Longo e valioso projeto de restauração confirmou que a moça na obra de arte do pintor holandês Johannes Vermeer nunca esteve sozinha
Escondido por séculos sob grossas camadas de tinta, o retrato de um cupido nu exposto em segundo plano na pintura "Moça Lendo uma Carta à Janela", de Johannes Vermeer
(1632-1675), foi finalmente revelado por completo.
Antes do anúncio, feito pela Gemäldegalerie Alte Meister (Galeria de Pinturas dos Mestres Antigos), de Dresden, na Alemanha, em agosto deste ano, a parede pintada era totalmente branca.
A mudança drástica na composição é tão grande, que os especialistas do museu alemão, responsável pela obra há mais de 250 anos, já até apelidaram-na como o “novo Vermeer”. Para o diretor do lugar, Stephan Koja, a descoberta faz com que seja uma pintura diferente.
“Com a recuperação do cupido, a real intenção do pintor pode agora ser reconhecida”, afirma, transformando seu ponto de vista. “Trata-se de uma declaração fundamental sobre a natureza do amor verdadeiro”, descreve.
Segundo ele, enquanto a versão anterior à restauração exibia a figura solene de uma menina lendo uma carta, o acréscimo da figura — cuja simbologia remete ao deus do amor provido de arco e flechas para acertar corações — muda o
tom, trazendo à obra original uma história muito mais romântica.
As primeiras análises do processo de restauração foram realizadas em 1979, quando ainda se acreditava que o próprio Vermeer havia escondido a pintura dentro da pintura. Em 2019, porém, novas tecnologias mostraram que a cobertura foi feita décadas depois da morte do pintor.
A obra foi atribuída a Rembrandt e depois a Pieter de Hooch por anos, e só apenas em 1880, com a avaliação do crítico francês Théophile Thoré-Bürger, foi rotulada como um Vermeer. Na Segunda Guerra Mundial, os soviéticos a transferiram para a URSS, devolvendo-a a Dresden após o fim de Stalin.