Há 1.500 anos, o homem teve sua mão decepada, mas arrumou um substituto excepcional para o membro; veja a descoberta revelada em 2018
A necrópole de Longobard de Povegliano Veronese, perto de Verona, no norte da Itália, revelou, há mais de 20 anos, um esqueleto bastante interessante de um homem que não tinha a mão direita. Em vez disso, ele contava com uma faca.
Substituindo o membro arrancado provavelmente com um único golpe poderoso, estava uma lâmina afivelada no seu braço com tiras de couro, que permitiram que o indivíduo vivesse muito até seus quase 50 anos.
O local em que o corpo foi enterrado data de entre os séculos 6 e 8 d.C., ou seja, o homem viveu há aproximadamente 1.500 anos. Naquela época, perder uma mão ou qualquer membro era sinônimo de morte. Mas a verdade foi que ele conseguiu sobreviver.
E de maneira muito excepcional, aliás.
A necrópole da qual o esqueleto foi exumado já revelou pelo menos 164 tumbas até agora, que contavam com 222 indivíduos, além de uma fossa com dois cães galgos e um cavalo sem cabeça, enterrado como oferenda animal.
Em meio a centenas de esqueletos, o deste homem em específico acabou chamando a atenção por um detalhe: ele estava sozinho em uma sepultura e tinha o braço direito dobrado no cotovelo, colocado sobre o peito, enquanto todos os outros enterrados estavam com os braços esticados ao lado dos corpos, com suas armas.
Além disso, exames feitos nos restos mortais revelaram que a mão direita do indivíduo estava faltando e que os ossos do braço tiveram um bom tempo para cicatrizar antes de ele morrer.
O membro foi amputado provavelmente por um único golpe. No entanto, os pesquisadores não sabem qual foi o contexto do ferimento, como relatou o portal Live Science em 2018, quando a descoberta foi anunciada à imprensa.
Ainda assim, eles chegaram a algumas possibilidades, entre elas a linha de batalha ou durante um procedimento médico. Os cientistas descartam a hipótese de a mão ter sido decepada como punição, porque ele não seria tão bem tratado se esse fosse o caso.
O que eles entendem é que o indivíduo provavelmente deveria ter morrido após o ferimento devido à perda imediata de sangue, em um período em que não existiam antibióticos para tratar infecções. Isso aconteceu pela vontade do homem e pela força da comunidade em que ele vivia.
"Este [achado] mostra uma sobrevivência notável após uma amputação do membro anterior durante a era pré-antibiótica", escreveu a equipe de pesquisadores da Universidade de Roma em um artigo publicado na revista científica Journal of Anthropological Sciences.
"A sobrevivência deste [homem] testemunha o cuidado da comunidade, a compaixão familiar e um alto valor dado à vida humana”, acrescentam.
“Isso destaca um esforço em nível de comunidade para fornecer um ambiente ideal para que a cura aconteça”, completaram. "Isso sugere um ambiente limpo e cuidados intensivos durante os estágios iniciais da cura, com a capacidade de prevenir a morte por perda de sangue."
Depois de ter o ferimento tratado, com algum tempo para que os ossos decepados fossem curados, o homem eventualmente substituiu a mão perdida com uma surpreendente faca, que ficava afivelada no antebraço com tiras de couro.
Funcionando como uma espécie de membro protético que lembra uma espécie de pirata, o homem usava uma fivela de bronze e uma longa faca de ferro, que foi datado do final do século 6.
Para ajustar esse equipamento, ele o apertava com os dentes, o que fez com que os especialistas identificassem um desgaste significativo em um dos incisivos superiores durante a análise dentária.