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Matérias / Astronomia

Planeta Azul: os fatos históricos e recentes sobre a Terra

As descobertas científicas discutem sobre o único planeta que abriga a vida

Alberto Delerue Publicado em 17/12/2020, às 17h42

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Representação do Planeta Terra - Imagem de PIRO4D por Pixabay
Representação do Planeta Terra - Imagem de PIRO4D por Pixabay

A Terra é azul, nos contou Yuri Gagarin lá de cima, durante seu histórico voo. Visto do espaço, esse corpo celeste é realmente de uma beleza estonteante — lembra uma gigantesca bola de gude colorida, curiosamente ainda pouco explorada pelo homem: apenas uma estreita faixa de alguns quilômetros acima e abaixo do solo.

 Yuri Gagarin /Crédito - Divulgação

Assim é a Terra, o único planeta conhecido que abriga vida — tal qual temos ciência —, onde a água pode ser encontrada em três estados: sólido, líquido e gasoso. Neste início de um novo milênio, a saúde da Terra não anda lá essas coisas.

Isto devido, sobretudo, à insensatez e aos maus-tratos de seus moradores, autodenominados racionais. Mas ela continua sendo o nosso habitat, único e insubstituível.

Esfera imperfeita

Como a órbita da Terra não é circular, mas elíptica, a distância do Sol varia ao longo de uma revolução em torno da nossa estrela, chegando a um valor médio de 150 milhões de quilômetros e a um movimento de rotação que se efetua em pouco mais de 23 horas e 56 minutos. Em função disso, a forma não é uma esfera perfeita.

Em outras palavras: a rotação terrestre tende a achatar o planeta nos polos, abaulando-o no equador. O resultado é um elipsoide de revolução com achatamento a 1/300 do raio equatorial, cujo valor médio é de 6.378 km, enquanto o do polar é de 6.357 km.

Uma diferença, portanto, de 21 km. Em relação ao equador, nosso globo tampouco apresenta uma simetria: no norte, os continentes ocupam duas vezes mais área do que no sul.

Se a Terra fosse uma esfera perfeita, seu momento de inércia seria bem diferente. Mas não é o caso. Ao contrário, sua densidade interna aumenta da superfície para o centro. Em média, essa densidade é de 5,5 g/cm³ (a maior de todos os planetas do Sistema Solar); na superfície, ela é de 2,8 g/cm³. Eis aí uma prova de que o interior da Terra é realmente bem mais denso.

De acordo com as observações sísmicas, a Terra tem duas espécies de crosta: a oceânica e a continental. A primeira apresenta uma espessura média de 5 km e é composta de rochas basálticas ricas em silício, alumínio, ferro e magnésio. Já a segunda tem uma espessura que varia de 20 a 65 km e é composta — na sua parte superior — de rochas levemente pobres em sílica em relação aos granitos.

Placas tectônicas

Abaixo da crosta fica o manto, que ocupa cerca de 80% do volume da Terra e se estende por 2.900 km de profundidade. Na verdade, não se trata de uma capa homogênea. Podemos dividi-la em duas partes: o manto superior e o inferior.

Entre 160 e 240 km de profundidade, encontra-se a astenosfera, uma espécie de “sopa” grossa, cuja receita seria a fusão parcial das rochas que lá se encontram. Acima dessa camada, temos a litosfera, a parte consolidada da superfície do planeta formada de um mosaico de placas rígidas às demais (num total de 12), de dimensões variadas e que se deslocam umas em relação às outras.

Representação do planeta /Crédito - Imagem de PIRO4D por Pixabay

Nesse lento deslocar-se, carregam consigo o soalho oceânico e as massas continentais. São as chamadas placas tectônicas. Quando duas placas se afastam uma da outra ao longo de uma crista oceânica (montanha), as rochas fundidas do manto tendem a preencher o espaço entre elas, aumentando, assim, o soalho oceânico.

O que pode acontecer a uma dessas placas, à medida que o novo “chão” oceânico, recém-criado, a obriga a deslocar-se? Ao que tudo indica, em algumas áreas a placa em movimento inclina-se para baixo, fundindo-se com o manto. Assim, formam-se as fossas oceânicas e os chamados arcos insulares (cadeias curvilíneas de ilhas).

Em outras áreas, pode acontecer que a extremidade da placa se enrugue, dando origem a imensas cadeias de montanhas. Tais mudanças na superfície da Terra são a prova indiscutível de que o nosso planeta é um mundo geologicamente vivo, em permanente estado de mutação.

Dança dos Continentes

A maior parte dos cientistas que estudam a Terra parece concordar que os continentes se deslocaram por grandes distâncias sobre a superfície do planeta. Isso, num passado geológico bastante recuado. E tudo leva a crer que continuam a se deslocar — é a deriva continental.

Segundo essa teoria, concebida pelo meteorologista alemão Alfred Wegener, em 1912, os continentes já fizeram parte de uma única e imensa massa de terra, a Pangeia, um supercontinente que pode ter existido há cerca de 200 milhões de anos.

A partir daí, a Pangeia começou a se fracionar, dividindo-se em duas grandes massas de terra, denominadas Laurásia ao norte (reagrupando a América do Norte, a Groenlândia, a Europa e a Ásia) e o Gondwana ao sul (reunindo o território da América Latina, a África, a Antártica, a Índia e a Austrália). Essas imensas massas, ao se partirem, teriam dado origem aos continentes, tais como conhecemos atualmente.

Claro que a teoria de Wegener sofreu objeções, sobretudo quando ele procurava defendê-la, afirmando que as bruscas modificações do clima eram causadas justamente pelo deslocamento dos continentes.

Não foram poucos os cientistas e geólogos que, na época, procuraram derrubar a eventualidade da deriva, uma vez que ninguém sabia ou podia explicar como os continentes teriam percorrido distâncias tão grandes.

Ainda na primeira metade do século 20, a ciência conseguiu reunir informações suficientes que sustentavam a teoria da deriva continental.

As evidências mais fortes de conexão entre os continentes são fornecidas pelos paleontólogos a partir das descobertas de fósseis dos mesmos mamíferos terrestres em rochas de mais de 100 milhões de anos, na Ásia e Europa, mas também na América do Norte. Segundo eles, seria muito pouco provável que animais idênticos pudessem se desenvolver em continentes separados por tão grandes distâncias.

O mundo não para

A dança dos continentes, aliás, parece não parar. Seu ritmo varia de 1 cm/ano entre a Antártica e a África, a 18 cm/ano, entre a placa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. A Europa e a América, por exemplo, se afastam em média dois centímetros a cada ano. Qual será a disposição dos continentes daqui a 1 milhão de anos? Uma pergunta irrelevante, é claro, para nós, seres humanos.

Mas vale lembrar que a tectônica de placas está na origem dos terremotos e de nossos vulcões. A Terra, na verdade, encontra-se constantemente sacudida por tremores de todo tipo – alguns assumem proporções realmente catastróficas.

A China parece deter um recorde dramático: os terremotos de 1556 e 1976 fizeram cerca de 1 milhão de vítimas fatais. Historicamente, no entanto, o sismo mais intenso verificado até então foi o de Lisboa, em 1755, que chegou a atingir a magnitude 9 na escala Richter.

Em 2006, os satélites gêmeos Gravity Recovery e Climate Experiment (Grace), da NASA, em órbita desde 2002, detectaram significativas alterações na crosta terrestre, causadas pelo grande maremoto ocorrido em 2004 na Índia.

O tremor, em dezembro daquele ano, registrou magnitude 9,1 e foi o terceiro maior desde o início do século 20 (depois do Chile, 1960, 9,5 e do Alasca, 1964, 9,2), liberando uma incrível quantidade de energia, equivalente a 475 milhões de toneladas de dinamite. Já os tsunamis mataram cerca de 300 mil pessoas e deixaram desabrigadas mais de 1 milhão.

Especialistas admitiram que o fenômeno natural mudara a gravidade naquela região do mundo de duas maneiras: levantou parte do solo marinho e alterou também a densidade abaixo do soalho oceânico, o que, segundo eles, modificou a atração gravitacional da região.

Os vulcões, sua existência e atividade, também se encontram na raiz das falhas e das gigantescas fendas da crosta terrestre. A maioria das nossas montanhas vulcânicas se localiza nas bordas das grandes placas da litosfera. Nos tempos históricos, nada menos de 550 vulcões estiveram em atividade.

Até os dias atuais, já foram registradas mais de 2 mil erupções, a maioria verificada ao longo do “cinturão de fogo do Pacífico”. A mais violenta continua sendo a do Cracatoa, na Indonésia, em 1883.

Centro da Terra

E como seria o coração do nosso planeta? A uma profundidade entre 2.900 e 5.000 km, encontra-se o núcleo externo, formado por uma liga líquida de ferro e níquel. Mais abaixo deste, deve haver um núcleo interno. Se ele realmente existe, sua composição pode ser semelhante ao primeiro.

Lá naquelas regiões profundas, a densidade atinge 15 g/cm³. Chegamos aí ao centro da Terra, onde reina uma pressão equivalente a mais ou menos 3,5 milhões de vezes a pressão atmosférica ao nível do mar. Calcula-se que a temperatura nessas regiões deve oscilar entre 3.500 e 4.000 graus.

A verdade é que o interior da Terra ainda é mal conhecido. Além dos 3.000 metros de profundidade (uma mina na Califórnia, EUA), pouco sabemos a respeito. As perfurações petrolíferas chegam a 7.000 metros, mas as informações são precárias. Somente por intermédio do comportamento das ondas sísmicas — os tremores de terra — é que podemos conjeturar sobre a estrutura interna.

Seu núcleo externo, muito denso, é formado de uma liga de ferro e níquel; o manto, medindo cerca de 2.800 km, é constituído de rochas silicatadas. Por fim, a crosta, de cerca de 200 km de espessura, é a única parte explorada diretamente.

Mudança climática

Afinal, o clima da Terra está mesmo mudando? Nunca se falou tanto sobre esse assunto como nos últimos anos. A resposta tem algo de desconcertante: o clima do nosso planeta sempre esteve em perpétua mudança.

Um exemplo? O clima da América do Norte hoje é muito mais quente do que há 15.000 anos. É que, naquela época, as geleiras cobriam quase toda a região atualmente ocupada pelo Canadá e o norte dos Estados Unidos.

As causas dessa permanente mudança do clima são diversas. Uma delas poderia ser a variação na quantidade de energia enviada pelo Sol. A nossa estrela, embora seja considerada estável, apresenta diferenças de comportamento que influem na quantidade de calor que dela recebemos.

A poeira vulcânica é outro bode expiatório e mais ou menos evidente. Quando um vulcão entra em erupção, volumes imensos dessa poeira são lançados na atmosfera. E lá permanecem meses e até anos, reduzindo a quantidade de luz e calor que atinge o solo. O exemplo mais recente e dramático do fenômeno se deve ao violento despertar do Pinatubo, nas Filipinas, em 1991.

Depois de 600 anos adormecido, o vulcão lançou na atmosfera nada menos de 15 milhões de toneladas de anidrido sulfúrico, formando um gigantesco anel ao redor de todo o planeta. O resultado disto é que o clima da Terra, em especial nas regiões das baixas latitudes, sofreu significativas alterações.

Claro que as mudanças climáticas não são apenas oriundas de causas naturais. De certa maneira, os seres humanos têm um triste papel nessa história. Os ecologistas que o digam.

Ações do homem

Evidências apontam que o aquecimento global, causado pela atividade humana, está contribuindo para um aumento da temperatura na superfície dos oceanos (assim como sua evaporação). O inquietante fenômeno se verifica em todo o mundo (em agosto de 2005, o furacão Katrina deixou um trágico saldo de destruição e morte: a descomunal precipitação despejada sobre Nova Orleans foi atribuída ao aquecimento global).

São dois os fatores que, por exemplo, estão agravando a intensidade dos furacões. É sabido que mesmo um pequeno aumento na temperatura da superfície dos oceanos (o fenômeno El Niño) pode transformar mais perturbações tropicais em furacões. Além de tornar uma tempestade já em andamento mais intensa e causar a sua precipitação.

Em algumas regiões do nosso planeta, os termômetros vêm acusando uma inquietante elevação de temperatura. E não é só isso. Certas áreas se tornaram realmente mais úmidas e outras mais secas, naquele mesmo período.

Os especialistas simplesmente admitem desconhecer as verdadeiras razões dessas variações. Resta-nos, entretanto, um consolo: o enigma de tais mudanças no clima não nos impede de respirarmos livremente na superfície deste planeta, uma atividade impossível ou um ato absolutamente proibido em qualquer outro mundo neste quintal da Via Láctea.