escapar, mas foi morto pelos militares no ano seguinte.

Saiba mais

Náufrago da Utopia - Vencer ou Morrer na Guerrilha. Aos 18 anos, Celso Lungaretti, Geração Editorial, 2005

Entrevista

História – Como você entrou para a luta armada?

Celso Lungaretti – Em 1968, participei da Frente Estudantil Secundarista, em São Paulo. Com o AI-5, seria suicídio continuar com o movimento de massas. Entrei para a VPR e mais tarde caí na clandestinidade.

Quais as lembranças mais fortes daqueles anos?

Há dois momentos: 1968 foi um ano ensolarado, no qual acreditávamos num ideal, e 1969, um ano todo nublado. Quando as pessoas começaram a ser presas e torturadas e a morrer, vi quanto a luta era desigual. Ainda mais para nós, secundaristas. Éramos adolescentes despreparados com armas nas mãos, colocados para fazer os serviços mais chatos e perigosos. Era mais fácil colocar a culpa em nós do que os medalhões da militância fazerem sua autocrítica.

Como o campo de treinamento de Lamarca foi descoberto?

Há duas hipóteses: ou houve um delator, cujo nome nunca apareceu, ou a repressão descobriu o local porque o novo campo estava ligado ao primeiro. Nessa hipótese, foi um grave erro operacional de Lamarca. Quando entreguei a área 1, só o fiz porque acreditava que ele estava bem longe dali, implantando uma base no sul. Ele errou ao nos dizer uma coisa e fazer outra.

O livro é um acerto de contas?

Com os anos, os ressentimentos foram passando. Quis dar minha visão sobre uma época da qual ainda há muito pouca coisa além dos mitos criados.