No final do século 19, uma aposta de dois homens influentes nos ramos empresarial e político dos Estados Unidos ajudou no desenvolvimento do cinema
Tudo começou como uma aposta de dois homens influentes nos ramos empresarial e político dos Estados Unidos. De um lado estava Leland Stanford, magnata ferroviário e ex-governador da Califórnia, do outro, seu amigo, Frederick MacCrellish.
Stanford era ferrenho defensor de que, numa corrida de cavalos, o animal, por pouco tempo que fosse, era capaz de tirar as quatro patas do solo e "flutuar" durante seu galope. MacCrellish acreditava que isso era impossível.
+ Corrida de cavalo e sufragismo: a manifestação que levou a morte de Emily Davison
Por mais que os dois olhassem atentamente cada movimento do equino, chegar a um acordo parecia algo impossível. Assim, Leland decidiu financiar uma pesquisa de Eadweard Muybridge, um requisitado fotógrafo que ganhou notoriedade por registrar paisagens e padrões arquitetônicos.
Em 1878, Muybridge usou alguns lençóis brancos e um conjunto de câmeras que disparavam quando o cavalo passava diante delas por meio de um dispositivo elétrico, criado por John D. Isaacs.
No dia 11 de junho daquele ano, a primeira tentativa bem-sucedida ocorreu após Eadweard utilizar uma série de 12 câmeras estereoscópicas, a uma distância de 21 polegadas uma das outras, que capturaram os 20 pés tomados por um galope de um cavalo. A técnica permitiu registros de milésimos de segundos diferentes.
Popularmente, essas fotos ficaram conhecidas como The Horse in Motion, e ajudaram a comprovar que o magnata estava certo — com os registros mostrando que todos os cascos do animal ficam, por um instante, longe de um contato com o solo.
Mas não só isso, Muybridge percebeu que, ao exibir as doze fotos rapidamente, uma em sequência da outra, era possível ter a sensação de que as imagens estavam em movimento.
Isso fez com que o fotógrafo criasse o zoopraxiscópio, que em grego significa Zoe ("vida") + Praxis ("exercício da vida humana") + Scópio ("Observar") = Dispositivo de Observar a Vida em seu Exercício. O conceito foi percursor do princípio básico usado no desenvolvimento do cinema.
O invento de Muybridge, que naquela época já era muito aclamado pelos cientistas, se tornou ainda mais popular ao ser exibido na Exposição Universal de 1893, em Chicago. Lá, o fotógrafo deu uma série de palestras sobre a locomoção de animais.
O espaço também contava com um enorme salão onde estava seu zoopraxiscópio, que serviu para mostrar retratos em movimento para o público presente — o que fez com que a exposição fosse considerada o primeiro cinema comercial da história.
A carreira de Muybridge não se resumiu ao grande feito. Entre 1883 e 1886, ele fez um total de 100.000 imagens trabalhando sob o aporte financeiro da Universidade da Pensilvânia. Neste período, foram publicados 781 placas com 20.000 de suas fotografias em uma coleção chamada Animal Locomotion.
Muybridge realizou diversos estudos de movimento com inúmeros personagens diferentes, que iam desde pessoas descendo alguns degraus de uma escada até pássaros voando e um bisão galopando. Outras obras bem conhecidas de sua autoria são 'Um Casal em Movimento' e 'Mulher Descendo as Escadas'.