Mais lidas do ano: Entenda que diferenças separam as duas ideologias
Muitos autores compararam os governos nazistas e comunistas observados no mundo a fim de entender o que eles tinham em comum. Durante essas análises, desenvolvidas principalmente ao longo do século 20, os especialistas chegaram a algumas conclusões interessantes.
Ambos os Estados da Alemanha Nazista e da União Soviética contavam com sistemas totalitaristas, uma ideologia forte e culto à personalidade do líder. As políticas dos dois também contrastavam com o Ocidente liberal, como ressalta o portal UOL.
Ainda assim, bastava observar um pouco mais a fundo nos objetivos das ideologias para entender que elas eram profundamente diferentes. Enquanto o nazismo tinha como princípio estabelecer uma “raça superior”, o comunismo quer simplesmente uma sociedade sem classes e a exploração dos trabalhadores.
"O nazismo promove coisas que são consideradas crime na nossa sociedade. Promove xenofobia, homofobia, racismo. E aquilo que é crime não pode ser institucionalizado, não pode virar partido. É diferente de comunismo, que quer promover igualdade, extinção de classes sociais", explicou Ana Hutz, professora de história da PUC-SP em entrevista ao UOL.
O nazismo é bem conhecido, assim como seus princípios. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha comandada por Adolf Hitler foi responsável pela morte de milhões de judeus durante o Holocausto, mas também de pessoas que não estavam incluídas no parâmetro da “raça ariana” estabelecida pelo Partido Nazista.
A organização defendia a superioridade ariana a partir da exterminação de indivíduos que não se encaixassem, sendo estes os judeus, negros, homossexuais, ciganos, comunistas, entre muitos outros.
Por isso, a ideologia ficou marcada pelos ideais antissemitas, a partir do extermínio principalmente do povo judeu, cujos reflexos são observados até os dias de hoje. Hitler queria erguer uma Alemanha sob uma raça que considerava superior intelectual e fisicamente, a mais pura da Europa. Era uma ideologia racista.
O comunismo não parte de nenhum pressuposto de raças: ele não conta com plano de extermínio de etnias para ser posto em prática. É importante ressaltar, ainda, que o comunismo nunca chegou a ser implementado de fato. O que vimos no mundo pode ser considerado apenas socialismo.
"O sonho do movimento comunista — pode ser um sonho equivocado, criticado — é a criação de uma sociedade sem classes. O sonho do nazista é uma sociedade onde só exista o modelo do nazista, onde não há raça alguma a não ser a ariana, onde só o nazista existe", disse ao veículo Michel Gherman, professor de História da UFRJ e assessor do Instituto Brasil-Israel.
Socialismo e comunismo representam fases diferentes do que pensava Karl Marx, mesmo que muitas vezes sejam tratados como sinônimos. O socialismo é, resumindo, uma etapa para chegar ao comunismo.
Nele, ainda há um Estado, mas que é controlado pelos trabalhadores, enquanto, no comunismo, esse tipo de organização já se definhou e não existe mais. Assim como a propriedade privada, a sociedade de classes também não vê mais razão para existir.
No entanto, os dois pensamentos carregam consigo pressupostos semelhantes, visto que um é uma etapa para chegar no segundo, posto como uma sociedade pós-capitalista. Tanto no socialismo quanto no comunismo, a ideia é estabelecer um país igualitário, em que todos teriam acesso a recursos.
Não há a defesa de nenhum grupo específico, somente o de todos os trabalhadores, diferente do nazismo, em que uma elite específica, a da “raça superior” poderia exercer todo o poder possível — inclusive o de exterminar milhões de pessoas, como já observamos no passado.
Embora muitos tentem justificar a comparação tendo como base as mortes promovidas pelo regime stalinista, é preciso entender que o nazismo foi um projeto de extermínio.
"O stalinismo foi um desvio de um projeto socialista, que tinha como objetivo a criação de uma sociedade igualitária. O nazismo não foi um desvio de um projeto com algum sentido humanista. O nazismo foi um projeto de extermínio", explicou Michel ao UOL.
O historiador também relembra que existe história no comunismo antes de Stalin.
"Se você tirar o Stalin da história do comunismo, a história do comunismo, de cerca de 100 anos antes, continua existindo. Se você tirar Hitler da história do nazismo, não há história do nazismo", disse.