Daniel Bydlowski discorre sobre a polêmica em volta dos longas e explica que existe 'preconceito do próprio brasileiro quanto às produções nacionais'
Na próxima segunda-feira, 31, os assassinatos de Manfred e Marisia von Richthofen completam 20 anos. Desde então, livros, séries de investigação criminal e até mesmo filmes foram feitos sobre o caso que chocou o Brasil. Todas cercadas de polêmicas e críticas — nem sempre justas ou racionais.
As duas produções mais recentes sobre o crime orquestrado por Suzane von Richthofen e posto em prática pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos foram os longas "A Menina que Matou os Pais” e “O Menino que Matou meus Pais”. Que ganhará uma continuação, ainda sem data de lançamento.
Porém, quando longas estrangeiros com narrativas semelhantes são lançados por aqui, a receptividade é totalmente diferente da mostrada por esse segundo grupo. Afinal, esses filmes são considerados superproduções e até mesmo dignos daquelas sessões especiais de final de semana, como é o caso recente de 'Dahmer: Um Canibal Americano'.
“Acredito que existe muito preconceito do próprio brasileiro quanto às produções nacionais”, diz o cineasta brasileiro Daniel Bydlowski, mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos, e colunista do site do Aventuras na História.
Acontece muito isso com comédia, por exemplo, as pessoas insistem em parar em 1930 e acham que todo nacional é chanchada", continua.
“É uma quebra de paradigmas, acredito nas produções nacionais, e as séries estão cada vez mais mostrando isso, que o brasileiro tem sim seu espaço na indústria cinematográfica”, diz.
Para Bydlowski, ainda existe o fator identificação, ou seja, o crime que acontece lá fora, às vezes, não gera tamanha comoção se comparado com os que acontecem por aqui. “As tragédias mais perto de nós, sempre são mais impactantes e queremos bloquear”.
Porém, um outro ponto também pode influenciar essa receptividade por parte dos brasileiros: o formato da produção. No Prime Video, da Amazon, por exemplo, onde os filmes foram lançados, há também a série 'Investigação Criminal'.
A produção mostra detalhes dos crimes e das investigações, dissecando esses casos em uma levada documental, contudo, vale lembrar que as duas produções sobre o tétrico caso se baseiam apenas no julgamento dos condenados, deixando de lado suposições ou boatos. Ou seja, tudo registrado se baseia na realidade.
Não dá para saber exatamente o que se passa na cabeça das pessoas que não querem que a produção vá para frente”, justifica.
Apesar das polêmicas, o cineasta acredita que casos como esse podem se tornar produções cinematográficas futuras, já que esses crimes ganham uma grande proporção e se tornam assuntos muito recorrentes. “Temos muitos exemplos pelo mundo, desde o Massacre da Serra Elétrica e o Bandido da Luz Vermelha, aos mais ‘polidos’ Zodíaco e Terra de Ninguém”.
“As pessoas gostam desses filmes, simpatizam com muitos dos assassinos, como no caso de Hannibal, que apesar de ser inspirado levemente, ele existiu de verdade. Por isso que existem, se não houvesse a demanda, não teria o produto”, reflete.
Apesar de todo o aparente 'preconceito', Daniel Bydlowski acredita que, com o tempo, temas assim vão se tornando mais aceitos pelo público.
“Creio que muitas pessoas vão ver o filme, assim como compraram os livros sobre o tema. Podem reclamar, mas é arte e ela pode retratar de maneira doce ou cruel tanto a realidade como a fantasia”.
Também vale destacar que, ao contrário do que muito se discutiu na época de seu lançamento, os filmes não tem ligação pessoal com os envolvidos no caso. Por ser baseado em depoimentos, os condenados não receberam dinheiro algum pela produção.
Tudo é uma questão de costume, conforme as produções aparecem, o público se adapta e começa a consumir, é assim com moda, educação e tecnologia”, conclui.
Em entrevista exclusiva ao site do Aventuras na História, em 2021, o diretor Maurício Eça contou sobre a ideia de fazer duas produções distintas e a importância de trazer o assassinato cruel para as telonas.
“Esse crime segue ocupando espaço na mídia e repercutindo há quase 20 anos. Discutir esse assunto e entender de alguma forma como a mente humana se comporta é importante. Assim como debatermos esse fato é fundamental para que ele nunca seja repetido”.
Leia a entrevista completa aqui.