Embora as cócegas sejam causadoras de muitas gargalhadas, esse ato aparentemente inofensivo já serviu como tortura em diferentes contextos; entenda!
Publicado em 05/01/2025, às 09h00
Praticamente todo mundo já passou, em algum momento da vida, por uma situação em que precisou lidar com alguém fazendo cócegas incessantemente em alguma área sensível do corpo. E mesmo que as reações a isso sejam risos de tirar o fôlego, certamente nunca é algo agradável sentir cócegas.
Ainda assim, esse ato aparentemente inofensivo e brincalhão também pode ser surpreendentemente cruel nas mãos certas. Tanto que, ao longo da história, a capacidade de imobilizar os alvos e causar grande desconforto serviu até mesmo para torturas, como forma de punição.
Ainda nos tempos antigos, o famoso filósofo grego Aristóteles dizia que a sensibilidade às cócegas era algo exclusivo aos seres humanos, justificando-a com nossa pele sensível e nossa capacidade de rir. Porém, hoje já sabemos que não é bem assim, e alguns animais também o sintam.
Foi então durante o Período Moderno Inicial que os filósofos observaram as cócegas a partir de outro olhar, relacionando a natureza do prazer e da dor. René Descartes, por exemplo, afirmava que as cócegas causavam no corpo uma forma de excitação muito semelhante à dor.
Nós naturalmente sentimos prazer em nos sentirmos despertados para todos os tipos de paixões — até mesmo para a tristeza e o ódio — quando essas paixões são causadas meramente pelos acontecimentos estranhos que vemos apresentados no palco, ou por outras coisas semelhantes que, sendo incapazes de nos prejudicar de alguma forma, parecem afetar nossa alma excitando-a", escreveu Descartes em sua Carta a Voetius.
Independente de ser da dimensão do prazer ou da dor, as cócegas foram muito utilizadas, ao longo da história, como instrumento de tortura. Durante a Dinastia Han, na China, por exemplo, a tortura com cócegas era especialmente e muito utilizada, pois demorava menos para a vítima se recuperar, e nem mesmo deixava marcas.
Já no Japão, a tortura com cócegas era chamada de kusuguri-zeme , ou "cócegas implacáveis", sendo parte do "shikei", um sistema de "punições privadas" usadas contra infratores. Vale acrescentar que, embora as cócegas não causassem danos duradouros, em casos extremos ela poderia levar a vítima até a se asfixiar, a sofrer aneurismas ou outros ferimentos relacionados ao estresse.
Até mesmo os romanos usavam as cócegas como torturas, mas de uma forma especialmente brutal. Eles amarravam a vítima e mergulhavam seus pés em água salgada; e por isso uma cabra começava a lamber os pés do infrator, que eventualmente ficava com a pele desgastada pela língua áspera da cabra.
"As solas dos pés da vítima eram cobertas com uma solução salina para que uma cabra, atraída pelo sal, as lambesse com sua língua áspera e continuamente fizesse cócegas na pele. Ao fazer isso, a pele salgada era gradualmente raspada. Então, a pele ferida seria novamente coberta com a solução salina cortante — ad infinitum, até que a vítima morresse devido à tortura", escreveu o fisiologista holandês Joost Meerloo em seu livro 'A Biologia do Riso'.
Mais posteriormente, durante a Era Vitoriana, a tortura por cócegas era especialmente comum em relatos de violência doméstica. Por exemplo, em 1869 foi publicada uma história em que um homem chamado Michael Puckridge alegou à esposa ter descoberto a cura para suas veias varicosas, e começou a fazer cócegas nela para tal, enquanto era amarrada em uma prancha. E isso durou até que a mulher supostamente enlouqueceu.
No entanto, conforme pontua o All That's Interesting, muitos desses relatos são inteiramente fictícios, ou mesmo impossíveis de autenticar. Ainda assim, eles possuem grande valor para historiadores e acadêmicos, que analisam e tentam entender como a tortura por cócegas era tão recorrente no passado.
Porém, enquanto não há evidências concretas de tortura com cócegas na antiguidade, são conhecidas várias evidências de que ela era utilizada nos tempos mais modernos, tanto para punir quanto para humilhar prisioneiros até o século 20.
Na época da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, um prisioneiro chamado Josef Kohout alegou ter sido testemunha de nazistas terem feito cócegas em um colega prisioneiro como tortura: "O primeiro 'jogo' que o sargento da SS e seus homens faziam era fazer cócegas na vítima com penas de ganso, nas solas dos pés, entre as pernas, nas axilas e em outras partes do corpo nu", escreveu em seu livro 'The Men with the Pink Triangle', de 1972.
Ele explodiu em uma gargalhada aguda que logo se transformou em um grito de dor, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto e seu corpo se contorcia contra suas correntes. Depois dessa tortura de cócegas, eles deixaram o rapaz pendurado ali por um tempo, enquanto uma torrente de lágrimas escorriam por suas bochechas e ele chorava e soluçava incontrolavelmente", continuou.
Porém, mesmo com o passado sombrio em torno das cócegas, hoje esse tipo de "tortura" é bastante comum dentro de famílias — claro que em escala muito menor —, e de maneira quase inocente. Porém, é sempre importante ressaltar que, embora isso pareça engraçado, e até mesmo suportável, as cócegas certamente não são simples de se suportar.
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