O vestuário usado no Brasil durante o período de conflito no continente europeu se beneficiou das mudanças comportamentais exigidas nos países envolvidos
A Primeira Guerra Mundial, que foi de julho de 1914 a novembro de 1918, transformou o cenário político, social e econômico mundiais. As consequências do conflito foram sentidas no Ocidente inteiro e um dos desdobramentos marcantes foi na maneira das pessoas se vestirem.
Por um lado, havia falta de tecidos e a necessidade de potencializar todo e qualquer recurso em um esforço direcionado à guerra. Por outro lado, não fazia mais sentido que a sociedade – principalmente a ala feminina - continuasse a se vestir com tanta formalidade e uma estética que valorizava demais os enfeites.
Todos os exageros se tornaram questionáveis num momento em que o cidadão - de cada país participante da guerra - lutava por sua nação e, acima de tudo, por sua sobrevivência naqueles tempos de severas restrições.
De um momento para o outro as mulheres precisaram tomar os lugares dos homens, desempenhando funções que nunca haviam realizado, enquanto eles estavam em combate.
Posições estratégicas nas linhas de montagem de indústrias foram sendo oferecidas a uma classe até então resguardada, que não detinha mais o capricho de apenas cuidar de si, dos filhos e da casa.
Esse novo mercado de trabalho, que era necessário para a manutenção da guerra, giro da economia e principalmente para o sustento de suas famílias, foi um dos fortes motivos para a transformação radical na moda feminina.
Estava fora de questão andar nos chãos descuidados das fábricas sujando as caudas dos vestidos cheios de babados, além de suas duas ou três saias internas (que proporcionavam o antigo e cultuado volume extra do início do século 20).
Também não era de bom senso trabalhar com espartilhos apertados que, para afinar as cinturas, provocavam falta de ar e mal-estar. Os tempos eram outros e o vestuário foi rapidamente adaptado. Saias mais curtas e camisas usadas separadamente, soltinhas por cima, se tornaram um traje comum. Os cortes das roupas foram ficando um pouco mais retos e lisos, sem detalhes em demasia.
Chapéus se simplificaram, e o uso de sombrinhas - para proteger do sol a pele das moças mais refinadas - foi aos poucos sendo repensado. Até um item do vestuário masculino e que pouco trazia feminilidade, começou a ser usado pelas mulheres trabalhadoras para protegê-las durante atividades mais pesadas: o macacão.
Além de ser funcional, vestia todos os tipos de corpos e, se neste primeiro momento a peça era considerada utilitária, algumas décadas depois começou a trazer informação de moda e virou hit – na Europa, Estados Unidos e, claro, Brasil.
Outra peça que ganha destaque durante a guerra é a capa de chuva feita em gabardine como uniforme para os militares britânicos: o trench-coat, cujo nome original significa “casaco para as trincheiras”.
Resistente, cheio de bolsos para carregar munição e abas para resguardar do vento, foi criado pelo estilista Thomas Burberry e se torna um clássico do guarda-roupa de homens e mulheres com o passar do tempo.
Todas essas novidades nas vestimentas que despontaram no período de austeridade da guerra, foram aos poucos sendo absorvidas de maneira mais ampla e se transformando em moda.
Afinal, da necessidade e da limitação surgem novas ideias e possibilidades, e fica claro que a criatividade para ultrapassar obstáculos durante os anos de combate foi imprescindível para a evolução da sociedade e a transformação da moda.
O Brasil, separado do continente europeu apenas por um oceano, o Atlântico, importou e absorveu todas as mudanças rapidamente, o que beneficiou enormemente a nossa sociedade baseada nos trópicos, uma vez que as roupas se tornaram menos pesadas e mais práticas.
Saiba mais na série “A Moda no Brasil: o Período da Primeira Guerra” no podcast a seguir, roteirizado e narrado por mim.