Sacheen Littlefeather recusou o prêmio pelo ator, que havia ganhado por "O Poderoso Chefão", discursando e sendo vaiada na premiação de 1973
Eduardo Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/03/2023, às 09h00 - Atualizado em 10/03/2024, às 11h04
A 45ª edição do Oscar, o maior prêmio da indústria do cinema, aconteceu em 1973. A cerimônia já teria tudo para ser histórica pela vitória de "O Poderoso Chefão", filme até hoje tido como um dos melhores de todos os tempos. O evento foi ainda mais impactante pelo discurso de Marlon Brando ao ganhar o prêmio de Melhor Ator pela sua performance na obra vencedora da noite como o chefe da máfia Vito Corleone.
O ator recusou o prêmio, que já havia vencido em 1955 pelo filme "Sindicato de Ladrões". Sua recusa foi uma maneira de protestar a deturpação que a indústria cinematográfica de Hollywood fez dos povos nativos americanos. Para isso, ele enviou a atriz indígena Sacheen Littlefeather para discursar em seu lugar.
A atriz, que tinha 26 anos, subiu ao palco para recusar o prêmio, apresentado pelos atores Roger Moore e Liv Ullman, em nome de Brando. O ator havia preparado um longo discurso, que ela não conseguiu ler por conta do tempo. Quando anunciou a recusa de Marlon e o motivo dado, Littlefeather recebeu vaias, que depois tiveram de competir com os aplausos de outros espectadores.
O Oscar de 1973 foi assistido por 85 milhões de pessoas, que viram a fala histórica de Sacheen Littlefeather. No discurso, onde a atriz afirmou que Brando "lamentavelmente não podia aceitar este prêmio tão generoso", ela fez referência ao conflito violento de Wounded Knee, entre agentes federais do governo dos EUA e o povo Sioux, do estado da Dakota do Sul, episódio recente na época.
A fala da atriz indígena foi o primeiro discurso abertamente político transmitido no Oscar. Ela precisou sair do palco escoltada por dois seguranças.
Após esse acontecimento, Sacheen Littlefeather foi ignorada pela indústria do cinema e, segundo a BBC, foi alvo de gestos humilhantes para os nativos americanos, como o "tomahawk chop", durante a premiação, e sofreu com notícias falsas, questionando sua etnia e alegando que ela era amante de Brando, o que a atriz negou.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas pediu desculpas a Sacheen Littlefeather numa carta divulgada em agosto de 2022, quase 50 anos depois do incidente na premiação, dizendo que os abusos que a atriz sofreu foram "injustificados".
David Rubin, que é ex-presidente da Academia, enviou uma carta a Littlefeather, divulgada em agosto de 2022, onde escreveu que o discurso dado pela atriz "continua a nos lembrar da necessidade do respeito e da importância da dignidade humana".
Sobre o pedido de desculpas, Littlefeather disse ao Hollywood Reporter que nunca pensou "que viveria para ver o dia em que ouviria isso".
"Nós, indígenas, somos pessoas muito pacientes — foram apenas 50 anos [esperando pelo pedido de desculpas]!"
Sacheen Littlefeatherfaleceu pouco tempo depois, no dia 2 de outubro de 2022, aos 75 anos. Assista ao discurso de Sacheen no Oscar de 1973, que hoje está disponível na internet: