A primeira guerra mundial, que deixou 10 milhões de mortos, foi o resultado de quatro décadas de tensão
Parece difícil entender como o assassinato de um nobre austríaco foi capaz de detonar o maior confronto militar que o mundo tinha visto até então. Entre agosto de 1914 e novembro de 1918, 65 milhões de soldados pegaram em armas, com um saldo de aproximadamente 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos.
Quando acabou a Primeira Guerra Mundial, quatro grandes impérios (o Alemão, o Austro-Húngaro, o Russo e o Turco-Otomano) estavam destruídos. Depois de 1918, o mapa da Europa nunca mais seria o mesmo.
Na verdade, o tiro que acertou a jugular do arquiduque Francisco Ferdinando (1863-1914)foi só o estopim que detonou 40 anos de tensões. Desde 1871, quando os alemães
ocuparam a França, o mundo começou a ficar pequeno para as pretensões territoriais
das grandes potências, que brigavam por terras na Europa e na África.
A situação, que era instável, degringolou de vez quando sérias disputas na região dos Bálcãs jogaram o Império Austro-Húngaro e seus aliados germânicos contra a Rússia e a França.
Parecia impossível solucionar todas as pendências políticas sem pegar em armas. Começava então um conflito que os analistas da época chamavam, com otimismo, de “a
guerra para acabar com todas as guerras”.
Liderados por Otto von Bismarck (1815-1898), os estados germânicos vencem a França. A Guerra Franco-Prussiana provoca a unificação do Império Alemão, também chamado de Segundo Reich. O acordo de rendição tira dos franceses os territórios da Alsácia e da Lorena.
O Império Austro-Húngaro, fundado em 1867 graças a um acordo entre as nobrezas austríaca e húngara, faz uma aliança com o Império Alemão. O acordo prevê ajuda militar mútua caso um dos dois países fosse atacado pela Rússia. Em 1882, a Itália se junta
aos dois países e forma a Tríplice Aliança.
O governo russo deixa de renovar um acordo com a Alemanha, que previa que os dois países não entrariam em guerra. Em 17 de agosto de 1892, Rússia e França assinam um acordo de defesa mútua contra a Tríplice Aliança.
O marechal germânico Alfred von Schlieffen (1833- 1913) cria um plano detalhado de ataque militar. Ele prevê que a Alemanha declare guerra primeiro, e que rapidamente ocupe a Bélgica e depois a França, tudo isso antes que a Rússia se organizasse e abrisse uma segunda frente de batalha. Em 1914, a programação seria cumprida à risca.
A França elege Raymond Poincaré (1860-1934) para presidente. Dotado de inflamada retórica antialemã, ele repete em seus discursos que a Alsácia e a Lorena precisam ser recuperadas. Poincaré cria o Plano XVII, a versão francesa do Plano Schlieffen.
Em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph, o kaiser Guilherme II diz que é um “amigo da Inglaterra”. Mas também afirma que os ingleses são “loucos, loucos, loucos como lebres em março”. A frase repercutiu mal entre os líderes da Inglaterra.
Um dia após a Bulgária declarar independência, o Império Austro-Húngaro anuncia
a anexação da vizinha Bósnia. As relações com a Sérvia se tornam tensas. A situação
se agrava na medida em que a Rússia se aproxima dos sérvios.
Em março de 1905, o kaiser Guilherme II (1859-1941), que havia se tornado imperador
alemão em 1888, oferece a Marrocos ajuda contra a França. Seu objetivo era pressionar a Inglaterra a se afastar da influência de Paris e de Moscou. Mas o resultado é o oposto, e o Reino Unido se une à França e à Rússia para formar a Tríplice Entente.
A Inglaterra lança ao mar o HMS Dreadnought, um navio tão poderoso que, depois dele, embarcações militares são classificadas em “pré-dreadnought” ou “pós-dreadnought”.
Termina a Segunda Guerra Balcânica, em que Sérvia, Grécia e Romênia lutaram contra a Bulgária por causa da divisão do território que os quatro países haviam conquistado na Macedônia. O conflito transforma o pequeno reino da Sérvia em uma potência local.
Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, é morto em Sarajevo por conspiradores sérvios. Um mês depois, o Império invade a Sérvia. Seguem-se várias declarações de guerra, até que, em 6 de agosto, o continente inteiro está envolvido.
Estão abertas as portas do inferno.