Conhecido pelo interior requintado, o hotel sobre trilhos tinha restaurante e bar até a década de 1990
Em 1959, a ponte aérea Rio-São Paulo marcou a história da aviação comercial no mundo após um acordo firmado entre empresas aéreas para realizar viagens frequentes entre as duas capitais do sudeste, prezando agilidade e disponibilidade. Contudo, exatamente 10 anos antes, em 1949, o trajeto progredia com o mesmo requinte pelo solo, mas engana-se quem acredita que ele era feito somente pelo mar ou por rodovias.
Naquele ano, uma composição ferroviária importada era trazida ao país para realizar o mesmo trajeto, partindo da Estação Dom Pedro II, conhecida atualmente como Central do Brasil, no Rio de Janeiro, até a estação Roosevelt, atual Brás, em São Paulo, iniciando as operações interestaduais comerciais no trecho.
Aos moldes europeus, as embarcações contavam com quartos individuais, suítes, opções para casais e uma série de requintes, como banheiros esterilizados, restaurante e um bar com música, possibilitando a movimentação entre os vagões. A rota, de acordo com a revista Veja, era noturna, partindo aos fins de semana por volta das 20h e chegando na outra cidade às 6h da manhã do dia seguinte, totalizando nove horas sobre os trilhos.
Contudo, a popularização da ponte aérea em preços mais acessíveis ao longo dos anos fez com que o trajeto de trem, mesmo que associado ao requinte noturno, fosse uma opção mais cara, lenta e com menor disponibilidade, visto que contava com quarenta cabines duplas para abrigar oitenta passageiros por noite. Os custos de manutenção da linha, por sua vez, não diminuíram, requerendo modernização e resultando no aumento dos preços.
Devido a inviabilidade dos custos e atrasos recorrentes por problemas de outros trens que ocupavam o trajeto, a linha acabou sendo cancelada pela Rede Ferroviária Federal em 1991. Contudo, por contar de usuários assíduos, a companhia decidiu reativá-lo no pouco depois, reinaugurando com o nome Trem de Prata em dezembro de 1994.
Com a reabertura comemorada, agora transitando entre a Estação Barão de Mauá no RJ e a Palmeiras-Barra Funda em SP, as viagens passaram a ser diárias no hotel sobre trilhos, que agora contavam com a curadoria do grupo Portobello, repetindo o cardápio dos hotéis administrados pela empresa, como informou a Folha de S. Paulo na época.
Agora em Real, era possível realizar uma conversão; a cabine para dois custava R$ 90 por pessoa e, para um quarto individual, o passageiro desembolsaria R$ 135, mesmo valor por pessoa nas suítes. Todos tinham direito ao jantar servido no restaurante e um café da manhã. Mesmo assim, os problemas anteriores não reduziram — do contrário, aumentaram pela frequência diária.
Dessa forma, o negócio não se sustentou, realizando sua última viagem em 29 de novembro de 1998, longe do glamour de seus tempos áureos, como relatou reportagem da Folha; próximo da desativação, passageiros encontravam quartos mofados e com bem menos capacidade, além de atrasos que atingiam cinco horas.