Número atual não se compara ao existente antes da colonização, mas vem crescendo
Até meados dos anos 70, acreditava-se que o desaparecimento dos povos indígenas do Brasil era inevitável. Mecanismos de assimilação desses grupos na sociedade brasileira têm ocorrido desde o período colonial, como a captura de indígenas e a criação de igrejas e escolas nas aldeias, com o objetivo de ensinar às crianças a cultura do branco. No século 19, autores como Carl Von Martius compararam as três culturas que formaram o Brasil (brancos, indígenas e negros) a três rios: a cultura branca seria um rio grande e caudaloso, que absorveria os negros e indígenas, raças inferiores que supostamente desapareceriam em cem anos, dentro das perspectivas cientificistas da época.
Mas não desapareceram. Hoje em dia, estima-se que existam ao menos 255 culturas indígenas no território brasileiro, com modos de se alimentar, crenças, rituais, vestimentas e técnicas específicas, e que somam segundo o Censo IBGE 897 mil pessoas. A maioria desses indígenas vive em áreas rurais, seja em aldeias distantes das cidades ou próximas a centros urbanos, e uma de suas formas de renda é a fabricação e venda de seus objetos para visitantes das aldeias ou em zonas urbanas. Esses objetos não são os mesmos utilizados na aldeia - que muitas vezes têm um trançado com significados específicos para o grupo.
Povos Akuntsu, Rondônia / Créditos: Vincent Carelli
Segundo estudiosos, a população indígena do século XVI tinha entre 2 e 4 milhões de pessoas, pertencentes a mais de mil povos diferentes. Darcy Ribeiro, antropólogo autor da obra O Povo Brasileiro, de 1995, afirma que somente na primeira metade do século XX mais de 80 povos indígenas desapareceram do território, por conta de conflitos armados, epidemias, desorganização social e impedimentos à propagação de sua cultura.
E, além de não terem desaparecido, estimativas comprovam que a quantidade de povos indígenas tem aumentado! Isso se dá por conta de iniciativas de auto-afirmação, quando pessoas que se consideravam não indígenas buscam um maior conhecimento sobre suas origens e as marcas étnicas que carregam em seus corpos. Desta forma, uma origem que foi sendo apagada de geração em geração (principalmente por vergonha e medo de atitudes violentas da sociedade) volta à tona, movimento que vem acontecendo com muitos jovens urbanos. Outra causa para o aumento populacional é a queda da mortalidade provocada pela melhoria nos atendimentos de saúde e níveis de fecundidade superiores aos da população não-indígena.
Indígenas Ticuna em ritual / Créditos: Jussara Gruber
Na listagem de povos indígenas no Brasil elaborada pelo Instituto Socioambiental, sete das 255 culturas indígenas têm populações entre 5 e 40 indivíduos, e frequentemente se ouve notícias da existência de apenas um representante de sua cultura, que guarda em si todos os saberes e técnicas acumulados por aquele povo.